7 de novembro de 2014

A ETERNA AUSENTE - MINICONTO DO MÉDICO GERIATRA E ESCRITOR NORBERTO SERÓDIO BOECHAT.


A ETERNA AUSENTE

  Norberto Seródio Boechat

            


                Década de 50.

                Oito anos.

                Estrada Bom Jesus-Vargem Alegre.

            Ao voltarmos da cidade, lá estava a menina na cerca de sua casa, à espera. Diminuíamos a velocidade para vê-la, infalível, pendurada no cercado do quintal. Segurava-se com a mão direita e acenava a esquerda.

          Loura e branquinha. Muito bonita. Impossível saber de onde vieram as marcas arianas na garota pobre do barraco beirando a estrada. Não entendo, também, por que em nenhum momento paramos, por que não correspondemos num gesto o amor transmitido ao acenar. Creio que em seu reduzido universo, a busca do momento a impregnava, tornando-a parte de outras vidas, das  outras pessoas, do mundo que, então, se desfilava na via solitária. Ansiava, talvez, por um afeto, um toque junto ao coração.

             É provável que fosse filha única. Nunca vimos outra criança ao redor. O que teria sido sua vida entre adultos? Que mundo encerraria o interior da cabana? Como os pais estariam contribuindo para o crescimento do ser que fazia daquele instante breve de nossa passagem a eleição de um acontecimento? Ao respondermos com as mãos, ela sorria feliz. Passávamos e, ao olharmos para trás, ainda a víamos acenando no meio da poeira deixada pelo jipe.

          Hoje, passada tanta vida – e tão rapidamente −, pergunto-me, onde estará? Casou-se? Teve filhos? Foi feliz? Tem um quintal cheio de netos? Morreu? Indagações que no vácuo desse tempo consumido apertam a garganta, deixam aberta a inútil expectativa de um vir a saber que não acontecerá...  É a resposta que se espera, mas que jamais virá...

             Há muito a casa não existe mais. A estrada, asfaltada e, por isso mesmo, inexpressiva de lembranças, é uma reta que matou velhas curvas do caminho. A menina foi-se tal qual o pó, tal qual aquela nuvem de poeira que termina por sobrepor-se às cercas, cobrindo-as de amarelão pálido, triste, aguardando que a chuva venha e lave tudo.

         Não tenho dúvida: a garotinha foi a primeira mulher de minha vida. Tão absoluta que decididamente inesquecível. Definitiva. Jamais a tive. Nunca paramos para que eu me permitisse o contato de gente.

          Assim, porque não a tive, sempre será indelével imagem, a eterna ausente: mão movendo-se avidamente como a dizer, por que não parou? Passou e não ficou para pacificar-me a vida.

      





Este miniconto faz parte do livro "Lembranças  de  Escritas" do médico geriatra e escritor Norberto Seródio Boechat, obra  a sair em novembro pela Parthenon Editora, com capa de Verônica Debellian Accetta e produção do editor Mauro  Carreiro Nolasco.




Nota elaborada por Dalma Nascimento:


    O poema-matriz de Charles Baudelaire (1821-1867), "A une passante". surgiu, quando na multidão ele divisou uma jovem mulher no cruzamento dos bulevares de uma Paris do século XIX. Rápido foi o encontro, deixando-lhe, porém, a visão de uma mulher que passa, mas que lhe ficou no pensamento.

     O poeta surrealista Robert Desnos (1900-1945),  expressou o assunto nestas fantásticas imagens: “Tu não és a que passa, mas a que fica, a noção de eternidade está ligada a meu amor por ti.”

   Também nosso Vinicius de Moraes (1913-1980) principalmente nos versos finais: “Meu Deus, eu quero, quero depressa / Eu quero-a, agora, sem mais demora / a minha amada mulher que passa. Que fica e passa, que pacifica. / Que é tanto pura como devassa / que boia leve como a cortiça / e tem raízes como a fumaça".

  Outros autores, com ressonâncias expressas ou subliminares, completaram o tema, inclusive em Niterói, Sávio Soares de Sousa, nossa personalidade cultural do ano 2013.








Norberto Seródio Boechat, além de escritor e homenageado, é também médico geriatra e gerontólogo.  Com vários livros editados, todos seus textos têm conteúdos de emocionantes lições de vida, memórias autobiográficas. São várias experiências profissionais vivenciadas em mais de 30 anos no exercício da clínica.

Seus textos também transfiguram histórias reais.  Intelectual renomado em nossa cidade, todos seus livros têm visões claras e compreensivas. 


Para conhecer melhor seu trabalho literário, adquira as obras do renomado escritor nas melhores livrarias da cidade.  Veja a relação abaixo de alguns de seus livros:

"Me dê a mão" (crônicas sobre envelhecimento, idosos e asilos);
"Memórias Natalinas" ( O espírito do Natal em oitos contos);
“Estradas” (romance);
“Lembranças de Escritas” (Editora Parthenon – sairá em novembro).










"Não tenho dúvida: 
a garotinha foi a primeira mulher de minha vida. 
Tão absoluta que decididamente inesquecível. 
Definitiva. Jamais a tive. 
Nunca paramos para que 
eu me permitisse o contato de gente..."

Norberto Boechat




COMENTÁRIOS DE IMPORTANTES INTELECTUAIS 



Caro Alberto,
Amei o miniconto do Dr. Norberto Boechat. Faço questão de adquirir seu livro quando for lançado. As ilustrações estão lindas e as notas de Dalma Nascimento, excelentes.
Parabéns pela postagem.
Abs.

Elenir



   Elenir Teixeira - poetisa 



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Prezado Sr. Alberto,

gostaria de parabenizá-lo pelo miniconto do médico Dr. Norberto Boechat.
Gostei muito! Lindo!.
Os desenhos estão radiantes. 
O senhor fez ótima escolha. Arrasou!

Cristiana Silva dos Santos Costa
Sécretaire particulière 



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Alberto.

Li o conto do Boechat, interessante e nostálgico. O nome do autor fez-me lembrar de meu tempo no Plínio Leite, ano 1944, quando, no quarto ano ginasial, tive um colega que se chamava Norberto Herdy Boechat.

O autor do conto é Norberto Seródio Boechat, pode ser que seja parente do que foi meu colega. Se você tiver algo "Sherlock", poderá descobrir; ou obter o e.mail deste que é Seródio.


Abraço. Gilson

Gilson Rangel Rolim - escritor, cronista e acadêmico, personalidade conceituada em nossa cidade.




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Um belíssimo e impactante conto de Norberto Boechat. Escrito com um forte sentimento de saudade também eterna, fica o leitor, movido pela cativante leitura, com idêntica sensação de perda. Grato por enviar-nos esta obra prima, Alberto! Um abraço.
Hilário.

Hilário Francisconi - escritor, cronista e jornalista, escreve para o Jornal Santa Rosa-Niterói.



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Lindo texto. Boechat é verdadeiro poeta em prosa.
Um abraço.

Raimundo Floriano.



Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, funcionário da Câmara dos Deputados, escritor nascido em Balsas- MA  e atualmente, mora  em Brasília, escreveu vários livros, dentre tantos: "Do jumento ao parlamento(2003); "De Balsas para o mundo(2010); "Pétalas de Rosa" - memórias de sua família e outros.



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O escritor francês Montaigne, no livro "Essais", explica  logo no início (p.9, Edição da Pléiade) ao seu leitor que "C´est moi-même la matière de mon livre" (Sou eu mesmo o tema do meu livro). Tal  afirmação pode-se adequar à escrita memorialística de Norberto Seródio Boechat, pois, em toda a sua obra, ele transfigura situações bem pessoais de sua vida.

Este texto "Eterna ausente" (lançado  em primeira mão no Blog do jornalista  Alberto Araújo) é exemplo de uma das múltiplas passagens do sua existência, transcritas no novo livro "Lembranças de escritas", que tive  o privilégio de ler antes de ir para a Editora Pathernon.

Pela sensibilidade e domínio poético das descrições, Boechat desperta, de fato, emoção no leitor.  

Olívia Barradas- doutora e professora de Teoria Literária, Semiótica e Literatura Comparada da UFRJ. Ex-professora de Literatura Brasileira da Universidade Paris III, artista plástica, atualmente com exposição no Iate Clube do Rio de Janeiro.



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Poético retrato de lembranças que se sustentam através do tempo. Pensar que hoje tudo é tão descartável, efêmero... 
Puro deleite. 
Aguardo o livro ansiosamente. 
Grata, Dr. Norberto.

Um abraço





Belvedere Bruno,
escritora, jornalista, roteirista de cinema, fotógrafa cultural, reside em Niterói – RJ.



