Denise Emmer - escritora e cantora.
Poeta, cantora, violoncelista, musicista, graduada em física, filósofa, adepta do montanhismo e ganhadora de importantes prêmios literários. Ela também é filha de dois importantes personagens da cultura brasileira: a novelista Janete Clair e o dramaturgo Dias Gomes. Denise Emmer, de 57 anos, é autora homenageada da 2ª Festa Literária de Divinópolis. Neste fim de semana ela marcou presença na cidade para lançar o livro "Poema Cenário e Outros Silêncios".
Em entrevista ao G1, Denise Emmer falou sobre a satisfação em poder lançar a obra em Minas Gerais. "Eu adoro a culinária mineira, especialmente o pão de queijo. Sou carioca da gema, mas meu coração é mineiro. Tenho um sítio em Juiz de Fora", comentou.
Desde criança, Denise já demonstrava talentos que influenciaram na importante decisão sobre que profissão seguir. A qualidade da educação que recebeu dos pais também contribuiu.
"Comecei muito cedo a estudar piano. Fui autodidata em violão, ainda menina. Eu já demonstrava ter um ouvido musical sensível e, por isso, fui colocada por meus pais em aulas de piano. Comecei a compor e não parei mais", recordou.
Ainda pré-adolescente, acumulava em casa várias pilhas de papéis com rascunhos de poesias. "Encantei-me com a poesia de Cecília Meireles, que conheci na escola. Achei que aquela linguagem era a tradução da beleza. Minha segunda influência foi Carlos Drummond de Andrade. Também gosto bastante de Adélia Prado. Seria uma satisfação muito grande encontrá-la em Divinópolis", pontuou.
Não me imponho uma demanda, com prazos para concluir. Quando o poeta faz isso, a poesia fica falsa.
Denise Emmer, poeta
Com a criação poética aflorando, publicou seu primeiro livro aos 15 anos. "Eu ainda era muito imatura, verdade, mas já tinha uma carga de poeta. 'Geração Estrela' é um livro que incluo em minha bibliografia, mas eu não colocaria nenhum poema dele numa antologia. A diferença das minhas primeiras produções é muito grande às de hoje. Isso é muito bacana, pois me permite ver minha evolução", acrescentou.
Com uma voz marcante, fez questão de frisar que não escreve poemas nem lança livros em ritmo industrial. Esse tipo de coisa, acredita, prejudica a qualidade do texto e transforma o autor em algo mecânico. "A poesia é que manda e dita meu ritmo. Não me imponho uma demanda, com prazos para concluir. Quando o poeta faz isso, a poesia fica falsa. Perde autenticidade, porque poesia tem a ver com verdade. No momento em que você se obriga a escrever, deixa de ser verdadeiro".
Denise Emmer - escritora e cantora.
Para Denise, cada ato de escrever é um momento único. "A poesia surge lenta e gradativa, até se tornar absoluta na magia da criação. Gosto do delicado processo de apurar os versos e buscar as palavras. A poesia não chega pronta. A inspiração é um mistério do subconsciente e requer trabalho. Muitas vezes as imagens surgem como um quadro em movimento e música. Meu ofício é aprimorar cada verso, como se fosse uma escultura".
A autora também afirmou que o fato de ser filha de dois artistas consagrados não tornou a busca pela carreira literária mais fácil. "Justamente por ser filha de quem sou, as pessoas exigem mais de mim. Tive que provar meu próprio valor", afirmou.
Detalhe da capa de 'Poema Cenário e Outros
Silêncios' (Foto: 7Letras/Divulgação)
Silêncios' (Foto: 7Letras/Divulgação)
Sobre o livro
O livro "Poema Cenário e Outros Silêncios" não se propõe a ser uma obra antológica. "Eu não queria um livro muito volumoso. O critério de escolha foi pelos poemas que mais gosto", explicou.
Embora o material não seja de poemas inéditos, alguns deles ganham essa característica, como é o caso de "Poema Cenário", lançado em 2013, e que nesta obra vem com nova roupagem e ganha um frescor de ineditismo.
"Posso considerá-lo inédito, de certa forma, porque ele aparece como foi criado, ou seja, sem a interferência de ilustrações. A primeira publicação foi ilustrada e ocorreu uma forte interferência no texto. Como neste volume não há ilustrações, a leitura torna-se mais fluente e o poema só ganha com isso, como entendimento e compreensão do texto poético", explicou.
O livro é aberto justamente por "Poema Cenário", dedicado aos pais. Nele, Denise expõe, de forma lúdica, com imagens desconcertantes e inesperadas, a perplexidade e o desencanto por uma morte súbita e violenta. "Estou sentada sobre um penhasco de vidro/ Aguardando teu adeus que nunca houve/ Fostes numa asa sem flauta/ E sequer ouvi o som dos teus sapatos/ Enquanto subias para os prédios azulados", diz um trecho do poema.
A autora explica a escolha por alguns poemas, como é o caso de "Lampadário". "Esse é o poema título de um livro que tenho muito apreço e que me concedeu o prêmio da ABL [Associação Brasileira de Letras] em 2009. É um poema que fala sobre distâncias infinitas e perenes das pessoas que perdemos ao longo da vida", detalhou.
O livro reúne 39 poemas escolhidos 'a dedo' pela autora, com base em diferentes emoções que cada um deles provocou nela mesma.
Denise Emmer (Foto: Divulgação)
O poeta, editor e ensaísta Alexei Bueno, afirmou que "Poema Cenário e Outros Silêncios" consagra Denise Emmer como uma das grandes vozes lírico-elegíacas da poesia contemporânea brasileira. "Sem, no entanto, limitar-se a isso. Por essa índole, por essa procura de uma visão totalizante do real, se filia a uma sólida ascendência que reúne nomes como os de Dante Milano, Abgar Renault, Cecília Meireles ou Ivan Junqueira, entre outros, formadores de uma espécie de rio subterrâneo que flui incólume, entre a civilização do espetáculo e a épica ignorância nacional".
Ivan Junqueira, jornalista, poeta e crítico literário brasileiro, disse que encontra na poesia de Denise Emmer uma permanente surpresa ou assombro. "A melancolia ceciliana dos verdadeiros poetas; invenção vocabular, metáfora e imagética. Alguns poemas são absolutamente admiráveis".
A escritora Edla Van Steen também leu e aprovou o livro. "Conversa com o pai, 'Poema Cenário' é belíssimo. Um dos meus poemas preferidos. A obra de Denise Emmer não pode faltar nas boas livrarias".
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Alouette - Denise Emmer
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