28 de dezembro de 2022

CÂNTICO DOS CÂNTICOS, QUE É DE SALOMÂO - POEMA COMPLETO




O CÂNTICO DOS CÂNTICOS conhecido também como Cantares, Cânticos de Salomão ou Cântico Superlativo, é o quarto livro da terceira seção (Ketuvim) da Bíblia hebraica e um dos livros poéticos e sapienciais do Antigo Testamento da Bíblia cristã. É um dos cinco Megillot ("cinco rolos") e é lido no Sabá durante a Páscoa judaica, marcando o começo da colheita dos cereais e comemorando o Êxodo do Egito.

No contexto das escrituras cristãs, Cântico dos Cânticos é único por celebrar o amor sexual. Ele dá "voz para dois amantes que se elogiam e se desejam com convites para o prazer mútuo".

Os dois se desejam e estão felizes em sua intimidade sexual. As "filhas de Jerusalém" formam um coro para os amantes, funcionando como uma audiência cuja participação nos encontros eróticos dos amantes facilita a participação do leitor. A tradição judaica o interpreta como uma alegoria da relação entre Javé e Israel. A tradição cristã, além de apreciar o sentido literal, de uma canção romântica entre um homem e uma mulher, interpretou também o poema como uma alegoria de Cristo e sua "noiva", a Igreja Cristã.

 

EIS O POEMA COMPLETO

CÂNTICO DOS CÂNTICOS, QUE É DE SALOMÂO.

CAPÍTULO 1

O poeta canta sobre o amor e a devoção.

1 aCântico dos cânticos, que é de Salomão.

2 Beije-me ele com os beijos da sua boca; porque melhor é o teu amor do que o vinho.

3 Suave é o aroma dos teus unguentos, como o unguento derramado o teu nome é; por isso as virgens te amam.

4 Leva-me tu, correremos após ti. O rei me introduziu nas suas recâmaras; em ti nos regozijaremos e nos alegraremos; do teu amor nos lembraremos, mais do que do vinho; com razão te amam.

5 Morena sou, porém formosa, ó filhas de Jerusalém, como as tendas de Quedar, como as cortinas de Salomão.

6 Não olheis para o eu ser morena, porque o sol resplandeceu sobre mim; os filhos de minha mãe se indignaram contra mim, puseram-me por guarda de vinhas; a minha vinha, que me pertence, não guardei.

7 Dize-me, ó tu, a quem a minha alma ama: Onde apascentas o teu rebanho, onde o recolhes pelo meio-dia, pois por que razão seria eu como a que anda errante ao pé dos rebanhos de teus companheiros?

8 Se tu não o sabes, ó mais formosa entre as mulheres, vai-te pelas pisadas das ovelhas, e apascenta as tuas cabras junto às moradas dos pastores.

9 Às éguas dos carros de Faraó te comparo, ó amada minha.

10 Formosas são as tuas faces entre os teus enfeites, o teu pescoço, com os colares.

11 Enfeites de ouro te faremos, com incrustações de prata.

12 Enquanto o rei está assentado à sua mesa, o meu nardo exala o seu perfume.

13 O meu amado é para mim um ramalhete de mirra, passará a noite entre os meus seios.

14 Um ramalhete de hena nas vinhas de En-Gedi é para mim o meu amado.

15 Eis que és formosa, ó amada minha, eis que és formosa; os teus olhos são como os das pombas.

16 Eis que és formoso e amável, ó amado meu; o nosso leito é viçoso.

17 As traves da nossa casa são de cedro, as nossas varandas, de cipreste.

 

CAPÍTULO 2

 

Os bem-amados são louvados e descritos.

1 Eu sou a rosa de Sarom, o lírio dos vales.

2 Qual o lírio entre os espinhos, tal é a minha amada entre as filhas.

3 Qual a macieira entre as árvores do bosque, tal é o meu amado entre os filhos; desejo muito a sua sombra, e debaixo dela me assento, e o seu fruto é doce ao meu paladar.

4 Levou-me à sala do banquete, e o seu estandarte sobre mim era o amor.

5 Sustentai-me com passas, aconfortai-me com maçãs, porque desfaleço de amor.

6 A sua mão esquerda esteja debaixo da minha cabeça, e a sua mão direita me abrace.

7 Conjuro-vos, ó filhas de Jerusalém, pelas corças e cervas do campo, que não acordeis nem desperteis o meu amor, até que ele o queira.

