FERNANDO PESSOA - POETA
Fernando
Antônio Nogueira Pessoa nasceu em Lisboa, 13 de junho de 1888 foi um poeta,
filósofo, dramaturgo, ensaísta, tradutor, publicitário, astrólogo, inventor,
empresário, correspondente comercial, crítico literário e comentarista político
português.
Fernando
Pessoa foi um dos mais importantes poetas da língua portuguesa e figura central
do Modernismo português. Poeta lírico e nacionalista cultivou uma poesia
voltada aos temas tradicionais de Portugal e ao seu lirismo saudosista, que
expressa reflexões sobre seu “eu profundo”,
suas inquietações, sua solidão e seu tédio.
Fernando
Pessoa é o mais universal poeta português. Por ter sido educado na África do
Sul, numa escola católica irlandesa, chegou a ter maior familiaridade com o
idioma inglês do que com o português ao escrever os seus primeiros poemas nesse
idioma. O crítico literário Harold Bloom considerou Pessoa como "Whitman
renascido", e o incluiu no seu cânone entre os 26 melhores escritores da
civilização ocidental, não apenas da literatura portuguesa, mas também da
inglesa.
Em
13 de Junho de 1888, pelas 15h20min, nasceu Fernando Pessoa. O parto ocorreu no
quarto andar direito do n.º 4 do Largo de São Carlos, em frente à ópera de
Lisboa (Teatro de São Carlos), freguesia dos Mártires. De famílias da pequena
aristocracia, pelos lados paterno e materno, o pai, Joaquim de Seabra Pessoa,
natural de Lisboa, era funcionário público do Ministério da Justiça e crítico
musical do «Diário de Notícias». A mãe, D. Maria Magdalena Pinheiro Nogueira
Pessoa, era natural dos Açores (mais propriamente, da Ilha Terceira). Viviam
com eles a avó Dionísia, doente mental, e duas criadas velhas, Joana e Emília.
O
poeta, pelo lado paterno, tem as suas raízes familiares no conselho de Arouca,
nas freguesias do denominado «Fundo do Concelho» de Arouca.
Fernando
António foi batizado em 21 de Julho na Basílica dos Mártires, ao Chiado, tendo
por padrinhos a Tia Anica (D. Ana Luísa Pinheiro Nogueira, tia materna) e o
General Chaby. A escolha do nome homenageia Santo António: a família reclamava
uma ligação genealógica com Fernando de Bulhões, nome de batismo de Santo
António, tradicionalmente festejado em Lisboa a 13 de Junho, dia em que
Fernando Pessoa nasceu.
A
sua infância e adolescência foram marcadas por fato que o influenciariam
posteriormente. Às cinco horas da manhã de 13 de Julho de 1893, o pai morreu,
com 43 anos, vítima de tuberculose. A morte foi anunciada no Diário de Notícias
do dia. Fernando tinha apenas cinco anos. O irmão Jorge viria a falecer no ano
seguinte, sem completar um ano, a 2 de Janeiro de 1894.[3] A mãe vê-se obrigada
a leiloar parte da mobília e muda-se para uma casa mais modesta, o terceiro
andar do n.º 104 da Rua de São Marçal. Foi também neste período que surgiu o
primeiro heterônimo de Fernando Pessoa, Chevalier de Pas, fato relatado pelo
próprio a Adolfo Casais Monteiro, numa carta de 1935, em que fala extensamente
sobre a origem dos heterônimos. Ainda no mesmo ano, escreve o primeiro poema,
um verso curto com a infantil epígrafe de À Minha Querida Mamã.
Em
Outubro de 1894, o comandante João Miguel Rosa (1857-1919) apaixona-se por
Maria Madalena ao vê-la passar dentro de um "americano", numa Rua de Lisboa, comentando para um amigo: «Vês
aquela loira? Se não quiser, não me caso com ela.» Em breve lhe fazia a corte e
se tornavam noivos. Destacado o noivo como cônsul português em Durban, África
do Sul, casam-se por procuração a 30 de Dezembro de 1895, na Igreja de São
Mamede, em Lisboa.
Das
quatro obras que publicou em vida, três são na língua inglesa. Fernando Pessoa
traduziu várias obras em inglês (e.g., de Shakespeare e Edgar Allan Poe) para o
português, e obras portuguesas (nomeadamente de António Botto e Almada
Negreiros) para o inglês.
Enquanto
poeta, escreveu sobre diversas personalidades – heterônimas, como Ricardo Reis,
Álvaro de Campos e Alberto Caeiro –, sendo este último objeto da maior parte
dos estudos sobre a sua vida e obra. Robert Hass, poeta americano, diz:
"outros modernistas como Yeats, Pound, Elliot inventaram máscaras pelas quais
falavam ocasionalmente... Pessoa inventava poetas inteiros."
Em
1901, Fernando Pessoa escreveu seus primeiros poemas em inglês. Em 1902 a
família voltou para Lisboa. Em 1903 Fernando Pessoa retornou sozinho para a
África do Sul e frequentou a Universidade de Capetown (Cabo da Boa Esperança).
Regressou a Lisboa em 1905 e matriculou-se na Faculdade de Letras, onde cursou
Filosofia. Em 1907 abandonou o curso. Em 1912 estreou como crítico literário na
revista “Águia”.
Fernando
Pessoa foi vários poetas ao mesmo tempo. Tendo sido "plural" como se
definiu, criou personalidades próprias para os vários poetas que conviveram
nele. Cada um tem sua biografia e traços diferentes de personalidade. Os poetas
não são pseudônimos e sim heterônimos, isto é, indivíduos diferentes, cada qual
com seu mundo próprio, representando o que angustiava ou encantava seu autor.
Principais
heterônimos de Fernando Pessoa:
•Alberto
Caeiro nasceu em Lisboa, em 16 de abril de 1889. Órfão de pai e mãe, só teve
instrução primária e viveu quase toda a vida no campo, sob a proteção de uma
tia. Poeta de contato com a natureza, extraindo dela os valores ingênuos com os
quais alimenta a alma. Para Caeiro, “tudo é como é”, “tudo é assim como é
assim”, o poeta reduz tudo à objetividade, sem a mediação do pensamento. O
poema “O Guardador de Rebanhos” mostra a forma simples e natural de sentir e
dizer desse poeta. Alberto Caeiro morreu tuberculoso, 1915.
•Ricardo
Reis nasceu na cidade do Porto, Portugal, no dia 19 de setembro de 1887. Teve
formação em escola de jesuítas e estudou medicina. Monarquista, exilou-se no
Brasil, por não concordar com a Proclamação da República Portuguesa. Foi
profundo admirador da cultura clássica, tendo estudado latim, grego e
mitologia. A obra de Reis é a ode clássica, cheia de princípios aristocráticos.
•Álvaro
de Campos nasceu no extremo sul de Portugal, em Tavira, em 15 de outubro de
1890. É o poeta moderno, aquele que vive as ideologias do século XX. Estudou
Engenharia Naval, na Escócia, mas não podia suportar viver confinado em
escritórios. De temperamento rebelde e agressivo, seus versos reproduzem a
revolta e o inconformismo, manifestados através de uma verdadeira revolução
poética. Escreveu “Ode Triunfal”, “Ode Marítima” e “Tabacaria”.
•Bernardo
Soares é um dos heterônimos que o próprio Fernando Pessoa definiu como sendo um
“semi-heterônimo”. É o autor do Livro Desassossego.
Juventude
em Durban
Em
20 de Janeiro de 1896, mãe e filho, acompanhados por um tio, Manuel Gualdino da
Cunha, partem rumo à Madeira, e a 31 embarcam para Durban. Faz a instrução
primária na escola de freiras irlandesas da West Street, onde fez a primeira
comunhão, e percorre em dois anos o equivalente a quatro.
Em
1899 ingressa no Liceu de Durban, onde permanecerá durante três anos e será um
dos primeiros alunos da turma. No mesmo ano, cria o pseudônimo Alexander
Search, através do qual envia cartas a si mesmo. No ano de 1901, é aprovado com
distinção no primeiro exame Cape School High Examination e escreve os primeiros
poemas em inglês. Na mesma altura, morre sua irmã Madalena Henriqueta, de dois
anos. Em 1901 parte com a família para Portugal, para um ano de férias. No navio
em que viaja, o paquete König, vem o corpo da irmã. Em Lisboa, mora com a
família em Pedrouços e depois na Avenida de D. Carlos I, n.º 109, 3.º Esquerdo.
Na capital portuguesa, nasce João Maria, quarto filho do segundo casamento da
mãe de Pessoa. Viaja com a sua família à Ilha Terceira, nos Açores, onde vive a
família materna. Deslocam-se também a Tavira para visitar os parentes paternos.
Nessa época, escreve o poema "Quando ela passa".
Tendo
de dividir a atenção da mãe com os filhos do casamento e com o padrasto, Pessoa
isola-se, o que lhe propicia momentos de reflexão.
Tendo
recebido uma educação britânica, que lhe proporcionou um profundo contacto com
a língua inglesa, os seus primeiros textos e estudos foram em inglês. Mantém
contacto com a literatura inglesa através de autores como Shakespeare, Edgar
Allan Poe, John Milton, Lord Byron, John Keats, Percy Shelley, Alfred Tennyson,
entre outros. O Inglês teve grande destaque na sua vida, trabalhando com o
idioma quando, mais tarde, se torna correspondente comercial em Lisboa, além de
utilizá-lo em alguns dos seus textos e traduzir trabalhos de poetas ingleses,
como "O Corvo" e "Annabel Lee" de Edgar Allan Poe. Com exceção
de Mensagem, os únicos livros publicados em vida são os das coletâneas dos seus
poemas ingleses: Antinous e 35 Sonnets e English Poems I - II e III, editados
em Lisboa, em 1918 e 1921.
Fernando
Pessoa permanece em Lisboa, enquanto todos seus familiares — mãe, padrasto,
irmãos e criada Paciência, que vieram com ele — regressam a Durban. Volta
sozinho para África no vapor Herzog. Matricula-se na Durban Commercial School,
escola comercial de ensino noturno, enquanto de dia estuda as disciplinas
humanísticas para entrar na universidade. Nesse período, tenta escrever contos
em inglês, alguns dos quais com o pseudônimo de David Merrick, que deixa
inacabados. Em 1903, candidata-se à Universidade do Cabo da Boa Esperança. Na
prova de exame de admissão, não obtém boa classificação, mas tira a melhor nota
entre os 899 candidatos no ensaio de estilo inglês. Recebe por isso o Queen
Victoria Memorial Prize («Premio Rainha Vitória»). Um ano depois, ingressa
novamente na Durban High School, onde frequenta o equivalente a um primeiro ano
universitário. Aprofunda a sua cultura, lendo clássicos ingleses e latinos.
Escreve poesia e prosa em inglês, surgindo os heterônimos Charles Robert Anon e
H. M. F. Lecher. Nasce a sua irmã Maria Clara. Publica no jornal do liceu um
ensaio crítico intitulado "Macaulay". Por fim, encerra os seus
bem-sucedidos estudos na África do Sul com o Intermediate Examination in Arts,
na Universidade, obtendo uma boa classificação.
Regresso
definitivo a Portugal e início de carreira
Deixando
a família em Durban, regressa definitivamente à capital portuguesa, sozinho, em
1905. Passa a viver com a avó Dionísia e as duas tias na Rua da Bela Vista, n.º
17. A mãe e o padrasto regressam também a Lisboa, durante um período de férias
de um ano em que Pessoa volta a morar com eles. Continua a produção de poemas
em inglês e, em 1906, matricula-se no Curso Superior de Letras (atual Faculdade
de Letras da Universidade de Lisboa), que abandona sem sequer completar o
primeiro ano. É nesta época que entra em contacto com importantes escritores
portugueses. Interessa-se pela obra de Cesário Verde e pelos sermões do Padre
António Vieira.
Em
Agosto de 1907, morre a sua avó Dionísia, deixando-lhe uma pequena herança, com
a qual monta uma pequena tipografia, na Rua da Conceição da Glória, 38-4.º, sob
o nome de «Empreza Ibis — Typographica e Editora — Officinas a Vapor», que
rapidamente vai à falência. A partir de 1908, aluga o seu primeiro quarto no
Largo do Carmo 18, 1º Esqº, dedica-se à tradução de correspondência comercial,
uma ocupação a que poderíamos dar o nome de "correspondente
estrangeiro". Nessa atividade trabalha a vida toda, tendo uma modesta vida
pública.
Inicia
a sua atividade de ensaísta e crítico literário com o artigo «A Nova Poesia
Portuguesa Sociologicamente Considerada», a que se seguiriam «Reincidindo…» e
«A Nova Poesia Portuguesa no Seu Aspecto Psicológico» publicados em 1912 pela
revista A Águia, órgão da Renascença Portuguesa. Frequenta a tertúlia literária
que se formou em torno do seu tio adotivo, o poeta, general aposentado Henrique
Rosa, no Café A Brasileira, no Largo do Chiado em Lisboa. Mais tarde, já nos
anos vinte, o seu café preferido seria o Martinho da Arcada, na Praça do
Comércio, onde escrevia e se encontrava com amigos e escritores.
