O
HOMEM E O MAR
CHARLES-PIERRE BAUDELAIRE
Homem
livre, hás de ser sempre amigo do mar,
O
mar é teu espelho e contemplas a mágoa
Da
alma no desdobrar infindo de sua água,
E
nem ela abismo é menos de amargurar.
Apraz-te
mergulhar em tua própria imagem;
O
olhar o beija e o braço o abraça, e o coração
No
seu próprio rumor encontra distração,
Ao
ruído desta queixa indômita e selvagem.
Mas
ambos sempre sois tenebrosos e quedos:
Homem,
ninguém sondou teu fundo sorvedouro,
Mar,
ninguém viu jamais teu íntimo tesouro*,
Porque
muito sabeis guardar vossos segredos!
Porém
passados são evos inumeráveis
Sem
que remorso ou pena a vossa luta corte,
De
tal modo quereis a carnagem e a morte,
Ó
eternos rivais, ó irmãos implacáveis!
ORIGINAL
/ FRANCÊS
L’Homme
et la Mer
Homme
libre, toujours tu chériras la mer!
La
mer est ton miroir; tu contemples ton âme
Dans
le déroulement infini de sa lame,
Et
ton esprit n’est pas un gouffre moins amer.
Tu
te plais à plonger au sein de ton image;
Tu
l’embrasses des yeux et des bras, et ton coeur
Se
distrait quelquefois de sa propre rumeur
Au
bruit de cette plainte indomptable et sauvage
Vous
êtes tous les deux ténébreux et discrets:
Homme,
nul n’a sondé le fond de tes abîmes,
O
mer, nul ne connaît tes richesses intimes,
Tant
vous êtes jaloux de garder vos secrets!
Et
cependant voilà des siècles innombrables
Que
vous vous combattez sans pitié ni remords,
Tellement
vous aimez le carnage et la mort,
O
lutteurs éternels, ô frères implacables!
Tradução: Jamil Almansur Haddad
*Nota de Jamil Almansur Haddad: Esta solução "sorvedouro/tesouro" é perfeita. Aproveitamo-nos da lição de Augusto de Lima.
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Charles-Pierre
Baudelaire (1821 — 1867), nascido em Paris — França, foi poeta, crítico de
arte, tradutor e literato; escreveu e publicou: As Flores do Mal (poemas, 1857), Os Paraísos Artificiais (ensaios,
1860) e outros;
Considerado
um dos precursores do Simbolismo e reconhecido internacionalmente como um dos
fundadores da tradição moderna em poesia, sua obra teórica também influenciou
profundamente as artes plásticas do século XIX.
Capa do livro: As flores do Mal - Les Fleurs du Mal
Tradução de Helena Amaral
2ª edição.
CHARLES-PIERRE BAUDELAIRE
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Um belo poema de Baudelaire, Alberto. Sim, um "espelho"! Certa vez, escrevi: "O mar é um poema vivo que todos deveríamos ler".
Abração, amigo!
Hilário.
Hilário Francisconi
é escritor e jornalista
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UMA HOMENAGEM DO
ALBERTO ARAÚJO & AMIGOS
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