11 de março de 2015

CURTINDO O ÓCIO - DO JORNALISTA JOSÉ AUGUSTO LOBO. CONFIRA.





CURTINDO O ÓCIO
  

Caros amigos enganam-se os que pensam que aposentado não faz nada, que está sempre de pernas para o ar ou deitado, deixando tempo passar. Observem que isto é regra e não exceção; olhem para os seus amigos e parentes aposentados, confirmem o que digo e comece a fazer parte desse contingente que muito trabalhou, pagou e continua pagando os impostos para o “desenvolvimento” do nosso Brasil. Ao se aposentar o “novo homem” é batizado com um novo e carinhoso nome: “Jaques”. Daí para frente ele está sempre a postos, e vai se especializando para desenvolver as mais variadas tarefas. Começa assim, já no seio de sua família, quando a esposa o chama: - Ei, ‘”já que” está sem fazer nada vai ali ao mercado e compra a cebola que acabou, ou vai ao banco pagar o condomínio que vence hoje, ou leva o nosso netinho para a escola, já está em cima da hora, ou veja a panela no fogo, tire a tampa e coloque um pouco de água, cuidado com o sofá, [...] e, o “já que” se transforma eternamente  em Jaques,  “carimbando” a nova identificação do  pobre aposentado que tinha enormes planos para descansar, pescar, viajar, passear, ouvir musicas, escrever, tocar seu instrumento favorito, ir ao cinema, enfim, gozar a vida tranquilamente [...] mas a família o envolve e  fala mais alto, felizmente. Repito, felizmente, pois quem hoje tem a família organizada e vive mais ou menos tranquilo deve dar graças a Deus. Eu faço parte desse pequeno rol, tão difícil hoje de se encontrar, pois todos somos assediados pela mídia em geral com as “maravilhas” do momento e a “venda” de “felicidades”, o que leva a união da família a se romper pouco a pouco, se cuidados não forem tomados a cada momento. Em maio próximo, ao lado da minha esposa, e tendo Deus como centro de nossas vidas, completaremos 50 anos de casados.

Mas o objetivo deste artigo é falar do ócio e não de família, muito embora ela continue presente em minha vida. Vou apenas trocar a palavra ócio por lazer.







Neste último fim de semana saímos de Niterói na sexta feira – eu a esposa e um grupo de amigos - rumo ao aprazível recanto chamado Conservatória, 6º Distrito de Valença (RJ), a 142 km do Rio de janeiro. A localidade, anteriormente Santo Antonio do Rio Bonito, está encravada na Serra do Rio Bonito com área de 240 Km2 fazendo divisa com MG e outras cidades do RJ. Famosa por suas serenatas, sempre conservada por seus habitantes – em torno de 4500, fixos - e por observadores de OVNIS, na serra da Beleza. Teve importância econômica no ciclo do café, no século passado. Tinha aproximadamente 100 fazendas de café que utilizavam para o escoamento do seu produto o caminho ferroviário que vinha de MG para o Rio de Janeiro. Em 1826, possuía 1400 índios aldeados na reserva, vivendo felizes no lugar onde seriam exterminados pelos desbravadores colonialistas [...] Os “Araris” eram, sem duvidas resultantes dos “Cororós” com os “Goitacáz” de Campos que os venceram em batalhas e os assimilaram [...] o povoado ao ser colonizado ganhou o nome de Santo Antonio   do Rio Bonito. Em 1998 conservatória comemorou 120 anos de Serenata.




Ops, por que estou falando tudo isto? Convido-os a irem a Wikipédia para conhecerem esse pedacinho do Brasil e, certamente ficarão apaixonados.




Mas, o nosso fim de semana foi maravilhoso. Sol aberto, calor intenso pela estrada e temperatura agradável no destino.

A vila nos apresenta construções centenárias em estilo colonial e ruas pavimentadas com pé-de-moleque. Tudo limpo, casinhas pintadas em branco e azul, Janelas envidraçadas, telhas canal (feitas nas coxas dos escravos, naquela época) com  cortinas, lojinhas vendendo produtos da região e peças de artesanato. O que mais chama a atenção do visitante é o tratamento amigável e acolhedor dos seus moradores, dos vendedores no comercio, do pessoal do hotel e dos músicos “seresteiros”. Ah, não tem mendigos nas ruas, mas tem também grande quantidade de cachorros soltos pela vila que são dóceis e acompanham os visitantes como que mostrando orgulhosamente o local em que vivem. São vira-latas legítimos, que entram e saem das lojas sem a menor cerimônia onde encontram o carinho dos comerciantes que os alimentam e fazem festa para os turistas. É comum ver nas calçadas pratos com ração e água para esses animais.

