Hoje, acordei pensando: há certos
textos que faíscam. Verdade! As palavras saem da página e ficam faiscando no
pensamento da gente. E seu feixe de cintilação é tão forte que atravessa a
mente e não se pode largar a leitura. Foi o que aconteceu comigo. Virei a noite
lendo crônicas “faiscantes” de uma escritora fantástica. Assumida em sua
dimensão de Mulher de nosso agora, ela é um ser fascinante, alegre, gentil, bem
casada, afinada com o marido.
Há dias, ao vê-los juntos, pensei que
entre os dois não existe nem
androcracria, o poder do homem, nem ginecocracia, o poder da mulher. Mas o
intercâmbio salutar da vida junto, mantendo cada um sua identidade no
“convivente” encontro das diferenças.
É, pois, sobre o cativante livro dessa
Mulher que, no alvorecer do dia, estou aqui exatamente produzindo este texto.. Dotada de uma escrita forte, sem
apelos sexuais e sem mistificar sua vida para ter audiência, a autora, na
simplicidade do verbo e fora de holofotes, molha a pena na alma nas tão
faiscantes / fascinantes crônicas em que fala de si.
Em outras páginas, as frases cirandam
pelos horizontes do mundo. Com agudo espírito crítico, conversa, de forma fiada, sobre fatos circundantes. Mas tudo
escrito na “densa leveza” da linguagem do dia a dia. A fala rica do povo,
espraiando-se na vida da culta jornalista, retrata o cotidiano na subjetividade
do que o coração de mulher lhe dita.
Nessas crônicas, conversas que parecem
fiadas, embora afiadas e afinadas aos vaivéns do mundo, o leitor parece
visualizar o quadro descrito nas letras em movimento. A autora, também artista
plástica, opera ao mesmo tempo com verbo literário-jornalístico. Mas para não
perder as manhas visuais, ao “cronicar” desenha cenas de escritas no espírito
do leitor. Parece até que está a pintar imagens.
Cria uma perspectiva pictórica no
texto, harmonizando o signo verbal à pintura. Técnica, aliás, utilizada desde a
Antiguidade grega denominada Ekphasis (ecfrase) na qual as palavras, mesmo sem
a apresentação do objeto pictórico, sugerem imagens mentais. Trata-se de um
recurso retórico muito usado na oratória, reunindo duas artes irmãs – a pintura
e a literatura.
Verdade, amigos, cada crônica desse
livro é um quadro a cenarizar o Ser Feminino consciente de seus atos, a assumir
com doçura seu espaço de forma rutilante. Ou melhor, faiscante. Crônicas que se
sucedem em imagens na simplicidade dos grandes. A capa do livro é eloquente. Mostra um canivete em destaque,
que, segundo o conceito do paratexto autoral de Gérard Genette, já insinua o
que traz lá dentro.
Também, criativa é a divisão meio a
meio em duas partes do livro com a mesma capa reproduzida em ambos os lados. Se
privilegiar a nossa língua, “a da frente” em português. Com 25 crônicas em
sequência. Já a capa oposta, em inglês, introduz igual série dos textos. Essa
maneira de compor testemunha o espírito desconstrutor da cronista, quebrando os
paradigmas eleitos de editoração.
Por tudo isso e muito mais, não deixe
de ler este prazeroso livro. Luzes ficarão faiscando dentro de você pra pensar.
A última crônica é inesperada. É uma história de fadas que o destino reservou à
autora.
Como você vê, leitor, não joguei minha
conversa fora. Mas, desculpe, só agora me lembrei de dizer o principal: o livro
se chama CONVERSA (A) FIADA. A autora? A dinâmica jornalista sem fronteiras
DYANDREIA VALVERDE PORTUGAL.
Dalma Nascimento
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