O CÂNTICO DOS
CÂNTICOS conhecido também como Cantares, Cânticos de Salomão ou Cântico
Superlativo, é o quarto livro da terceira seção (Ketuvim) da Bíblia hebraica e
um dos livros poéticos e sapienciais do Antigo Testamento da Bíblia cristã. É
um dos cinco Megillot ("cinco rolos") e é lido no Sabá durante a
Páscoa judaica, marcando o começo da colheita dos cereais e comemorando o Êxodo
do Egito.
No contexto das escrituras
cristãs, Cântico dos Cânticos é único por celebrar o amor sexual. Ele dá
"voz para dois amantes que se elogiam e se desejam com convites para o
prazer mútuo".
Os dois se desejam e
estão felizes em sua intimidade sexual. As "filhas de Jerusalém"
formam um coro para os amantes, funcionando como uma audiência cuja
participação nos encontros eróticos dos amantes facilita a participação do
leitor. A tradição judaica o interpreta como uma alegoria da relação entre Javé
e Israel. A tradição cristã, além de apreciar o sentido literal, de uma canção
romântica entre um homem e uma mulher, interpretou também o poema como uma
alegoria de Cristo e sua "noiva", a Igreja Cristã.
EIS O POEMA COMPLETO
CÂNTICO DOS CÂNTICOS,
QUE É DE SALOMÂO.
CAPÍTULO 1
O poeta canta sobre o
amor e a devoção.
1 aCântico dos
cânticos, que é de Salomão.
2 Beije-me ele com os
beijos da sua boca; porque melhor é o teu amor do que o vinho.
3 Suave é o aroma dos
teus unguentos, como o unguento derramado o teu nome é; por isso as virgens te
amam.
4 Leva-me tu,
correremos após ti. O rei me introduziu nas suas recâmaras; em ti nos
regozijaremos e nos alegraremos; do teu amor nos lembraremos, mais do que do
vinho; com razão te amam.
5 Morena sou, porém
formosa, ó filhas de Jerusalém, como as tendas de Quedar, como as cortinas de
Salomão.
6 Não olheis para o
eu ser morena, porque o sol resplandeceu sobre mim; os filhos de minha mãe se
indignaram contra mim, puseram-me por guarda de vinhas; a minha vinha, que me
pertence, não guardei.
7 Dize-me, ó tu, a
quem a minha alma ama: Onde apascentas o teu rebanho, onde o recolhes pelo
meio-dia, pois por que razão seria eu como a que anda errante ao pé dos
rebanhos de teus companheiros?
8 Se tu não o sabes,
ó mais formosa entre as mulheres, vai-te pelas pisadas das ovelhas, e apascenta
as tuas cabras junto às moradas dos pastores.
9 Às éguas dos carros
de Faraó te comparo, ó amada minha.
10 Formosas são as
tuas faces entre os teus enfeites, o teu pescoço, com os colares.
11 Enfeites de ouro
te faremos, com incrustações de prata.
12 Enquanto o rei
está assentado à sua mesa, o meu nardo exala o seu perfume.
13 O meu amado é para
mim um ramalhete de mirra, passará a noite entre os meus seios.
14 Um ramalhete de hena
nas vinhas de En-Gedi é para mim o meu amado.
15 Eis que és
formosa, ó amada minha, eis que és formosa; os teus olhos são como os das
pombas.
16 Eis que és formoso
e amável, ó amado meu; o nosso leito é viçoso.
17 As traves da nossa
casa são de cedro, as nossas varandas, de cipreste.
CAPÍTULO
2
Os bem-amados são
louvados e descritos.
1 Eu sou a rosa de
Sarom, o lírio dos vales.
2 Qual o lírio entre
os espinhos, tal é a minha amada entre as filhas.
3 Qual a macieira
entre as árvores do bosque, tal é o meu amado entre os filhos; desejo muito a
sua sombra, e debaixo dela me assento, e o seu fruto é doce ao meu paladar.
4 Levou-me à sala do
banquete, e o seu estandarte sobre mim era o amor.
5 Sustentai-me com
passas, aconfortai-me com maçãs, porque desfaleço de amor.
6 A sua mão esquerda
esteja debaixo da minha cabeça, e a sua mão direita me abrace.
7 Conjuro-vos, ó
filhas de Jerusalém, pelas corças e cervas do campo, que não acordeis nem
desperteis o meu amor, até que ele o queira.