Um fato curioso que presenciamos foi na Igreja de Santo Antonio, durante a Missa no domingo. Um cachorro entrou e se postou a frente do altar. Entrou, subiu para o presbitério, deitou e ficou quietinho, de frente para o povo durante toda  a Missa. Quando a Missa terminou, ele se levantou e foi um dos últimos a deixar a Igreja, acompanhando o povo que saia. Não deu o mínimo trabalho. Fomos informados de que isto é comum.





Também a Missa nos chamou a atenção nos momentos oportunos da liturgia, com cânticos bem escolhidos apropriados mais para serestas ou serenatas, tocadas e cantadas por seresteiros, com o respeito que a liturgia exige.

Assim, amigos, foi um fim de semana maravilhoso no qual o nosso grupo se divertiu e se encantou com tudo o que viu e viveu. Como disse sol aberto, canto de pássaros, canário-da-terra (sicalis flaveola brasiliensis), bem-te-vis (pitangus sulphuratus), beija- flores diversos, caga-sebinho (phyllomyias fasciatus), sabiá-laranjeira (turdus rufiventres vieil), galos cantando o tempo todo, mormente durante a madrugada,  galinhas ciscando com seus pintinhos, lagos com gansos, patos e peixes pulando, goiabeiras (psidium guayava) carregadas, jabuticabeiras (myrciaria cauliflora), também carregadas,  carregadas e convidativas que muito nos alegrou ao comê-las, hortas bem cuidadas, apartamentos maravilhosos, comida farta e deliciosa, doces caseiros, licores, cachaça feita na cachaçaria do próprio hotel fazenda, piscinas fria e quente muito bem tratadas e limpas.  Cada apartamento tem uma plaquinha onde se lê o nome ou uma frase de uma musica de seresta. Na vila tudo é bem cuidado e respira e transpira música. Não tenho duvidas de que lá todos tocam um instrumento qualquer: violão, cavaquinho pandeiro, bandolim, etc. para manter a tradição do local.  Formam grupos de seresteiros com ótimos músicos e cantores animando os hóspedes nos salões do hotel. Muitos músicos tem casa na vila e em outras cidades, mas se reúnem frequentemente para manter a tradição das “serenatas”

Às 23 horas o hotel se transforma em local silencioso, quebrado apenas pelos galos que insistem em se manterem acordados, como que protestando e pedindo mais serenatas: quero musica, quero ouvir musica, quero ouvir, branca, conversas de botequim, lua branca, as pastorinhas, pedacinho do céu, flor do cerrado, brasileirinho, odeon, chorando calado, tico-tico no fubá, André de sapato novo, cor do pecado, brejeiro, flor amorosa, quero solos de violão de cavaquinho de bandolim...

Amanhece mais um dia e o sol saúda a todos com a sua luz maravilhosa, e a passarinhada formando como que  um grupo sinfônico ou em solo entoam musica que enlevam a todos. A natureza explode em alegria e convida a todos para passeios, diversões, comprinhas, musica, e momentos de silencio para contemplar toda beleza da Criação.

A nota desanimadora da viagem foi que na sexta e no sábado à noite chuviscou e não houve a serenata em forma de procissão pelas ruas. Ficamos no Salão do Hotel curtindo músicas com grupos de seresteiros e festa dos anos 60. Nada que nos entristecesse, pelo contrário a alegria permaneceu.





Obrigado Senhor pelo belo passeio, obrigado por esses dias de ótimo convívio,  obrigado por aquele pedaço de chão, parte da sua Criação, e pelo povo vossos filhos e nossos irmãos, que lá vivem, que nos receberam de forma acolhedora e simpática.

Paz e Bem!








Um pouco sobre Jornalista Lobo José.


José Augusto Lobo, conhecido profissionalmente como Lobo José. O niteroiense jornalista possui uma coluna no jornal Unidade há vários anos, tem uma ocupação humanitária brilhante é acólito eclesiástico na Paróquia de São Judas Tadeu de Icaraí - Niterói. Contato com o jornalista, escreva: lobojoseaugusto@gmail.com 

Um comentário:

José Augusto Lobo - jornalista disse...

Caro amigo Alberto, Paz e Bem!
Agradeço do fundo do coração a publicação do meu artigo Curtindo o Ócio no seu famoso blog. Deus o abençoe hoje e sempre! Parabéns pelo seu belo trabalho.

Lobo.


José Augusto Lobo,
jornalista.