8 Esta é a voz do meu amado! Ei-lo aí, que já vem saltando sobre os montes, pulando sobre os outeiros.

9 O meu amado é semelhante ao corço, ou ao filhote do cervo; eis que está detrás da nossa parede, olhando pelas janelas, espreitando pelas grades.

10 O meu amado responde e me diz: Levanta-te, amada minha, formosa minha, e vem.

11 Porque eis que passou o inverno; a chuva cessou, e se foi;

12 As flores se mostram na terra, o tempo de cantar chega, e a voz da pombinha se ouve em nossa terra;

13 A figueira brotou os seus figuinhos, e as vides em flor exalam o seu perfume; levanta-te, amada minha, formosa minha, e vem.

14 Pomba minha, que andas pelas fendas das penhas, no oculto das ladeiras, mostra-me a tua face, faze-me ouvir a tua voz, porque a tua voz é doce, e a tua face, formosa.

15 Apanhai-nos as raposas, as raposinhas, que fazem mal às vinhas, porque as nossas vinhas estão em flor.

16 O meu amado é meu, e eu sou dele; ele apascenta o seu rebanho entre os lírios.

17 Antes que rompa o dia, e fujam as sombras, volta, amado meu; faze-te semelhante ao corço ou ao filhote do cervo sobre os montes de Beter.

 

CAPÍTULO 3

 

Apresenta-se uma canção de amor a respeito de Salomão.

1 De noite busquei em minha cama a quem ama a minha alma; busquei-o, e não o achei.

2 Levantar-me-ei, pois, e rodearei a cidade; pelas ruas e pelas praças buscarei a quem ama a minha alma; busquei-o, e não o achei.

3 Acharam-me os guardas, que rondavam pela cidade; eu lhes perguntei: Vistes a quem ama a minha alma?

4 Apartando-me eu um pouco deles, logo achei a quem ama a minha alma; agarrei-me a ele, e não o larguei, até que o introduzi em casa de minha mãe, na câmara daquela que me gerou.

5 Conjuro-vos, ó filhas de Jerusalém, pelas corças e cervas do campo, que não acordeis, nem desperteis o meu amor, até que ele o queira.

6 Quem é esta que sobe do deserto, como colunas de fumaça, perfumada de mirra, de incenso, e de toda a sorte de pós aromáticos do mercador?

7 Eis que é a liteira de Salomão; sessenta valentes estão ao redor dela, dos valentes de Israel.

8 Todos armados de espadas, destros na guerra, cada um com a sua espada à coxa por causa dos temores noturnos.

9 O rei Salomão fez para si um liteira de madeira do Líbano.

10 Fez-lhe as colunas de prata, o estrado de ouro, o assento de púrpura, o interior coberto com o amor pelas filhas de Jerusalém.

11 Saí, ó filhas de Sião, e contemplai o rei Salomão com a coroa com que o coroou sua mãe no dia do seu casamento e no dia do júbilo do seu coração.

 

CAPÍTULO 4

 

Canção que descreve a beleza da bem-amada do poeta.

1 Eis que és formosa, amada minha, eis que és formosa; os teus olhos são como os das pombas por detrás do teu véu; o teu cabelo é como o rebanho de cabras que pastam no monte de Gileade.

2 Os teus dentes são como o rebanho das ovelhas tosquiadas, que sobem do lavadouro, e todas elas produzem gêmeos, e nenhuma há estéril entre elas.

3 Os teus lábios são como um fio de escarlata, e o teu falar é doce; a fonte da tua cabeça é como um pedaço de romã por detrás do teu véu.

4 O teu pescoço é como a torre de Davi, edificada para pendurar armas; mil escudos pendem dela, todos broqueis de valorosos.

5 Os teus dois seios são como dois filhotes gêmeos da corça, que se apascentam entre os lírios.

6 Antes que rompa o dia, e fujam as sombras, irei ao monte da mirra e ao outeiro do incenso.

7 Tu és toda formosa, amada minha, e em ti não há mancha.

8 Vem comigo do Líbano, ó esposa, comigo do Líbano vem; olha desde o cume de Amana, desde o cume de Senir e de Hermom, desde as moradas dos leões, desde os montes dos leopardos.

9 Arrebataste-me o coração, aminha irmã, ó esposa; arrebataste-me o coração com um dos teus olhos, com um colar do teu pescoço.

10 Que belos são os teus amores, minha irmã! Ó, esposa minha, quão melhores são os teus amores do que o vinho! e o aroma dos teus unguentos, do que o de todas as especiarias!

11 Favos de mel estão manando dos teus lábios, ó esposa! mel e leite estão debaixo da tua língua, e o cheiro dos teus vestidos é como o cheiro do Líbano.

12 Jardim fechado és tu, minha irmã, esposa minha, manancial fechado, fonte selada.

13 Os teus renovos são um pomar de romãs, com frutos excelentes, a ahena com o nardo,

14 O nardo, e o açafrão, o cálamo, e a canela, com toda a sorte de árvores de incenso, a mirra e aloés, com todas as principais especiarias.

15 És a fonte dos jardins, poço das águas vivas, que correm do Líbano!

16 Levanta-te, vento norte, e vem tu, vento sul; assopra no meu jardim, para que destilem os seus aromas. Ah, se viesse o meu amado para o seu jardim, e comesse os seus frutos excelentes!

 

CAPÍTULO 5

 

Continuação da canção de amor e afeto.

1 Já vim para o meu jardim, minha irmã, ó esposa; colhi a minha mirra com a minha especiaria, comi o meu favo com o meu mel, bebi o meu vinho com o meu leite; comei, amigos, bebei, ó amados, e embriagai-vos.

2 Eu estava dormindo, mas o meu coração vigiava; eis a voz do meu amado que estava batendo: Abre-me, minha irmã, minha amiga, minha pomba, minha perfeita, porque a minha cabeça está cheia de orvalho, e os meus cabelos, das gotas da noite.

3 Já despi os meus vestidos; como os tornarei a vestir? Já lavei os meus pés; como os tornarei a sujar?

4 O meu amado pôs a sua mão pela fresta da porta, e as minhas entranhas estremeceram por causa dele.

5 Eu me levantei para abrir ao meu amado, e as minhas mãos destilavam mirra, e os meus dedos gotejavam mirra sobre as aldravas da fechadura.

6 Eu abri ao meu amado, mas já o meu amado se tinha retirado, e se tinha ido; a minha alma se derreteu quando ele falou; busquei-o e não o achei, chamei-o, e não me respondeu.

7 Acharam-me os guardas que rondavam pela cidade; espancaram-me, feriram-me, tiraram-me o meu véu os guardas dos muros.

8 Conjuro-vos, ó filhas de Jerusalém, que, se achardes o meu amado, lhe digais que estou enferma de amor.

 

CAPÍTULO 6

 

Continuação da canção de amor.

1 Para onde foi o teu amado, ó mais formosa entre as mulheres? Que rumo tomou o teu amado, para que o busquemos contigo?

2 O meu amado desceu ao seu jardim, aos canteiros da especiaria, para se apascentar nos jardins e para colher os lírios.

3 Eu sou do meu amado, e o meu amado é meu; ele se apascenta entre os lírios.

4 Formosa és, amada minha, como Tirza, aprazível como Jerusalém, formidável como um exército com bandeiras.

5 Desvia de mim os teus olhos, porque eles me perturbam. O teu cabelo é como o rebanho das cabras que pastam em Gileade.

6 Os teus dentes são como o rebanho de ovelhas que sobem do lavadouro, e todas produzem gêmeos, e não há estéril entre elas.

7 Como um pedaço de romã, assim são as tuas faces por detrás do teu véu.

8 Sessenta são as rainhas, e oitenta, as concubinas, e as virgens, sem número.

9 Porém uma é a minha pomba, a minha perfeita, a única de sua mãe, e a mais querida daquela que a deu à luz; vendo-a, as filhas a chamarão bem-aventurada, as rainhas e as concubinas a louvarão.

10 Quem é esta que aparece como a alva do dia, formosa como a lua, brilhante como o sol, terrível como um exército com bandeiras?

11 Desci ao jardim das nogueiras, para ver os novos frutos do vale, para ver se floresciam as vides e brotavam as romãzeiras.

