25 de dezembro de 2025

VIGILIA DO NATAL DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO - REFLEXÃO © ALBERTO ARAÚJO


No dia 24 de dezembro, véspera do Natal, sob o sol expressivo que banhava a Baía de Guanabara como um manto de ouro líquido, eu e minha Shirley Araújo caminhávamos de mãos dadas, sentindo as bênçãos do Cristo Redentor que se erguia majestoso no alto do Corcovado, vigia eterno da nossa alma fluminense. O ar salgado do mar misturava-se ao perfume de jasmins e à brisa morna de Niterói, cidade de sonhos tecidos em ondas. Era o prelúdio da Noite Santa, quando o céu parece se inclinar para sussurrar segredos divinos aos corações sôfregos de luz. 

Dirigimo-nos à Paróquia e Santuário São Judas Tadeu, em Icaraí, refúgio de fiéis onde as colunas guardam ecos de preces milenares. A missa de Natal iniciava-se sob a presidência do Padre Alex Abreu, homem de voz serena e olhos que transmitem a paz do Evangelho. A homilia, proferida pelo Padre Carmine, Vigário Episcopal da Arquidiocese de Niterói, tecia fios de esperança com palavras que penetravam como raios na alma: falava do Renascimento, do Verbo que se fez carne para reacender a chama da salvação em cada um de nós. 

Os fiéis, reunidos em magia e luz, seguravam velas acesas que tremulavam como estrelas caídas à terra. E então, o canto irrompeu, uníssono e fervoroso: "Nasceu Jesus, nasceu Jesus!", ecoando pelas naves como um trovão de alegria. O Padre Alex entrava em procissão solene, erguendo a imagem do Menino Jesus, envolto em panos brancos, olhos de porcelana que pareciam piscar com o mistério da Encarnação. Naquele instante, o tempo suspendeu-se; o Menino Deus chegava, humilde e infinito, para habitar nossos peitos partidos pelo ano que findava. Padre Alex o colocou no Presépio, preparado com amor e carinho, lugar de luz e amor. 

A Primeira Leitura, do Profeta Isaías 62,1-5, ressoou como um clamor profético: "Por amor de Sião não me calarei. Por amor de Jerusalém não descansarei, enquanto não surgir nela, como um luzeiro, a Justiça, e não se acender nela, como uma tocha, a Salvação." Palavras que nos convocavam a ser sentinelas da luz, a não silenciar ante as trevas do mundo, mas a velar com amor tenaz, como a baía vela seus navios sob o olhar do Redentor. 

O Salmo Responsorial elevou-se em louvor: "Hoje nasceu para nós o Salvador, que é Cristo, o Senhor." Cada verso era uma flecha de gratidão, perfurando o véu da rotina para revelar o milagre da Noite Santa. Veio então a Segunda Leitura, da Carta de São Paulo a Tito, exortando à sobriedade da fé e à expectativa do Salvador, que nos redime da iniquidade para um povo eleito, zeloso de boas obras. Paulo, o apóstolo das gentes, falava diretamente a nós, niteroienses de fé vívida no coração da igreja. 

O Evangelho proclamou o tema do Renascimento: o coro dos anjos soava na terra entre os homens, anunciando "Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade." Anjos invisíveis pairavam sobre Icaraí, tecendo harmonias celestiais que o coral humano ecoava. Recitamos o Credo com vozes entrelaçadas: "Creio em Deus Pai Todo-Poderoso, Criador do céu e da terra...", profissão de fé que nos ancorava no mistério trinitário, no Filho que se fez criança para nos resgatar. 

As Preces da Comunidade subiram como incenso: "Menino Jesus, atendei-nos...", súplicas por paz nas famílias, pela cura dos enfermos, pela justiça nos lares partidos. E o coração da missa pulsava no Coral, regido pelo Maestro Joabe Ferreira, mestre das melodias que elevam o espírito. Inúmeras canções em latim e francês desabrocharam, joias sonoras que transportavam a alma para além do tempo. Momento sublime quando entoaram o hino francês: "Peuple, à genoux, attends ta délivrance: Noël! Noël! Voici le Rédempteur!" – "Povo, de joelhos, espera a tua libertação: Natal! Natal! Eis o Redentor!" Aquelas sílabas gaulesas, tão distantes e tão próximas, faziam-nos ajoelhar interiormente, sentindo a libertação pulsar nas veias como o mar da Guanabara em maré alta.

Saímos da missa com o coração feliz, leve como pluma ao vento. Na porta da igreja, encontramos os amigos Lícia e Marne, rostos iluminados pela mesma graça natalina. Lícia, a nossa Dama do Piano, professora de piano, artista de renome internacional que já se apresentou com mais de 40 orquestras pelo mundo, de salas europeias ecoando Bach a palcos americanos dançando Chopin, atual Diretora do Espaço Cultural São Judas Tadeu em Icaraí. Com sua simplicidade e sabedoria sobre músicas clássicas, falou-nos que gostou de toda a missa, que ficou emocionada quando o hino "Peuple, à genoux, attends ta délivrance: Noël! Noël! Voici le Rédempteur!" – "Povo, de joelhos, espera a tua libertação: Natal! Natal! Eis o Redentor!", foi entoado brilhantemente pelo coral regido pelo Maestro Joabe Ferreira. Despedimos-nos com abraços quentes e seguimos para a nossa Ceia de Natal. 

Na Vigília do Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo, renascemos todos: do caos do ano ao colo do Menino Jesus, da sombra à tocha da Salvação. Que esta luz, acesa em Icaraí, ilumine os caminhos de Niterói e do mundo inteiro, até o dia em que o Redentor venha de novo, em glória plena. 

