4 de abril de 2023

VALENTE MAHUMANA MANKEW - TEXTO DE TERESA SILVEIRA. EM 28.03.23

 



A Teresa resgatou um quadro do lixo e quis saber mais sobre o seu autor.

O calendário não falha: passaram pouco mais de três anos. Apressada em contra-relógio a caminho do carro, o meu olhar fixou-se num contentor do lixo, ao lado do qual jazia, sozinho, encostado, abandonado, este desenho em grafite. Parei. Hesitei. Eu que jamais havia recolhido um objeto do lixo, peguei-lhe.

O meu primeiro pensamento derivou para o pintor moçambicano desaparecido em 2011, Malangatana. Desiludi-me.

Mankeu. 1968. Quem é Mankeu? Eu não sei quem é Mankeu. Inquieta nesta dúvida e com a falta de tempo, mas cativada pelo realismo da expressão facial e corporal do homem e da mulher lá retratados e pela genialidade visível daqueles traços, impeli-me a salvar este desenho do destino fatídico que o esperava.

Levantei-o do chão. Admirei-o ainda mais. Trouxe-o comigo.

Mal pude pesquisar, busquei, busquei e... encontrei: Valente Mahumana Mankew.

Valente Mahumana Mankew nasceu em Moçambique em 1934. É primo e amigo de Malangatana e é um dos pintores mais conceituados de Moçambique e de África. Figura de renome no Núcleo de Arte de Maputo, Mankew era da geração de artistas e nacionalistas como Malangatana, Oblino Mabjaia, Chissano, Shikani ou Lindo Hlongo.

Nascido no dia 1 de Janeiro de 1934, em Marracuene, distrito da província de Maputo, no sul de Moçambique, Mankew trabalhou nas minas da África do Sul, durante grande parte da década de 1950, antes de iniciar a carreira artística, em 1965.

“Os meus pincéis denunciavam a escravatura que o meu povo sofria”, disse o artista plástico, em 1984, numa entrevista ao semanário Domingo, de Maputo.

De Moçambique vinha a sua Arte. Lá seguramente gizou este desenho de grafite em 1968, que alguém transportou para Portugal, mas que, por ignorância, desleixo ou, até, sobranceria extrema, quis silenciar de vez e colocar no lixo.

Não, Valente Mahumana Mankew. Este desenho não morreu no lixo. Este desenho está a salvo.

"Eu pinto com a mesma naturalidade que respiro o ar, pois sou e fui sempre um artista realista", disse um dia Valente Mahumana Mankew, que, durante mais de 60 anos, viu as suas obras expostas, além de Moçambique, em Portugal, Inglaterra, Noruega, Alemanha e outros países.

Mankew, soube recentemente, morreu no dia 13 de setembro de 2021, aos 87 anos, no bairro de Xipamanine, nos arredores de Maputo.

por Teresa Silveira

FONTE: https://improbabilidades.blogs.sapo.pt/valente-mahumana-mankew-5123

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