12 Antes de eu o sentir, me pôs a minha alma nos carros do meu nobre povo.

13 Volta, volta, ó sulamita, volta, volta, para que nós te vejamos. Por que olhas para a sulamita como para as fileiras de dois exércitos?

 

CAPÍTULO 7

 

Continuação da canção de amor.

1 Que formosos são os teus pés nos sapatos, ó filha do príncipe! Os contornos de tuas coxas são como joias, segundo a obra de mãos de artífice.

2 O teu umbigo, como uma taça redonda, a que não falta bebida; o teu ventre, como montão de trigo, sitiado de lírios.

3 Os teus dois seios, como dois filhos gêmeos da corça.

4 O teu pescoço, como a torre de marfim; os teus olhos, como os viveiros de Hesbom, junto à porta de Bate-Rabim; o teu nariz, como torre do Líbano, que olha para Damasco.

5 A tua cabeça sobre ti é como o monte Carmelo, e os cabelos da tua cabeça, como a púrpura; o rei está preso às tuas tranças.

6 Quão formosa, e quão aprazível és, ó amor, em delícias!

7 Esta tua estatura é semelhante à palmeira, e os teus seios são semelhantes aos cachos de uvas.

8 Dizia eu: Subirei à palmeira, pegarei em seus ramos; e então os teus seios serão como os cachos na vide, e o aroma das tuas narinas, como o das maçãs.

9 E o teu paladar, como o bom vinho para o meu amado, que se bebe suavemente, e faz com que falem os lábios dos que dormem.

10 Eu sou do meu amado, e ele me tem afeição.

11 Vem, ó amado meu, saiamos nós ao campo, passemos as noites nas aldeias.

12 Levantemo-nos de manhã para ir às vinhas, vejamos se florescem as vides, se a flor se abre, se já brotam as romãzeiras; ali te darei o meu grande amor.

13 As amandrágoras exalam o seu cheiro, e às nossas portas há toda a sorte de excelentes frutos, novos e velhos; ó amado meu, eu os guardei para ti.

 

CAPÍTULO 8

 

As muitas águas não podem apagar o amor.

1 Ah! Quem me dera que me foras como irmão, que mamou nos peitos de minha mãe! Quando te achasse na rua, te beijaria, e não me desprezariam!

2 Te levaria e introduziria na casa de minha mãe, e tu me ensinarias; e te daria de beber vinho aromático e do mosto das minhas romãs.

3 A sua mão esquerda esteja debaixo da minha cabeça, e a sua direita me abrace.

4 Conjuro-vos, ó filhas de Jerusalém, que não acordeis nem desperteis o meu amor, até que ele o queira.

5 Quem é esta que sobe do deserto, e vem encostada ao seu amado? Debaixo de uma macieira te despertei, ali te gerou tua mãe com dores; ali te gerou com dores aquela que te deu à luz.

6 Põe-me como selo sobre o teu coração, como selo sobre o teu braço, porque o amor é forte como a morte, e duro como a sepultura, o ciúme; as suas brasas são brasas de fogo, labaredas intensas.

7 As muitas águas não poderiam apagar esse amor, nem os rios afogá-lo; ainda que desse alguém todos os bens de sua casa por esse amor, certamente os desprezariam.

8 Temos uma irmã pequena, que ainda não tem seios; que faremos a esta nossa irmã, no dia em que dela se falar?

9 Se ela for um muro, edificaremos sobre ela um palácio de prata; e se ela for uma porta, a cercaremos com tábuas de cedro.

10 Eu sou um muro, e os meus seios são como torres; então eu era aos seus olhos como aquela que encontrou a paz.

11 Teve Salomão uma vinha em Baal-Hamom; entregou essa vinha a uns guardas; e cada um lhe trazia, pelo seu fruto, mil peças de prata.

12 A minha vinha, que tenho, está diante de mim; as mil peças de prata são para ti, ó Salomão; e duzentas, para os guardas do seu fruto.

13 Ó tu, a que habitas nos jardins, para a tua voz os companheiros atentam; faze-ma, pois, também ouvir.

14 Vem depressa, amado meu, e faz-te semelhante ao corço ou ao filhote do cervo sobre os montes aromáticos.



 

 

 

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