8 Esta é a voz do meu
amado! Ei-lo aí, que já vem saltando sobre os montes, pulando sobre os
outeiros.
9 O meu amado é
semelhante ao corço, ou ao filhote do cervo; eis que está detrás da nossa
parede, olhando pelas janelas, espreitando pelas grades.
10 O meu amado
responde e me diz: Levanta-te, amada minha, formosa minha, e vem.
11 Porque eis que
passou o inverno; a chuva cessou, e se foi;
12 As flores se
mostram na terra, o tempo de cantar chega, e a voz da pombinha se ouve em nossa
terra;
13 A figueira brotou
os seus figuinhos, e as vides em flor exalam o seu perfume; levanta-te, amada
minha, formosa minha, e vem.
14 Pomba minha, que
andas pelas fendas das penhas, no oculto das ladeiras, mostra-me a tua face,
faze-me ouvir a tua voz, porque a tua voz é doce, e a tua face, formosa.
15 Apanhai-nos as
raposas, as raposinhas, que fazem mal às vinhas, porque as nossas vinhas estão
em flor.
16 O meu amado é meu,
e eu sou dele; ele apascenta o seu rebanho entre os lírios.
17 Antes que rompa o
dia, e fujam as sombras, volta, amado meu; faze-te semelhante ao corço ou ao
filhote do cervo sobre os montes de Beter.
CAPÍTULO 3
Apresenta-se uma
canção de amor a respeito de Salomão.
1 De noite busquei em
minha cama a quem ama a minha alma; busquei-o, e não o achei.
2 Levantar-me-ei,
pois, e rodearei a cidade; pelas ruas e pelas praças buscarei a quem ama a
minha alma; busquei-o, e não o achei.
3 Acharam-me os
guardas, que rondavam pela cidade; eu lhes perguntei: Vistes a quem ama a minha
alma?
4 Apartando-me eu um
pouco deles, logo achei a quem ama a minha alma; agarrei-me a ele, e não o
larguei, até que o introduzi em casa de minha mãe, na câmara daquela que me
gerou.
5 Conjuro-vos, ó
filhas de Jerusalém, pelas corças e cervas do campo, que não acordeis, nem
desperteis o meu amor, até que ele o queira.
6 Quem é esta que
sobe do deserto, como colunas de fumaça, perfumada de mirra, de incenso, e de
toda a sorte de pós aromáticos do mercador?
7 Eis que é a liteira
de Salomão; sessenta valentes estão ao redor dela, dos valentes de Israel.
8 Todos armados de
espadas, destros na guerra, cada um com a sua espada à coxa por causa dos
temores noturnos.
9 O rei Salomão fez
para si um liteira de madeira do Líbano.
10 Fez-lhe as colunas
de prata, o estrado de ouro, o assento de púrpura, o interior coberto com o
amor pelas filhas de Jerusalém.
11 Saí, ó filhas de
Sião, e contemplai o rei Salomão com a coroa com que o coroou sua mãe no dia do
seu casamento e no dia do júbilo do seu coração.
CAPÍTULO 4
Canção que descreve a
beleza da bem-amada do poeta.
1 Eis que és formosa,
amada minha, eis que és formosa; os teus olhos são como os das pombas por
detrás do teu véu; o teu cabelo é como o rebanho de cabras que pastam no monte
de Gileade.
2 Os teus dentes são
como o rebanho das ovelhas tosquiadas, que sobem do lavadouro, e todas elas
produzem gêmeos, e nenhuma há estéril entre elas.
3 Os teus lábios são
como um fio de escarlata, e o teu falar é doce; a fonte da tua cabeça é como um
pedaço de romã por detrás do teu véu.
4 O teu pescoço é
como a torre de Davi, edificada para pendurar armas; mil escudos pendem dela,
todos broqueis de valorosos.
5 Os teus dois seios
são como dois filhotes gêmeos da corça, que se apascentam entre os lírios.
6 Antes que rompa o
dia, e fujam as sombras, irei ao monte da mirra e ao outeiro do incenso.
7 Tu és toda formosa,
amada minha, e em ti não há mancha.
8 Vem comigo do
Líbano, ó esposa, comigo do Líbano vem; olha desde o cume de Amana, desde o
cume de Senir e de Hermom, desde as moradas dos leões, desde os montes dos
leopardos.