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Realmente encantador o texto do Dr. Norberto, exalando muita sensibilidade, a meu ver, uma das mais significativas qualidades do ser humano, em especial quando o assunto é literatura.
Todos nós estamos de parabéns: Dr. Norberto pela capacidade de exprimir tamanha emoção; Dalma Nascimento, pela perfeita e erudita análise; Verônica Accetta, pela belíssima ilustração; o editor do blog Alberto Araújo, pela impecável seleção do texto para publicação; e nós, leitores, pelo privilégio de poder deixar a imaginação “viajar” num conto tão delicado, verdadeiro deleite nesse domingo nublado.



Izaura Sousa e Silva - formada em Comunicação (UFF) e funcionária do BNDES


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É um pequeno grande texto. A recordação daquele fato tem a cor de saudade e o perfume do amor. Aceite, prezado companheiro das letras, meu comovido abraço.

Luiz Calheiros



Luiz Calheiros – escritor e acadêmico, autor de vários livros: Dívidas de Amor – 1ª edição(1995); Acordo Final(1998); Dança das faces (2002); Fazenda Liberdade (2008); A Marca da Vingança (2010) e outros.




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Sr. Editor Alberto Araújo,

Gostei muito do texto do Dr. Boechat. Memórias sempre me comovem, porque eu também já as tenho muitas arquivadas. Percebe-se na narrativa a tristeza "do não feito", vindo, agora à tona.

Sérgio Rubens Barbosa de Almeida, professor universitário,
Doutor em Literatura Comparada (UFRJ), tradutor.



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Nós, do Parthenon, temos a honra e alegria de publicar, mais uma vez, um livro de Norberto Seródio Boechat.

O tema de “A eterna ausente”, que abre “Lembranças de Escritas”, envolve. A narrativa nos leva a pensar em etéreos encontros que vão além deste tempo-espaço em que um acenar de mãos provoca movimentos afetivos, cujos ecos reverberam eternamente.

Não são simples “lembranças”, mas perenes presenças grafadas pela sensibilidade do autor. Ele as capta com singeleza, e nos devolve qual asas de borboleta dardejante em torno de nós.





PARTHENON Centro de Arte e Cultura



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"Há muito a casa não existe mais"que retrato de dor. E vindo emoldurado pela nota da extraordinária Dalma Nascimento, é um convite a se conhecer a obra do autor.


Julio



Julio Lellis, cineasta. 

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Caro Alberto,
Pessoas tornam-se universais, quando marcam caminhos.
É o que penso de você.
Muito obrigado.

Norberto Boechat


Norberto Boechat - escritor, 
médico geriatra e gerontólogo.








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4 de novembro de 2014

PRECE DE GRATIDÃO - EMMANUEL


(CLICAR NA IMAGEM DO CRISTO REDENTOR)







 PRECE DE GRATIDÃO





2. Senhor, muito obrigado, pelo que me deste, pelo que me dás! pelo ar, pelo pão, pela paz!

3. Muito obrigado, pela beleza que meus olhos veem no altar da natureza.Olhos que contemplam o céu cor de anil, e se detém na terra verde, salpicada de flores em tonalidades mil!

4. Pela minha faculdade de ver, pelos cegos eu quero interceder, por aqueles que vivem na escuridão e tropeçam na multidão, por eles eu oro e a Vós imploro comiseração, pois eu sei que depois dessa lida, numa outra vida, eles enxergarão!

5. Senhor, muito obrigado pelos ouvidos meus. Ouvidos que ouvem o tamborilar da chuva no telheiro, a melodia do vento nos ramos do salgueiro, a dor e as lágrimas que escorrem no rosto do mundo inteiro. Ouvidos que ouvem a música do povo, que desce do morro na praça a cantar. A melodia dos imortais que a gente ouve uma vez e não se esquece nunca mais.

6. Diante de minha capacidade de ouvir, pelos surdos eu te quero pedir, pois eu sei, que depois desta dor, no teu reino de amor,eles voltarão a ouvir!

7. Muito obrigado Senhor, pela minha voz! Mas também pela voz que canta, que ensina, que consola. Pela voz que com emoção, profere uma sentida oração! Pela minha capacidade de falar, pelos mudos eu Vos quero rogar, pois eu sei que depois desta dor,no Vosso reino de amor, eles também cantarão!

8. Muito obrigado Senhor, pelas minhas mãos, mas também pelas mãos que aram, que semeiam, que agasalham. Mãos de caridade, de solidariedade. Mãos que apertam mãos. Mãos de poesias, de cirurgias, de sinfonias, de psicografias, mãos que numa noite fria, cuida ou lava louça numa pia.

9. Mãos que a beira de uma sepultura, abraça alguém com ternura, num momento de amargura. Mãos que no seio, agasalham o filho de um corpo alheio, sem receio.

10. E meus pés que me levam a caminhar, sem reclamar. Porque eu vejo na Terra amputados, deformados, aleijados e eu posso bailar. Por eles eu oro, e a ti imploro, porque eu sei que depois dessa expiação, numa outra situação, eles também bailarão.

11. Por fim Senhor, muito obrigado pelo meu lar!Pois é tão maravilhoso ter um lar.Não importa se este lar é uma mansão, um ninho, uma casa no caminho, um bangalô, seja lá o que for. O importante é que dentro dele exista a presença da harmonia e do amor.

12. O amor de mãe, de pai, de irmão, de uma companheira. De alguém que nos dê a mão, nem que seja a presença de um cão, porque é muito doloroso viver na solidão.

13. Mas se eu ninguém tiver, nem um teto para me agasalhar, uma cama para eu deitar, um ombro para eu chorar, ou alguém para desabafar, não reclamarei, não lastimarei, nem blasfemarei.

14. Porque eu tenho a Vós. Então muito obrigado porque eu nasci. E pelo Vosso amor, Vosso sacrifício e Vossa paixão por nós, muito obrigado Senhor!  




Emmanuel








COMENTÁRIOS

NORBERTO BOECHAT - MÉDICO GERIATRA E ESCRITOR

Prezado amigo Alberto,
ouvi a prece. Ave!


Norberto Boechat!





30 de outubro de 2014

A INVENÇÃO DO AMOR DO POETA PORTUGUÊS DANIEL FILIPE





A invenção do amor
Daniel Filipe



Em todas as esquinas da cidade
nas paredes dos bares á; porta dos edifícios públicos nas janelas dos autocarros
mesmo naquele muro arruinado por entre anúncios de aparelhos de rádio e detergentes
na vitrine da pequena loja onde não entra ninguém
no átrio da estação de caminhos de ferro que foi o lar da nossa esperança de fuga
um cartaz denuncia o nosso amor

Em letras enormes do tamanho
do medo da solidão da angústia
um cartaz denuncia que um homem e uma mulher
se encontraram num bar de hotel
numa tarde de chuva
entre zunidos de conversa
e inventaram o amor com caráter de urgência
deixando cair dos ombros o fardo incomodo da monotonia quotidiana

Um homem e uma mulher que tinham olhos e coração e fome de ternura
e souberam entender-se sem palavras inúteis
Apenas o silêncio A descoberta A estranheza
de um sorriso natural e inesperado

Não saíram de mãos dadas para a umidade diurna
Despediram-se e cada um tomou um rumo diferente
embora subterraneamente unidos pela invenção conjunta
de um amor subitamente imperativo

Um homem e uma mulher um cartaz de denúncia
colado em todas as esquinas da cidade
A rádio já falou A TV anuncia
iminente a captura A policia de costumes avisada
procura os dois amantes nos becos e nas avenidas
Onde houver uma flor rubra e essencial
é possível que se escondam tremendo a cada batida na porta fechada para o mundo
É preciso encontrá-los antes que seja tarde
Antes que o exemplo frutifique
Antes que a invenção do amor se processe em cadeia

Há pesadas sanções para os que auxiliarem os fugitivos

Chamem as tropas aquarteladas na província
Convoquem os reservistas os bombeiros os elementos da defesa passiva
Todos
Decrete-se a lei marcial com todas as consequências
O perigo justifica-o
Um homem e uma mulher
conheceram-se amaram-se perderam-se no labirinto da cidade
É indispensável encontrá-los dominá-los convencê-los
antes que seja demasiado tarde
e a memória da infância nos jardins escondidos
acorde a tolerância no coração das pessoas

Fechem as escolas
Sobretudo protejam as crianças da contaminação
uma agência comunica que algures ao sul do rio
um menino pediu uma rosa vermelha
e chorou nervosamente porque lha recusaram
Segundo o diretor da sua escola é um pequeno triste
Inexplicavelmente dado aos longos silêncios e aos choros sem razão
Aplicado no entanto Respeitador da disciplina
Um caso típico de inadaptação congênita disseram os psicólogos
Ainda bem que se revelou a tempo
Vai ser internado
e submetido a um tratamento especial de recuperação
Mas é possível que haja outros. É absolutamente vital
que o diagnóstico se faça no período primário da doença
E também que se evite o contágio com o homem e a mulher
de que fala no cartaz colado em todas as esquinas da cidade

Está em jogo o destino da civilização que construímos
o destino das máquinas das bombas de hidrogênio
das normas de discriminação racial
o futuro da estrutura industrial de que nos orgulhamos
a verdade incontroversa das declarações políticas

Procurem os guardas dos antigos universos concentracionários
precisamos da sua experiência onde quer que se escondam
ao temor do castigo

Que todos estejam a postos
Vigilância é a palavra de ordem
Atenção ao homem e á; mulher de que se fala nos cartazes
À mais ligeira dúvida não hesitem denunciem
Telefonem á; polícia ao comissariado ao Governo Civil
não precisam de dar o nome e a morada
e garante-se que nenhuma perseguição será movida
nos casos em que a denúncia venha a verificar-se falsa

Organizem em cada bairro em cada rua em cada prédio
comissões de vigilância. Está em jogo a cidade
o país a civilização do ocidente
esse homem e essa mulher têm de ser presos
mesmo que para isso tenhamos de recorrer á;s medidas mais drásticas

Por decisão governamental estão suspensas as liberdades individuais
a inviolabilidade do domicílio o habeas corpus o sigilo da correspondência
Em qualquer parte da cidade um homem e uma mulher amam-se ilegalmente
espreitam a rua pelo intervalo das persianas
beijam-se soluçam baixo e enfrentam a hostilidade noturnas
É preciso encontrá-los
É indispensável descobri-los
Escutem cuidadosamente a todas as portas antes de bater
É possível que cantem
mas defendam-se de entender a sua voz
Alguém que os escutou
deixou cair as armas e mergulhou nas mãos o rosto banhado de lágrimas
E quando foi interrogado em Tribunal de Guerra
respondeu que a voz e as palavras o faziam feliz
lhe lembravam a infância
Campos verdes floridos água simples correndo A brisa das montanhas

Foi condenado á; morte é evidente
É preciso evitar um mal maior
Mas caminhou cantando para o muro da execução
foi necessário amordaçá-lo e mesmo assim desprendia-se dele
um misterioso halo de uma felicidade incorrupta

Impõe-se sistematizar as buscas Não vale a pena procurá-los
nos campos de futebol no silêncio das igrejas nas boates com orquestra privativa
Não estarão nunca aí
Procurem-nos nas ruas suburbanas onde nada acontece
A identificação é fácil
Onde estiverem estará também pousado sobre a porta
um pássaro desconhecido e admirável
ou florirá na soleira a mancha vegetal de uma flor luminosa
Será então aí
Engatilhem as armas invadam a casa disparem á; queima roupa
Um tiro no coração de cada um
Vê-los-ão possivelmente dissolver-se no ar Mas estará completo o esconjuro
e podereis voltar alegremente para junto dos filhos da mulher

Mais ai de vós se sentirdes de súbito o desejo de deixar correr o pranto
Quer dizer que fostes contagiados Que estais também perdidos para nós
É preciso nesse caso ter coragem para desfechar na fronte
o tiro indispensável
Não há outra saída A cidade o exige
Se um homem de repente interromper as pesquisas
e perguntar quem é e o que faz ali de armas na mão
já sabeis o que tendes a fazer Matai-o Amigo irmão que seja
matai-o Mesmo que tenha comido á; vossa mesa e crescido a vosso lado
matai-o Talvez que ao enquadrá-lo na mira da espingarda
os seus olhos vos fitem com sobre-humana náusea
e deslizem depois numa tristeza líquida
até ao fim da noite Evitai o apelo a prece derradeira
um só golpe mortal misericordioso basta
para impor o silêncio secreto e inviolável

Procurem a mulher o homem que num bar
de hotel se encontraram numa tarde de chuva
Se tanto for preciso estabeleçam barricadas
senhas salvo-condutos horas de recolher
censura prévia á; Imprensa tribunais de exceção
Para bem da cidade do país da cultura
é preciso encontrar o casal fugitivo
que inventou o amor com caráter de urgência

Os jornais da manhã publicam a notícia
de que os viram passar de mãos dadas sorrindo
numa rua serena debruada de acácias
Um velho sem família a testemunha diz
ter sentido de súbito uma estranha paz interior
uma voz desprendendo um cheiro a primavera
o doce bafo quente da adolescência longínqua
No inquérito oficial atônito afirmou
que o homem e a mulher tinham estrelas na fronte
e caminhavam envoltos numa cortina de música
com gestos naturais alheios Crê-se
que a situação vai atingir o clímax

e a polícia poderá cumprir o seu dever












30 de setembro de 2014

ATÉ QUANDO TEREMOS ÁGUA? TEXTO DO JORNALISTA DO JORNAL UNIDADE LOBO JOSÉ




ATÉ QUANDO TEREMOS ÁGUA?




Caros leitores, talvez algum de vocês que me acompanha há muitos anos neste Jornal,  já se deparou com  artigos que escrevi sobre a “água”, este  maravilhoso e insubstituível bem que a natureza nos dá, ou melhor nos tem dado, pelo menos até agora, e que já está se tornando rara e de alto custo, pelos diversos problemas causados pelo homem.

Foram vários os artigos, em 1997/1998, 2004 e outros mais recentes. Interessante é que procurei manter o mesmo titulo: “A ÁGUA ESTÁ ACABANDO -  Não deixem a água acabar -  relembrem, por exemplo este: ”Caros Leitores, estamos iniciando mais  um  ano e  nada melhor do que aproveitar esse novo tempo para falar  sobre um assunto que me parece de grande importância para   sobrevivência  de tudo o que tem vida sobre a face da terra. Refiro-me  a água.

Diariamente, os meios de comunicação, já há algum tempo, nos alertam para  a situação em que nos encontramos com relação ao cuidado que devemos ter com as reservas de água existentes: Os rios, as lagoas, as vertentes, os reservatórios estão poluídos de tal maneira que muitos deles podem ser considerados mortos.

Ora, sem água nada sobrevive,  os animais e as plantas morrem, as chuvas escasseiam, o Sol se torna mais  abrasador, os ventos serão mais frequentes e mais violentos, os desertos aparecem etc., etc.

Perdoem-me, não estou querendo ser pessimista e sim realista.

Também,  não sou especialista nem tenho em mãos dados estatísticos para discutir em profundidade  o assunto, porém, a experiência  que tenho de vida tanto no interior como na cidade, aliada a observações pessoais e algumas leituras  me permitem  falar ou escrever sobre este precioso líquido.

Acompanhem, por favor, o meu raciocínio, principalmente você que tem algumas décadas de vida. Lembram-se dos nossos invernos, dos verões, das primaveras e dos outonos? Eram todas estações perfeitamente  definidas [...]”.
Hoje olhamos para trás e percebemos que nada foi ou está sendo feito para resolver este problema importantíssimo para a sobrevivência de todo ser vivo. No ultimo artigo falei sobre planejamento a curto médio e longo prazo, tão relegado principalmente pelos nossos políticos. O “assunto água” volta com toda força ao cenário e  merece de todos nós imediatos  planos a curtíssimo, médio e longo prazo, sem os quais a vida sobre a terra ficará impraticável. Sempre ouvimos políticos afirmarem que vão despoluir a Baia de Guanabara e outras baias , cuidar das   nascentes de rios,  desassorrear rios, lagos, açudes, cuidar das margens de todos os mananciais hídricos  etc.  pelo Brasil a fora. Pouco ouvimos falar sobre as nossas praias que recebem toda sujeira que vem pelos rios. Bom se fossemos listar todos os problemas teríamos um ou mais  livros  para contê-los e várias ideias e sugestões para a solução. Há anos ouvimos dizer que – caso particular – a Baia de Guanabara está sendo despoluída com dinheiro dos Bancos A, B, C, etc, inclusive com empréstimos internacionais, mas o que se percebe é que nada foi nem está sendo feito. E o dinheiro para onde foi? Teremos as olimpíadas brevemente e uma ou mais modalidades de esporte será realizada nesta baia e os esportistas já estão preocupados e reclamando da poluição e da possível  inviabilidade  da competição. Isso é grave e demonstra que não há interesse em resolver esse problema. Será que existe planejamento nesse sentido?

Atualmente a população do Estado de São Paulo está sofrendo com a escassez desse precioso liquido em várias cidades. O que fazer? Racionar? Fazer transposição de outros rios? Como? Quem tem sede não pode esperar. A água é para o momento e não para daqui a algum tempo ou alguns anos. O planejamento já devia ter sido feito há muito tempo, ou melhor o planejamento deve ser permanente, isto é, “antes do a curto prazo”, mas nossos políticos não se mexem pois isto não redunda em votos nem em “status”.