© Alberto Araújo










HOMILIA – NOITE DE NATAL – PADRE CARMINE PASCALE

24 de dezembro de 2025

 

Queridos filhos e filhas,

que também nos acompanham pelo nosso canal no YouTube. O coro dos anjos ressoou como uma pedra fundamental de um mundo novo. Seu canto anuncia a glória a Deus, Pai das alturas celestes, e ao gênero humano, a paz e a alegria. 

Queridos irmãos e irmãs, é hora de alegria e de paz. É hora de alegria e de paz porque, nesta noite tão santa, o Verbo, a Palavra, Aquele por quem tudo foi feito, entra definitivamente na história, na nossa história. A vida nasce em plenitude, pois a misericórdia vence. Sua vitória é garantir uma nova humanidade, recriar o mundo marcado por Caim, agora no amor. 

Havia uma luz que não estava na estrela que brilhava no céu naquela noite. A verdadeira luz estava no Menino, deitado sobre as palhas de um berço improvisado, numa gruta dura, num lugar destinado aos animais. 

E na narrativa que ouvimos nesta noite, segundo o Evangelho de São Lucas, isso fica muito claro. Embora nos lembremos da estrela, hoje não ouvimos nada sobre ela. Não é mencionada. Por quê? Porque o que mais importa não é a estrela: é Ele. É o Menino, o Emanuel, o Deus-conosco. Deus que veio habitar no meio de nós. Que grandiosidade é pensar nisso! 

Essa é uma lição fundamental, eternizada na alma de cada cristão, e que permanece profundamente atual. E que lições são essas? Precisamos mergulhar nesse mistério. 

O Príncipe da Paz fez-se presente, unindo em si a natureza humana e divina. Um bebê frágil, que já traz consigo a nossa salvação, a nossa redenção. A vida plena já estava ali. O projeto do Senhor se concretizava para sempre. 

Mas, apesar de esperado, Ele não foi reconhecido. Não foi acolhido. Não havia lugar para Ele. Todos estavam ocupados demais, preocupados com suas próprias coisas. 

No entanto, foi justamente no improviso, num lugar impensável, que o amor aconteceu. Ali, sob o cuidado de José, envolto nas faixas colocadas pelas mãos de Maria, aquele Menino foi acolhido. Eram faixas de ternura, de aconchego, de alegria materna, bem diferentes daquelas outras faixas dolorosas que, mais tarde, envolveriam o seu corpo na cruz.

Naquela noite, toda a criação se manifestava em louvor. Os céus proclamavam o amor de Deus. É o que nos recorda São Paulo em sua ação de graças. E como não agradecer, povo de Deus? Ele é bom. Deus é generoso, paciente, compassivo e misericordioso. Foi isso que cantamos no Salmo desta missa: Ele é tudo isso e muito mais.

Ao nos aproximarmos dessa cena, somos convidados a olhar para a família de Nazaré, a Sagrada Família. Nela se apresenta, de forma simples e profunda, o projeto de Deus: uma família como lugar de acolhimento, de segurança, de amor; verdadeira Igreja doméstica. 

Ali não havia grandes recursos, nem dinheiro, nem conforto. Havia apenas doação. E não é esse o exemplo que nos é dado? Fora de toda lógica humana, naquele lugar improvável, o Reino dos Reis foi acolhido. O Santo dos Santos assumiu nossa fragilidade. 

A humildade e a pobreza começam ali a apagar o orgulho herdado dos primeiros pais, orgulho que ainda hoje se infiltra em nossas comunidades e em cada um de nós, quando nos achamos melhores, quando nos deixamos dominar pela soberba e pelo egoísmo. 

Mas Deus se revela no silêncio, na simplicidade, na abertura do coração. É assim que aprendemos a intimidade com Ele. E esse é o bem que somos chamados a praticar. 

Irmãos em Cristo, somos filhos do mesmo Pai. Somos irmãos e irmãs chamados a construir uma humanidade fraterna, e não uma humanidade bélica, iracunda, dividida. Uma humanidade ferida por polarizações, por ideologias que apagam a essência do Evangelho e criam guerras, até mesmo dentro de nossas casas, de nossas famílias, entre amigos que se dizem cristãos. 

Quando deixamos de mergulhar na essência da Palavra e nos deixamos conduzir por discursos de ódio, esquecemos as lições maiores que este Menino nos traz. 

Hoje, Ele vem ao nosso encontro como Salvador. É o Cristo Senhor. E isso é o que realmente importa. 

A manjedoura que acolheu o Menino é a mesma lógica da cruz que um dia O receberá. O projeto de Deus é inteiro, coerente, conhecido por Ele desde sempre. O Menino nasce já como Príncipe da Paz, abraçando toda a humanidade.

Por isso, meus irmãos e irmãs, esta noite precisa ser vivida com profunda alegria, com harmonia, com perdão verdadeiro, com sorrisos sinceros e corações transformados. 

Precisamos transmitir esperança. E a nossa esperança é Cristo. Este Menino é a esperança viva. Nele nos é garantida a vida plena. 

Voltemos para nossas casas, para junto de nossos parentes e amigos, levando essa transformação que brota da mesa da Palavra e da mesa da Eucaristia. Levemos essa luz a todos, dissipando as trevas, impedindo que o mal prevaleça, se assim escolhermos. 

Como nos exorta São Paulo, pratiquemos o bem de forma ativa e concreta. Que esta seja uma noite de oração, de sentido profundo, de verdadeira conversão do coração. 

Feliz Natal.


























Nenhum comentário: