APRECIEM AS POESIAS DE
GILSON RANGEL ROLIM
Vida Literária
VIDA (I)
A infância, o medo,
a juventude,
o tempo, o sol,
a luz, o vento,
a dor, a morte,
a finitude,
o sonho, o espaço,
o pensamento,
o choro, a queixa,
a enfermidade,
o sofrimento,
a tibieza,
o riso, o canto,
a melodia,
o abraço, o beijo,
a gentileza,
a flor, a cor,
a fantasia,
o céu, o mar,
o barco à vela,
o rio, o lago,
a mata, o verde,
a passarada,
o pescador,
a trovoada,
a vida alegre,
a rude vida,
a noite fria,
o cobertor,
o corpo quente,
o doce amor,
o meigo olhar,
o coração,
a simpatia,
a indecisão,
o triste aceno,
a despedida
e uma saudade.
E assim se faz
cada momento
a vida, o tempo,
a eternidade.
VIDA (II)
A infância, o medo, a juventude,
o tempo, o sol, a luz, o vento,
a dor, a morte, a finitude,
o sonho, o espaço, o pensamento.
O sofrimento, a tibieza,
o riso, o canto, a melodia,
o abraço, o beijo, a gentileza,
a flor, a cor, a fantasia.
A chuva forte, a trovoada,
o céu, o mar, o barco à vela,
o rio, o lago, a mata, o verde,
a flor do ipê, a aquarela.
O doce amor, o meigo olhar,
o coração, a simpatia,
o cobertor, o corpo quente,
o leito humilde, a noite fria.
A indecisão, o triste aceno,
a despedida e uma saudade.
E assim se faz cada momento
a vida, o tempo, a eternidade.
*****
Um apanhado de emoções
e sentimentos
a fazer com que a vida
seja o que é:
Amor, paixão, desamor,
a morte no meio.
Vitórias, sucessos,
temor do fracasso,
a dureza da luta,
o êxito, enfim.
Sementes plantadas,
o ocaso, o cansaço.
E quando se vê,
o tempo passou.
*****
Talvez eu repita demais
ser um grão da Eternidade;
penso que exagero:
sou apenas um átomo
do átomo desse grão.
Mas penso, vejo e sinto
que tudo é real,
mesmo o invisível.
Pobre do mundo
sem essa percepção!
*****
Igualdade ― alcançá-la é utopia,
mas buscá-la não é.
Como conseguir? Não sei.
Mas sei que é preciso mudar,
é preciso fazer diferente
do que tem sido.
É preciso que se chegue
a um mundo capaz
de reduzir as desigualdades.
Pois um desfile não se faz
com uns poucos, garbosos,
indo à frente;
e muitos, maltrapilhos,
indo atrás.
*****
O corpo sofre
os pecados da alma.
A alma sofre
os pecados do corpo.
E os dois sofrem,
solidariamente.
Assim tem sido
desde que o mundo é mundo.
*****
Um quadro mais que rude,
miséria em plenitude.
Trapos humanos,
jovens e velhos,
homens, mulheres,
crianças seminuas,
largadas nas ruas.
Retrato sem retoque
de um cancro social.
*****
Não há maior mistério do que o Espaço,
talvez até maior que a própria Morte.
Daí porque não haja quem suporte
a ideia de que a Fé seja um fracasso.
Não se faça da tese estardalhaço,
pois causa controvérsia de tal porte,
que ao defendê-la dito a minha sorte;
temo causar a mim certo embaraço.
O Tempo, que do Espaço é dependente,
e intriga todos nós que somos gente,
é mistério, também, por sua vez.
Eu dou graças, então por minha Fé.
que faz a minha vida ser o que é,
e louvo o Criador que assim me fez.
CORDA BAMBA (I)
Viver é equilibrar-se
sobre o fio invisível
de um mistério insondável;
é aceitar-se incapaz
de furar o bloqueio
envolvente da vida.
Viver é conformar-se
em ser personagem
de uma peça sem fim;
é juntar-se ao elenco
no imenso cenário
no qual atuamos.
Viver é ver-se integrado
à grande engrenagem
da qual somos peça;
é, enfim, não ficar
indiferente ao que vê
nem alheio ao que sente.
CORDA BAMBA (II)
Equilibrar-se sobre o fio invisível
de um mistério insondável;
aceitar-se incapaz de furar o bloqueio
envolvente da vida;
conformar-se em ser personagem comum
de uma peça sem fim,
no imenso cenário
em cujo elenco todos nós atuamos;
ver-se integrado à grande engrenagem
da qual somos peça.
Enfim, não ficar indiferente ao que vê
nem alheio ao que sente.
Viver é apenas isso
Gerações incontáveis
de gente e de bichos
em levas a se repetirem
num cenário quase o mesmo
vieram antes de nós.
Gerações incontáveis
também de gente e de bichos
igualmente em levas
num cenário quase igual
hão de vir depois de nós.
E nós, quem somos afinal?
Atores e figurantes
de uma peça que não se acaba;
passageiros e caronas
numa viagem que não tem fim.
Ah, esse infinito
que assusta se nele pensamos,
que pouco importa
se dele nos esquecemos.
Ah, esse infinito,
roda gigante da Eternidade.
Sinta a beleza que há no olhar
de uma criança
e aprenda esperança,
aprenda esperança.
Criança, amanhecer da vida,
ponto de partida do existir;
ensaio e aprendizado,
idade da inocência
véspera do que há de vir.
Gilson Rangel Rolim – Escritor, poeta, contador, acadêmico. Nasceu em 13 de abril de 1929, na cidade de Mimoso do Sul - ES, filho de Lauro de Azevedo Rolim e Maria Izabel Rangel Rolim. Deixou a cidade natal aos dois anos, seguindo para a localidade de Chave de Santa Maria, no município de Campos. Em 1934 veio para Niterói, onde permaneceu até 1939. De janeiro de 1940 a agosto de 1943 residiu em Macaé, período marcante de sua vida: a pré-adolescência. Deixando Macaé, por falecimento de sua mãe, retornou a Niterói. Cursava o terceiro ano ginasial no Ginásio Municipal de Macaé quando da mudança. Já na antiga capital fluminense, completou o ginasial no Colégio Plínio Leite. Em 1945, as circunstâncias levaram-no a trabalhar de dia e estudar à noite; mudou-se, então, para o Rio, capital federal na época. Após três anos na Academia de Comércio do Rio de Janeiro (Cândido Mendes), obteve o grau de Contador, equivalente, hoje, ao de Ciências Contábeis. Em setembro de 1947 voltou a residir em Niterói, permanecendo até hoje.
Vida Literária
Em 1954, no Diário do Povo, escreve as primeiras crônicas de cinema; foram, apenas, alguns meses. Em setembro de 1961, a convite de Carlos Couto, passa a colaborar com o semanário PRAIA GRANDE EM REVISTA, como crítico cinematográfico, atividade que manteve durante o pouco mais de um ano que teve o PGR. Em 1965 escreveu o poema O GRITO o qual, devidamente traduzido para o Inglês, foi enviado ao Pastor Martin Luther King Junior. Em carta pessoal, que o autor guarda com carinho, o grande líder agradeceu essa colaboração a sua luta. Em 1966 e 1967 teve seus primeiros poemas publicados em O Fluminense, na seção Prosa & Verso, então sob a direção de Sávio Soares de Sousa. Em 1968, é selecionado para a final do Festival Fluminense da Canção (O Brasil Canta no Rio), transmitido pela TV Excelsior, com a canção Eu Andei Pelo Mundo, musicada por Frederico Leite Pereira; o resultado final deu-lhe o oitavo lugar entre as trinta e seis finalistas. Seus trabalhos literários vão sendo guardados até que, em 1988, sob o patrocínio da empresa NITRIFLEX, tem publicado o livro ALGUNS VERSOS, ALGUMA POESIA, que teve boa receptividade entre os críticos de nossa cidade. Depois desse, e até que viesse a publicar O TEMPO NEM ME VIU PASSAR, em 2004, publicou artesanalmente com divulgação em âmbito restrito, os seguintes livros: Mais ALGUNS VERSOS, ALGUMA POESIA Talvez (1991), PROSA, VERSOS & ETC (1997), Um Pouco Mais de PROSA, VERSOS & ETC (1999) e CONTOS, VERSOS & OUTROS ESCRITOS (2002). Em 2005, lançou o livro REVIVENDO MEUS PASSOS (Retalhos de Memória). Em maio de 2006, lançou o livro DOIS MOMENTOS, de prosa e versos, com prefácios de Sávio Soares de Sousa para os versos, e de Antonio Soares para a prosa. Fez acompanhar este livro de uma coletânea de versos que intitulou VERSOS A GRANEL. Ainda em 2006, escreveu uma sinopse do famoso romance de José Cândido de Caravalho, O Coronel e o lobisomem. Em 2008, publicou UM SIMPLES CURSO D’ÁGUA, em 2009, ESTAÇÃO OITENTA e, em 2010, NA POEIRA DO TEMPO, e lançou recentemente o livro “Puxando Conversa”.Além de trabalhos literários, escreveu um pequeno livro profissional intitulado ELEMENTOS BÁSICOS DE CONTABILIDADE PARA PROFISSIONAIS DE OUTRAS ÁREAS. É acadêmico titular da Academia Niteroiense de Letras, desde a posse em 12 de setembro de 2004. É também membro da Academia Brasileira de Literatura desde 2008. Paralelamente a essa atividade literária, e intimamente ligada a ela, produziu composições musicais de caráter popular (letra e música), em alguns casos em parceria com seu professor, o consagrado e saudoso músico Sylvio Vianna, seu amigo e professor. Em 2006, fez palestra sobre o Centro de Niterói, dentro do VIII Curso de História de Niterói, do IHGN. Muitos de seus trabalhos tem sido publicados no jornal UNIDADE, do qual é assíduo colaborador.
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