1 de dezembro de 2016

ORIDES FONTELA PARA SEMPRE. HOMENAGEM DO FOCUS PORTAL CULTURAL.

 
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ORIDES FONTELA
 
 


 

Orides de Lourdes Teixeira Fontela nasceu em São João da Boa Vista em 1940, foi uma poeta brasileira de tendência contemporânea.

Começa a escrever em 1946, após ser educada por sua mãe. Em 1955, cursa a Escola Normal de São João da Boa Vista. Seus primeiros versos são publicados em 1956 no jornal “O Município” daquela cidade. Em 1967, vai para São Paulo (SP), onde ingressa no curso de Filosofia da Universidade de São Paulo – USP, formando-se em 1972. Trabalha como professora primária e bibliotecária em várias escolas da rede de ensino São Paulo.

Publicou trabalhos no O Município, periódico de sua terra natal e no Suplemento Literário do jornal O Estado de S. Paulo. Formada pelo curso de Filosofia da Universidade de São Paulo. Foi premiada com o Jabuti de Poesia, em 1983, em função ao livro Alba, recebeu também o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte, pelo livro Teia, em 1996. Em 2007 o Ministério da Cultura homenageou-a com a Ordem do Mérito Cultural, categoria Grã-Cruz. Maria Helena Teixeira de Oliveira, prima da poetisa foi quem recebeu a condecoração. A cerimônia aconteceu no Palácio das Artes, na cidade de Belo Horizonte. Faleceu 2 de novembro de 1998 em Campos do Jordão.

 

OBRAS PUBLICADAS

Transposição, 1969,

Helianto, 1973,

Alba, 1983,

Rosácea, 1986,

Trevo, 1988.  

 

POEMAS

 

 
 
 
 
 
 
 
 
DESAFIO
Contra as flores que vivo
contra os limites
contra a aparência a atenção pura
constrói um campo sem mais jardim
que a essência.
 
AURORA III
Instaura-se a forma
num só ato
a luz da forma é um único
ápice
o fruto é uma única forma
instaurada plenamente
(o amor é unicamente
quando in-forma)
 
... mas custa o Sol a atravessar o deserto
    mas custa a amadurecer a luz
    mas custa o sangue a pressentir o horizonte
 
VIGÍLIA
Momento  pleno:
pássaro vivo
atento a.
Tenso no
            instante— imóvel voo —
plena presença
pássaro e
            signo.
(atenção brancaaberta  e
            vívida).
Pássaro imóvel.
Pássaro vivo
atento
a.
 
INICIAÇÃO
Se vens a uma terra estranhacurva-te 
se este lugar é esquisito
curva-te
se o dia é todo estranheza
submete-te
— és infinitamente mais estranho.
 

 
Cansa-me. A chaga inumerável
de mim cintila, sem palavras, úmida
fonte rubra do ser, e tédio
de prosseguir, inabitada, viva.
Prosseguir. Ai, presença ignorada
do ser em mim, segredo e contingência,
espelho, cristal raso, submerso
na eternidade do existir, tranquilo.
 
Cansa-me ser. Ai chaga e antigo sonho
de áureas transmutações e vidas outras
além de mim, além de uma outra vida!
Mas amolda-me o ser. Prende-me a essência
(raiz profunda e vera) a imutável
condição de ser fonte e ser ferida...
 

 
FALA
 
Tudo
será difícil de dizer:
a palavra real
nunca é suave.
 
Tudo será duro:
luz impiedosa
excessiva vivência
consciência demais do ser.
 
Tudo será
capaz de ferir. Será
agressivamente real.
Tão real que nos despedaça.
 
Não há piedade nos signos
e nem o amor: o ser
é excessivamente lúcido
e a palavra é densa e nos fere.
 
(Toda palavra é crueldade.)
 
 
                    
 

 
FONTELA, Orides.  Teia: poemas.  São Paulo: Geração Editorial, 1996.  82 p.  16x223 cm.  Capa: Susana Kacowicz.   Col. A.M.
 
 
 


KAIRÓS

Quando pousa
o pássaro

quando acorda
o espelho

quando amadurece
a hora.
 
 
ADIVINHA

O que é impalpável
mas
pesa

o que é sem rosto
mas
fere

o que é invisível
mas
dói.
 
 
NOITE

Esconder (esquecer)
a face

soterrar (ocultar)
a luz

escurecer o
amor
dormir.
Aguardar o que nasce.
 
 
 
CÍRCULO

O círculo
é astuto:
enrola-se
envolve-se

autofagicamente.

Depois
explode
— galáxias! —

abre-se
vivo
pulsa

multiplica-se

divindadecírculo
perplexa
(perversa?)

o unicírculo
devorando
tudo.
 

 

 
FONTELA, Orides.  Poesia reunida ( 1969-1996 ).  São Paulo: Cosac Naify; Rio de Janeiro: 7 Letras, 2006. 376 p.  (Coleção Ás de colete, v. 12)  14,5x21,5 cm.  capa dura.Capa e projeto gráfico: Elaine Ramos.   ISBN 85-7503-138-4 – 85-7503-478-2 (Cosac Naif) e 85-7577-254-6 (Viveiros de Castro).   Col. Bibl. Antonio Miranda
 
 
 

 
 

 

CASTRO, GustavoO enigma Orides. São Paulo: Hedra, 2015.   209 p. + seção sem paginação com Testamentos, Sobre poesia e filosofia – um depoimento, Poemas – originais. ISBN 978-85-7715-372-5.  “Orides Fontela” Ex. bibl. Antonio Miranda

 


JOGO
 
Como a túnica é uma
os dados rolam
no verde.
 
Como a túnica
é única
são necessários
os dados.
 
Seis faces brancas e os
signos que decidirão
a posse:

um movimento, um
risco
e a decisão no
verde
impressa.
 
A túnica
permanecerá intacta.
 
 

 

 
FONTELA, Orides.  Rosace. Texte tradui et établi par Márcio de Lima et Emmanuel Jaffelin.  Paris: L ‘Harmattan, 1999.  250 p.  13,5x21,5 cm.  capa e contracapa.  ISBN 2-7384-8204-X “Orides Fontela “ Ex. bibl. Antonio Miranda
 
 
 
TRANSPOSIÇÃO
 
Na manhã que desperta
o jardim não mais geometria
é gradação de luz e aguda
descontinuidade de planos.
 
Tudo se recria e o instante
varia de ângulo e face
segundo a mesma vidaluz
que instaura jardins na amplitude
 
que desperta as flores em várias
coresinstantes e as revive
jogando-as lucidamente
em transposição contínua.
 
 
 
ARABESCO
 
A geometria em mosaico
cria o texto labirinto
intrincadíssimos caminhos
complexidades nítidas.
 
A geometria em florido
plano de minúcias vivas
a geometria toda em fuga
e o texto como em primavera.
 
A ordem transpondo-se em beleza
além dos planos no infinito
e o texto pleno indecifrado
em mosaico flor ardendo.
 
O caos domado em plenitude
                                           a primavera.




 
  
 
ROSÁCEA
 
 
Rosa primária quíntupla
abstrato vitral
das figuras do ser.
Ritmo em círculo, cinco
tempos de um mesmo ponto
interno, que se acende
no infinito. Rosa
não rosa: arquitetura
corforma do possível.
Abstrato vitral
das figuras do ser.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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