12 de fevereiro de 2018

POEMA A VIRGEM MARIA DE SÃO JOSÉ DE ANCHIETA, ESCRITO PELO PADRE NAS AREIAS DA PRAIA DE IPEROIG EM UBATUBA-SP.








 
 
DE BEATA VIRGINE DEI MATRE MARIA.
 
 
 
 
Minha alma, por que tu te abandonas ao profundo sono?
Por que no pesado sono, tão fundo ressonas?
Não te move à aflição dessa Mãe toda em pranto,
Que a morte tão cruel do FILHO chora tanto?
E cujas entranhas sofre e se consome de dor,
Ao ver, ali presente, as chagas que ELE padece?
Em qualquer parte que olha, vê JESUS,
Apresentando aos teus olhos cheios de sangue.
Olha como está prostrado diante da Face do PAI,
Todo o suor de sangue do seu corpo se esvai.


 Olha a multidão se comporta como ELE se ladrão fosse,
Pisam-NO e amarram as mãos presas ao pescoço.
Olha, diante de Anás, como um cruel soldado
O esbofeteia forte, com punho bem cerrado.
Vê como diante Caifás, em humildes meneios,
Aguenta mil opróbrios, socos e escarros feios.
Não afasta o rosto ao que bate, e do perverso
Que arranca Tua barba com golpes violento.
Olha com que chicote o carrasco sombrio
Dilacera do SENHOR a meiga carne a frio.

 
Olha como lhe rasgou a sagrada cabeça os espinhos,
E o sangue corre pela Face pura e bela.
Pois não vês que seu corpo, grosseiramente ferido
Mal susterá ao ombro o desumano peso?
Vê como os carrascos pregaram no lenho
As inocentes mãos atravessadas por cravos.
Olha como na Cruz o algoz cruel prega
Os inocentes pés o cravo atravessa.
Eis o SENHOR, grosseiramente dilacerado
 pendurado no tronco,
Pagando com Teu Divino Sangue o antigo crime! (Pecado Original cometido pelos primeiros pais e os subsequentes pecados da humanidade)
Vê: quão grande e funesta ferida

transpassa o peito, aberto
Donde corre mistura de sangue e água.
Se o não sabes, a Mãe dolorosa reclama
Para si, as chagas que vê suportar o FILHO que ama.


 Pois quanto sofreu aquele corpo inocente em reparação,
Tanto suporta o Coração compassivo da Mãe,

em expiação.
Ergue-te, pois e, embora irritado com os injustos judeus
Procura o Coração da MÃE DE DEUS.
Um e outro deixaram sinais bem marcados
Do caminho claro e certo feito para todos nós.
ELE aos rastros tingiu com seu sangue tais sendas,
Ela o solo regou com lágrimas tremendas.
A boa Mãe procura, talvez chorando se consolar,
Se as vezes triste e piedosa as lágrimas se entregar.
Mas se tanta dor não admite consolação
É porque a cruel morte levou a vida de sua vida,
Ao menos chorarás lastimando a injúria,
Injúria, que causou a morte violenta.

 
Mas onde te levou Mãe, o tormento dessa dor?
Que região te guardou a prantear tal morte?
Acaso as montanhas ouvirão Teus lamentos?
Onde está a terra podre dos ossos humanos?
Acaso está nas trevas a árvore da Cruz,
Onde o Teu JESUS foi pregado por Amor?
Esta tristeza é a primeira punição da Mãe,
No lugar da alegria, segura uma dor cruel,
Enquanto a turba gozava de insensata ousadia,
Impedindo Aquele que foi destruído na Cruz.

 
Mãe, mas este precioso fruto de Teu ventre
Deu vida eterna a todos os fieis que O amam,
E prefere a magia do nascer à força da morte,
Ressurgindo, deixou a ti como penhor e herança.
Mas finda Tua vida, Teu Coração perseverou no amor,
Foi para o Teu repouso com um amor muito forte!
O inimigo Te arrastou a esta cruz amarga,
Que pesou incomodo em Teu doce seio.
Morreu JESUS traspassado com terríveis chagas
ELE, formoso espírito, glória e luz do mundo;
Quanta chaga sofreu e tantas LHE causaram dores;
Efetivamente, uma vida em vós era duas!

