Há um amor que nasce antes mesmo das palavras, que floresce no silêncio
do ventre e se fortalece no primeiro olhar. É o amor dos pais pelos filhos —
laço tecido com a paciência do tempo, a ternura do cuidado e a bênção divina
que sopra vida ao sopro da vida.
E há outro amor, ainda maior, que nos envolve e sustenta: o amor de
Jesus, que ensinou a amar sem medida, sem esperar retorno, sem temer a
distância. Amor que faz da memória um abrigo, da saudade uma ponte e da fé uma
casa eterna.
Neste instante, celebramos esses amores que não conhecem fim: o amor que
nasce do coração humano e o amor infinito que desce do céu para acalentar a
nossa alma.
Na tarde serena do Centro de Niterói,
o sol de inverno pousava suas mãos de luz sobre a Igreja Nossa Senhora da
Conceição, na Rua da Conceição. Era ali, às 17 horas, que se celebrava a missa
de sétimo dia do encantamento de Thiago Torres Fernandes, filho amado de nosso
querido Rubens Carrilho Fernandes.
Eu e minha esposa Shirley chegamos
pontualmente, atendendo ao convite tecido com afeto por Rubinho nas redes
sociais e acolhido por todos que ali se uniram em oração. Não era um adeus, mas
um instante de presença: uma celebração da memória viva de Thiago, feita de fé,
esperança e amor que não morre.
A igreja, conduzida pelo prior Padre
Luiz Gonzaga e sua prioriza Patrícia, abriu suas portas como quem acolhe não só
passos, mas corações. E foi o Padre José Marcelo Martins Gomes quem presidiu a
missa, retornando às raízes na Arquiconfraria Nossa Senhora da Conceição. Em
sua voz, ecoou a força eterna do Evangelho: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo
o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento. E amarás o
teu próximo como a ti mesmo.” Palavras que não ficaram apenas no ar, mas
floresceram em cada coração ali presente.
Esses versículos, que brilham em
Mateus (22:37-40) e Marcos (12:30-31) — lembraram-nos que, mesmo quando a
ausência dói, o amor se faz ponte, caminho e eternidade.
Rubens Carrilho Fernandes, na
serenidade de Ministro da Eucaristia, assumiu com emoção a leitura do Salmo
responsorial (Sl 188) e, ao elevar a hóstia, disse com voz firme: “Corpo de
Cristo.” A resposta — “Amém” — foi mais que palavra; foi um sopro de comunhão,
como se naquele instante todos sentissem o coração bater mais forte, sustentado
pela esperança.
E a beleza da cerimônia foi coroada
pela voz de Luciana Modesto, que preencheu a nave com cantos de ternura quase
palpável: “Um coração para perdoar... Um coração para sonhar...” durante a
Comunhão, e o canto solene do “Santo, santo, santo Deus do Universo” na
Consagração, envolvendo cada alma num abraço de notas e silêncio.
Ao final, cada um recebeu nas mãos um
santinho e um pequeno terço, não como simples lembrança, mas como símbolo de
fé: memória que não se guarda em gavetas, mas no altar secreto do coração, onde
moram as lembranças mais puras.
Entre amigos, familiares e corações
unidos, também se fez presente o Desembargador Nagib Slaibi Filho, que, com
delicadeza e respeito, representou a Academia Niteroiense de Letras, o Elos Internacional,
o Elos Club de Niterói e Instituto Histórico e Geográfico de Niterói, Academia Fluminense de Letras testemunhando
amizade, cultura e solidariedade.
Naquela tarde, a saudade não foi
lágrima solta: foi canto, foi oração, foi abraço. Porque a morte toca apenas o
corpo; jamais alcança aquilo que nasceu do amor. E Thiago, feito brisa mansa,
ficou em cada um de nós, onde a fé, suavemente, abraça a memória.
Naquele entardecer, não se celebrou
apenas uma partida. Celebrou-se a permanência do amor, esse amor maior que
Jesus nos ensinou e que nem a morte consegue calar. Porque o que fica, enfim, é
sempre o que foi semeado de fé, de ternura e de memória viva.
E assim compreendemos que, mesmo
quando os olhos já não veem, o amor permanece — suave como brisa, firme como
raiz. Porque o amor de Jesus nos ensinou que tudo o que é amado de verdade
jamais se perde: apenas muda de lugar e passa a morar na essência do nosso ser.
O amor dos pais pelos filhos
transcende a ausência, resiste ao tempo e floresce na saudade transformada em
oração. E, ao final de cada prece, o que resta não é a dor, mas a lembrança
viva do que fomos capazes de sentir: esse amor maior, sem despedidas, que faz
da memória um templo onde nada se apaga.
Assim seguimos, com o coração em
prece, abraçados pela fé e pela certeza de que o que foi semeado em amor se
torna eternidade.
(clicar na imagem para assistir ao vídeo)
Editorial
Alberto Araújo
12 de julho de 2025