Em
1915 participou na revista literária Orpheu, a qual lançou o movimento
modernista em Portugal, causando algum escândalo e muita controvérsia. Esta
revista publicou apenas dois números, nos quais Pessoa publicou em seu nome,
bem como com o heterônimo Álvaro de Campos. No segundo número da Orpheu, Pessoa
assume a direção da revista, juntamente com Mário de Sá-Carneiro.
Em
Outubro de 1924, juntamente com o artista plástico Ruy Vaz, Fernando Pessoa
lançou a revista Athena, na qual fixou o «drama em gente» dos seus heterônimos,
publicando poesias de Ricardo Reis, Álvaro de Campos e Alberto Caeiro, bem Fernando
Pessoa.
No
número três da revista Sudoeste: cadernos de Almada Negreiros de Novembro de
1935 (mês da sua morte) encontra-se um breve artigo da sua autoria intitulado
"Nós os de Orpheu" e o poema "Conselho".
Morte
Fernando
Pessoa foi internado no dia 29 de Novembro de 1935, no Hospital de São Luís dos
Franceses, em Lisboa, com diagnóstico de "cólica hepática" causada
por cálculo biliar associado à cirrose hepática diagnóstica que é hoje
contestado por estudos médicos, embora o excessivo consumo de álcool ao longo
da sua vida seja consensualmente considerado como um importante fator causal. Segundo
um desses estudos, Pessoa não revelava alguns dos sintomas mais típicos de
cirrose hepática, tendo provavelmente sido vítima de uma pancreatite aguda.
Faleceu
em Lisboa, Portugal, no dia 30 de novembro de 1935. pelas 20h, com 47 anos de
idade. No dia anterior, tinha escrito a sua última frase, em inglês: "I know not what tomorrow will bring"
("Não sei o que o amanhã trará"). O funeral realizou-se a 2 de
Dezembro no Cemitério dos Prazeres.
Legado
Espólio
de Pessoa: a célebre arca, com mais de 25.000 páginas, e a sua biblioteca
pessoal.
Pode-se
dizer que a vida do poeta foi dedicada a criar e que, de tanto criar, criou
outras vidas através dos seus heterônimos, o que foi a sua principal
característica e motivo de interesse pela sua pessoa, aparentemente muito
pacata. Alguns críticos questionam se Pessoa realmente teria transparecido o
seu verdadeiro eu ou se tudo não teria passado de um produto, entre tantos, da
sua vasta criação. Ao tratar de temas subjetivos e usar a heteronímia, torna-se
enigmático ao extremo. Este fato é o que move grande parte das buscas para
estudar a sua obra. O poeta e crítico brasileiro Frederico Barbosa declara que
Fernando Pessoa foi "o enigma em pessoa". Escreveu sempre, desde o
primeiro poema aos sete anos, até ao leito de morte. Importava-se com a
intelectualidade do homem, e pode-se dizer que a sua vida foi uma constante
divulgação da língua portuguesa: nas próprias palavras do heterônimo Bernardo
Soares, "a minha pátria (sic) é a língua portuguesa". O mesmo empenho
é patente nesta carta:
OBRAS
Obras
Publicadas em Vida
•35 Sonnets, 1918
•Antinous, 1918
•English Poems, I, II e III, 1921
•Mensagem, 1934
Obras
Póstumas
•Poesias de Fernando Pessoa, 1942
•Poesias de Álvaro de
Campos, 1944
•A Nova Poesia
Portuguesa, 1944
•Poesias de Alberto
Caeiro, 1946
•Odes de Ricardo
Reis, 1946
•Poemas Dramáticos,
1952
•Poesias Inéditas I e
II, 1955 e 1956
•Textos Filosóficos,
2 v, 1968
•Novas Poesias
Inéditas, 1973
•Poemas Ingleses
Publicados por Fernando Pessoa, 1974
•Cartas de Amor de
Fernando Pessoa, 1978
•Sobre Portugal, 1979
•Textos de Crítica e
de Intervenção, 1980
•Carta de Fernando
Pessoa a João Gaspar Simões, 1982
•Cartas de Fernando
Pessoa a Armando Cortes Rodrigues, 1985
•Obra Poética de
Fernando Pessoa, 1986
•O Guardador de Rebanhos
de Alberto Caeiro, 1986
•Primeiro Fausto,
1986
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