Os jornais noticiam que o Governo de São Paulo pensa numa solução mágica – para tirar a brasa ou o problema de suas mãos e transferir para o próximo governo – transpor água do Rio Paraíba do Sul depois de sua passagem pelo Estado de S. Paulo. Vejam que este Rio – que já está no “caroço”, como se diz, agonizante em vários lugares, ao longo do seu curso com represas, utilização por industrias, recebimento de lixo oriundos de afluentes etc. da montante à jusante. Esse disparate proposto pelo Governo de S. Paulo chegou aos ouvidos da população fluminense e vários políticos e o povo em geral já se manifestam veementemente contra esta ”solução descabida” e que não resolve o problema.
Ora, há quantos anos se fala em aquecimento global, poluição dos mananciais hídricos, principalmente por agrotóxicos e lixo, desertificação em varias regiões pela falta de chuvas, queimadas indiscriminadas, lixiviação da terra, destruição da mata ciliar e dos mangues, construção desenfreada principalmente  próximas das ribanceiras  ou bem próximas dos rios, lagos e lagoas. Destruição das matas e dos cerrados, etc. Com isso o que vemos ao longo do tempo é a migração do homem da área rural para as periferias das cidades pois a vida em seu antigo habitat  está impraticável pela escassez d’água, desertificação do solo, morte dos poucos animais que lhe ajudavam na sobrevivência, falta de emprego, carência de alimentos, de educação, de saúde, além da extinção de animais e da flora  etc. As cidades incharam nas periferias sem nenhum planejamento e passaram a contribuir desta forma para sérios problemas como residências precárias,  violência, corrupção, desemprego, falta de mobilidade, saúde e educação precárias, falta de saneamento básico etc.

Urge que nossos governantes  revejam suas posições, principalmente cumprindo o que muitos prometeram em suas  campanhas eleitorais e arregacem as mangas, independente de partido e ideologia política e, em mutirão comecem a planejar o agora, o daqui a pouco e o futuro mais distante com programas sérios para resolver todos os problemas que atingem a população, neles incluindo o problema da água.

O fato é que percebemos que uma parte do Brasil sofre todo ano, de forma mais ou menos cíclica,  com enchentes e/ou chuva em demasia, com os rios subindo e destruindo tudo pelo seu caminho, ao passo que em outras partes a seca aumenta a cada dia, sem chuva e avançando na desertificação do solo. Será que não se pode pensar, da mesma forma que se distribui energia elétrica com redes que cortam o Brasil de Ponta a ponta em redes distribuidoras de água também cortando o Brasil de norte a sul, com  elevatórias, represas etc., tudo de forma planejada e  racional, sem agredir  ou destruir a natureza? Ai está uma sugestão para os nossos cientistas, estudiosos do assunto, políticos e a população em geral.

Não podemos esquecer de que O Criador ao Criar todas as coisas, disse que “tudo é bom” Livro do  Genesis. Logo tudo o que foi Criado deve ser preservado e cuidado com amor: As águas (do mar e dos rios), as plantas, os animais, etc.  a terra e o Universo. Todos nós fazemos parte deste sistema.

Não podemos também descartar  o fato de que alguns estudiosos dizem que o homem morre antes de sede do que de fome; e outros ainda afirmam que a eclosão de uma guerra, que pode se tornar mundial,  será por causa desse precioso liquido, que se tornará caríssimo e inacessível à maioria das nações e das pessoas.

O que todos nós sabemos é que “ SEM AGUA NENHUM SER VIVO SOBREVIVE”. Paz e Bem!

Em tempo: acabei de ler na ultima edição da revista Época, n º 846 de l8 de agosto, pg. 19: “Água, problema novo para a política velha e, em  seguida: Rios, chuvas e secas ignoram divisas estaduais. Para lidar com eles, os governos têm de aprender a atuar em conjunto”. Vejo também no Globo de 19/8/2014 Caderno de Economia: “Solução Negociada Governos fecham acordo. São Paulo elevará vazão do Jaguari, e Rio terá volume menor em setembro”.  Será que o problema foi resolvido tão rapidamente? Será que combinaram com São Pedro para  que faça chover nessas áreas? Ou será que agora estão realmente preocupados e vão fazer um planejamento sério e  bem feito visando o agora e o futuro. Fico em dúvidas, mas torço para que isso ocorra.




Com um abraço.


Lobo José – escritor

22 de agosto de 2014

SALMO 91 POR CID MOREIRA, OUÇA...