(Natureza Humana e Natureza Divina do SENHOR)
 
Todavia conserva o Amor em Teu Coração, e jamais
Evidentemente deixou de o hospedar no Coração,
Feito em pedaços pela morte cruel que suportou
Pois à lança rasgou o Teu Coração enrijecido.
O Teu Espírito piedoso e comovido quebrou na flagelação,
A coroa de espinhos ensanguentou o Teu Coração fiel.
Contra Ti conspirou os terríveis cravos sangrentos,
Tudo que é amargo e cruel o Teu FILHO
suportou na Cruz.
 
Morto DEUS, então porque vives Tu a Tua vida?
Porque não foste arrastada em morte parecida?
E como é que, ao morrer, não levou o Teu espírito,
Se o Teu Coração sempre uniu os dois espíritos?
Admito, não pode tantas dores em Tua vida
Suportar, aguentando se não com um amor imenso;
Se não Te alentar a força do nascimento Divino
Deixará o Teu Coração sofrendo muito mais.
Vives ainda, Mãe, sofrendo muitos trabalhos,
Já te assalta no mar onda maior e cruel.


 Mas cobre Tua Face Mãe, ocultando o piedoso olhar:
Eis que a lança em fúria ataca pelo espaço leve,
Rasga o sagrado peito ao teu FILHO já morto,
Tremendo a lança indiferente no Teu Coração.
Sem dúvida tão grande sofrimento foi à síntese,
Faltava acrescentá-lo a Tuas chagas!
Esta ferida cruel permaneceu com o suplício!
Tão penoso sofrimento este castigo guardava!
Com O querido FILHO pregado a Cruz Tu querias
Que também pregassem Teus pés e mãos virginais.
ELE tomou para SI a dura Cruz e os cravos,
E deu-Te a lança para guardar no Coração.

 
Agora podes, ó Mãe, descansar, que possui o desejado,
A dor mudou para o fundo do Teu Coração.
Este golpe deixou o Teu corpo frio e desligado,
Só Tu compassiva guarda a cruel chaga no peito.
Ó chaga sagrada feita pelo ferro da lança,
Que imensamente nos faz amar o Amor!
Ó rio, fonte que transborda do Paraíso,
Que intumesce com água fartamente a terra!
Ó caminho real com pedras preciosas, porta do Céu,
Torre de abrigo, lugar de refúgio da alma pura!
Ó rosa que exala o perfume da virtude Divina!
Jóia lapidada que no Céu o pobre um trono tem!
Doce ninho onde as puras pombas põem ovinhos,
E as castas rolas têm garantia de suster os filhotinhos!
Ó chaga, que és um adorno vermelho e esplendor,
Feres os piedosos peitos com divinal amor!
Ó doce chaga, que repara os corações feridos,
Abrindo larga estrada para o Coração de CRISTO.
Prova do novo amor que nos conduz a união! (Amai uns aos outros como EU vos amo)
Porto do mar que protege o barco de afundar!

 
Em TI todos se refugiam dos inimigos que ameaçam:
TU, SENHOR, és medicina presente a todo mal!
Quem se acabrunha em tristeza, em consolo se alegra:
A dor da tristeza coloca um fardo no coração!
Por Ti Mãe, o pecador está firme na esperança,
Caminhar para o Céu, lar da bem-aventurança!
Ó Morada de Paz! Canal de água sempre vivo,
Jorrando água para a vida eterna!
Esta ferida do peito, ó Mãe, é só Tua,
Somente Tu sofres com ela, só Tu a podes dar.
Dá-me acalentar neste peito aberto pela lança,
Para que possa viver no Coração do meu SENHOR!
Entrando no âmago amoroso da piedade Divina,
Este será meu repouso, a minha casa preferida.
No sangue jorrado redimi meus delitos,
E purifiquei com água a sujeira espiritual!
Embaixo deste teto (Céu) que é morada de todos,
Viver e morrer com prazer, este é o meu grande desejo.


 




 

 
 
 
 
 
UM POUCO SOBRE PADRE JOSÉ DE ANCHIETA
 
 
 
 
JOSÉ DE ANCHIETA (1534-1597) foi um padre jesuíta espanhol. O "Apóstolo do Brasil" foi beatificado pelo Papa João Paulo II e canonizado pelo Papa Francisco, no dia 3 de abril de 2014.
 
José de Anchieta (1534-1597) nasceu em San Cristóbal de La Laguna, em Tenerife, nas ilhas Canárias, pertencente à Espanha, no dia 19 de março de 1534. Filho de João Lopez de Anchieta, fidalgo basco, e Mência Dias de Clavijo y Lerena, descendente dos conquistadores de Tenerife. Aprendeu as primeiras letras em casa, ingressou na escola dos dominicanos. Aos 14 anos, em companhia de seu irmão mais velho vai para Coimbra. Ingressa no Real Colégio das Artes, onde estuda humanidades e filosofia.
 
Em 1550, Anchieta candidata-se ao Colégio da Companhia de Jesus, em Coimbra, e em 1551 é recebido como noviço. Em 1553 é escolhido para as missões em terras brasileiras. Com um grupo de religiosos, integra a frota de Duarte da Costa, segundo Governador-Geral do Brasil, enfrentando 65 dias de viagem, chefiados pelo Padre Luís de Grã.
 
Ao descer na Capitania de São Vicente, Anchieta teve seu primeiro contato com os índios. A ação dos jesuítas na catequese dos índios se estendia de São Vicente até os campos de Piratininga. José de Anchieta, junto com outros religiosos, com o objetivo de catequizar os índios carijós, sobe a Serra do Mar, rumo ao Planalto, onde se instala e funda o Colégio Jesuíta.
 
No dia 24 de janeiro de 1554, dia da conversão do Apóstolo São Paulo, celebra uma missa, em homenagem ao Santo. Era o início da fundação da cidade de São Paulo. Logo se formou um pequeno povoado. José de Anchieta aprendeu a língua tupi, o que mais tarde lhe permitiu escrever a Gramática tupi, que seria usada em todas as missões dos jesuítas.
 
José de Anchieta participou da luta para expulsão dos franceses, que em 1555, haviam invadido o Rio de Janeiro e conquistado os índios tamoios. Em abril de 1563 parte de São Vicente com a missão de paz junto aos tamoios. Na longa missão que durou sete meses a paz havia sido restaurada. Depois de várias lutas, finalmente os franceses foram expulsos no dia 18 de janeiro de 1567.
 
Em 1577, com 43 anos e 24 passados no Brasil, Anchieta é designado provincial, o mais alto cargo da Companhia de Jesus no Brasil. Com a função de administrar os Colégios Jesuítas do país, viaja para várias cidades, entre elas, Olinda, Reritiba (hoje Anchieta) no Espírito Santo, Rio de Janeiro, Santos e São Paulo. Foram 10 anos de visitas.
 
Em 1597, o padre José de Anchieta, já doente vai para Reritiba, aldeia que fundou no Espírito Santo, onde passa seus últimos dias, falecendo no dia 09 de junho de 1597. O padre José de Anchieta foi canonizado, pelo Para Francisco, no dia 03 de abril de 2014.
 
 
 
 
 
 
 
 
A Praia de Iperoig é o “berço” dos principais acontecimentos da história de Ubatuba, foi nesta praia em suas areias, que o apóstolo do Brasil, canonizado em 2014, Padre José de Anchieta, escreveu os 4072 versos em Latim do “Poema à Virgem”, quando foi prisioneiro dos Índios Tupinambás.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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