9 Arrebataste-me o
coração, aminha irmã, ó esposa; arrebataste-me o coração com um dos teus olhos,
com um colar do teu pescoço.
10 Que belos são os
teus amores, minha irmã! Ó, esposa minha, quão melhores são os teus amores do
que o vinho! e o aroma dos teus unguentos, do que o de todas as especiarias!
11 Favos de mel estão
manando dos teus lábios, ó esposa! mel e leite estão debaixo da tua língua, e o
cheiro dos teus vestidos é como o cheiro do Líbano.
12 Jardim fechado és
tu, minha irmã, esposa minha, manancial fechado, fonte selada.
13 Os teus renovos
são um pomar de romãs, com frutos excelentes, a ahena com o nardo,
14 O nardo, e o
açafrão, o cálamo, e a canela, com toda a sorte de árvores de incenso, a mirra
e aloés, com todas as principais especiarias.
15 És a fonte dos
jardins, poço das águas vivas, que correm do Líbano!
16 Levanta-te, vento
norte, e vem tu, vento sul; assopra no meu jardim, para que destilem os seus
aromas. Ah, se viesse o meu amado para o seu jardim, e comesse os seus frutos excelentes!
CAPÍTULO 5
Continuação da canção
de amor e afeto.
1 Já vim para o meu
jardim, minha irmã, ó esposa; colhi a minha mirra com a minha especiaria, comi
o meu favo com o meu mel, bebi o meu vinho com o meu leite; comei, amigos,
bebei, ó amados, e embriagai-vos.
2 Eu estava dormindo,
mas o meu coração vigiava; eis a voz do meu amado que estava batendo: Abre-me,
minha irmã, minha amiga, minha pomba, minha perfeita, porque a minha cabeça
está cheia de orvalho, e os meus cabelos, das gotas da noite.
3 Já despi os meus
vestidos; como os tornarei a vestir? Já lavei os meus pés; como os tornarei a
sujar?
4 O meu amado pôs a
sua mão pela fresta da porta, e as minhas entranhas estremeceram por causa
dele.
5 Eu me levantei para
abrir ao meu amado, e as minhas mãos destilavam mirra, e os meus dedos
gotejavam mirra sobre as aldravas da fechadura.
6 Eu abri ao meu
amado, mas já o meu amado se tinha retirado, e se tinha ido; a minha alma se
derreteu quando ele falou; busquei-o e não o achei, chamei-o, e não me
respondeu.
7 Acharam-me os
guardas que rondavam pela cidade; espancaram-me, feriram-me, tiraram-me o meu
véu os guardas dos muros.
8 Conjuro-vos, ó
filhas de Jerusalém, que, se achardes o meu amado, lhe digais que estou enferma
de amor.
CAPÍTULO 6
Continuação da canção
de amor.
1 Para onde foi o teu
amado, ó mais formosa entre as mulheres? Que rumo tomou o teu amado, para que o
busquemos contigo?
2 O meu amado desceu
ao seu jardim, aos canteiros da especiaria, para se apascentar nos jardins e
para colher os lírios.
3 Eu sou do meu
amado, e o meu amado é meu; ele se apascenta entre os lírios.
4 Formosa és, amada
minha, como Tirza, aprazível como Jerusalém, formidável como um exército com
bandeiras.
5 Desvia de mim os
teus olhos, porque eles me perturbam. O teu cabelo é como o rebanho das cabras
que pastam em Gileade.
6 Os teus dentes são
como o rebanho de ovelhas que sobem do lavadouro, e todas produzem gêmeos, e
não há estéril entre elas.
7 Como um pedaço de
romã, assim são as tuas faces por detrás do teu véu.
8 Sessenta são as
rainhas, e oitenta, as concubinas, e as virgens, sem número.
9 Porém uma é a minha
pomba, a minha perfeita, a única de sua mãe, e a mais querida daquela que a deu
à luz; vendo-a, as filhas a chamarão bem-aventurada, as rainhas e as concubinas
a louvarão.
10 Quem é esta que
aparece como a alva do dia, formosa como a lua, brilhante como o sol, terrível
como um exército com bandeiras?
11 Desci ao jardim
das nogueiras, para ver os novos frutos do vale, para ver se floresciam as
vides e brotavam as romãzeiras.