(clicar na imagem para assistir ao vídeo)





Salmo 91




1 Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente descansará.

2 Direi do Senhor: Ele é o meu Deus, o meu refúgio, a minha fortaleza, e nele confiarei.

3 Porque ele te livrará do laço do passarinheiro, e da peste perniciosa.

4 Ele te cobrirá com as suas penas, e debaixo das suas asas te confiarás; a sua verdade será o teu escudo e broquel.

5 Não terás medo do terror de noite nem da seta que voa de dia,

6 Nem da peste que anda na escuridão, nem da mortandade que assola ao meio-dia.

7 Mil cairão ao teu lado, e dez mil à tua direita, mas não chegará a ti.

8 Somente com os teus olhos contemplarás, e verás a recompensa dos ímpios.

9 Porque tu, ó Senhor, és o meu refúgio. No Altíssimo fizeste a tua habitação.

10 Nenhum mal te sucederá, nem praga alguma chegará à tua tenda.

11 Porque aos seus anjos dará ordem a teu respeito, para te guardarem em todos os teus caminhos.

12 Eles te sustentarão nas suas mãos, para que não tropeces com o teu pé em pedra.

13 Pisarás o leão e a cobra; calcarás aos pés o filho do leão e a serpente.

14 Porquanto tão encarecidamente me amou, também eu o livrarei; pô-lo-ei em retiro alto, porque conheceu o meu nome.

15 Ele me invocará, e eu lhe responderei; estarei com ele na angústia; dela o retirarei, e o glorificarei.


16 Fartá-lo-ei com lonjura de dias, e lhe mostrarei a minha salvação.


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https://www.youtube.com/watch?v=9qUBZCdpOyg 

15 de agosto de 2014

A ESPERANÇA VIVA.





A ESPERANÇA VIVA





Meu nome é esperança...

Sorrio para você desde a sua entrada na vida...

Sigo-lhe os passos e não o deixo senão nos mundos onde se realizam as promessas de felicidade, incessantemente murmuradas aos seus ouvidos.

Sou sua fiel amiga. Não repila minhas inspirações...

Eu sou a esperança.

Sou eu que canto através do rouxinol e que solto aos ecos das florestas essas notas lamentosas e cadenciadas que lhe fazem sonhar com o Céu...

Sou eu que inspiro à andorinha o desejo de aquecer seus amores no abrigo seguro da sua morada...

Brinco na brisa ligeira que acaricia os seus cabelos e espalho aos seus pés o suave perfume das flores dos canteiros... e você quase não pensa nessa amiga tão devotada!

Não me despreze: sou a esperança!

Tomo todas as formas para me aproximar de você...

Sou a estrela que brilha no azul e o quente raio de sol que o vivifica...

Embalo as suas noites com sonhos ridentes e expulso para longe as negras preocupações e os pensamentos sombrios.

Guio seus passos para o caminho da virtude e o acompanho nas visitas aos pobres, aos aflitos, aos moribundos e lhe inspiro palavras afetuosas e consoladoras.

Não me esqueça...

Eu sou a esperança!

Sou eu que, no inverno, faço crescer, na casca dos carvalhos, o musgo espesso com que os passarinhos fazem seus ninhos.

Sou eu que, na primavera, corôo a macieira e o pessegueiro de flores rosas e brancas e as espalho sobre a terra como um sopro celeste, que o faz aspirar a mundos mais felizes.

Estou com você, principalmente quando é pobre e sofredor, e minha voz ressoa incessantemente aos seus ouvidos.

Não me despreze... Eu sou a esperança.

Não me repila, porque o anjo do desespero faz guerra encarniçada e se esforça para, junto de você, tomar o meu lugar.

Nem sempre sou a mais forte. E quando o desespero consegue me afastar, envolve-o com suas asas fúnebres, desvia os seus pensamentos de Deus e o conduz ao suicídio.

Una-se a mim para afastar sua desastrosa influência e deixe-se embalar docemente em meus braços...

Porque eu sou a esperança...

***

Um dia, um Homem Sublime abandonou, por algum tempo, um jardim de estrelas para nascer na Terra e depositar nas almas as gemas preciosas da esperança...

E, nestes dias de inquietação e desassossego, Ele continua sendo a esperança que reergue os espíritos e a paz que penetra os corações.

Ainda hoje, o Mestre de Nazaré é a grande esperança que se tornou realidade.





FONTE

http://www.reflexao.com.br/