12 Antes de eu o
sentir, me pôs a minha alma nos carros do meu nobre povo.
13 Volta, volta, ó
sulamita, volta, volta, para que nós te vejamos. Por que olhas para a sulamita
como para as fileiras de dois exércitos?
CAPÍTULO 7
Continuação da canção
de amor.
1 Que formosos são os
teus pés nos sapatos, ó filha do príncipe! Os contornos de tuas coxas são como
joias, segundo a obra de mãos de artífice.
2 O teu umbigo, como
uma taça redonda, a que não falta bebida; o teu ventre, como montão de trigo,
sitiado de lírios.
3 Os teus dois seios,
como dois filhos gêmeos da corça.
4 O teu pescoço, como
a torre de marfim; os teus olhos, como os viveiros de Hesbom, junto à porta de
Bate-Rabim; o teu nariz, como torre do Líbano, que olha para Damasco.
5 A tua cabeça sobre
ti é como o monte Carmelo, e os cabelos da tua cabeça, como a púrpura; o rei
está preso às tuas tranças.
6 Quão formosa, e
quão aprazível és, ó amor, em delícias!
7 Esta tua estatura é
semelhante à palmeira, e os teus seios são semelhantes aos cachos de uvas.
8 Dizia eu: Subirei à
palmeira, pegarei em seus ramos; e então os teus seios serão como os cachos na
vide, e o aroma das tuas narinas, como o das maçãs.
9 E o teu paladar,
como o bom vinho para o meu amado, que se bebe suavemente, e faz com que falem
os lábios dos que dormem.
10 Eu sou do meu
amado, e ele me tem afeição.
11 Vem, ó amado meu,
saiamos nós ao campo, passemos as noites nas aldeias.
12 Levantemo-nos de
manhã para ir às vinhas, vejamos se florescem as vides, se a flor se abre, se
já brotam as romãzeiras; ali te darei o meu grande amor.
13 As amandrágoras
exalam o seu cheiro, e às nossas portas há toda a sorte de excelentes frutos,
novos e velhos; ó amado meu, eu os guardei para ti.
CAPÍTULO 8
As muitas águas não
podem apagar o amor.
1 Ah! Quem me dera
que me foras como irmão, que mamou nos peitos de minha mãe! Quando te achasse
na rua, te beijaria, e não me desprezariam!
2 Te levaria e
introduziria na casa de minha mãe, e tu me ensinarias; e te daria de beber
vinho aromático e do mosto das minhas romãs.
3 A sua mão esquerda
esteja debaixo da minha cabeça, e a sua direita me abrace.
4 Conjuro-vos, ó
filhas de Jerusalém, que não acordeis nem desperteis o meu amor, até que ele o
queira.
5 Quem é esta que
sobe do deserto, e vem encostada ao seu amado? Debaixo de uma macieira te
despertei, ali te gerou tua mãe com dores; ali te gerou com dores aquela que te
deu à luz.
6 Põe-me como selo
sobre o teu coração, como selo sobre o teu braço, porque o amor é forte como a
morte, e duro como a sepultura, o ciúme; as suas brasas são brasas de fogo,
labaredas intensas.
7 As muitas águas não
poderiam apagar esse amor, nem os rios afogá-lo; ainda que desse alguém todos
os bens de sua casa por esse amor, certamente os desprezariam.
8 Temos uma irmã
pequena, que ainda não tem seios; que faremos a esta nossa irmã, no dia em que
dela se falar?
9 Se ela for um muro,
edificaremos sobre ela um palácio de prata; e se ela for uma porta, a
cercaremos com tábuas de cedro.
10 Eu sou um muro, e
os meus seios são como torres; então eu era aos seus olhos como aquela que
encontrou a paz.
11 Teve Salomão uma
vinha em Baal-Hamom; entregou essa vinha a uns guardas; e cada um lhe trazia,
pelo seu fruto, mil peças de prata.
12 A minha vinha, que
tenho, está diante de mim; as mil peças de prata são para ti, ó Salomão; e
duzentas, para os guardas do seu fruto.
13 Ó tu, a que
habitas nos jardins, para a tua voz os companheiros atentam; faze-ma, pois,
também ouvir.
14 Vem depressa,
amado meu, e faz-te semelhante ao corço ou ao filhote do cervo sobre os montes
aromáticos.
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