CURTINDO
O ÓCIO
Caros amigos enganam-se os que pensam
que aposentado não faz nada, que está sempre de pernas para o ar ou deitado,
deixando tempo passar. Observem que isto é regra e não exceção; olhem para os
seus amigos e parentes aposentados, confirmem o que digo e comece a fazer parte
desse contingente que muito trabalhou, pagou e continua pagando os impostos para
o “desenvolvimento” do nosso Brasil. Ao se aposentar o “novo homem” é batizado
com um novo e carinhoso nome: “Jaques”. Daí para frente ele está sempre a
postos, e vai se especializando para desenvolver as mais variadas tarefas.
Começa assim, já no seio de sua família, quando a esposa o chama: - Ei, ‘”já
que” está sem fazer nada vai ali ao mercado e compra a cebola que acabou, ou
vai ao banco pagar o condomínio que vence hoje, ou leva o nosso netinho para a
escola, já está em cima da hora, ou veja a panela no fogo, tire a tampa e
coloque um pouco de água, cuidado com o sofá, [...] e, o “já que” se transforma
eternamente em Jaques, “carimbando” a nova identificação do pobre aposentado que tinha enormes planos
para descansar, pescar, viajar, passear, ouvir musicas, escrever, tocar seu
instrumento favorito, ir ao cinema, enfim, gozar a vida tranquilamente [...]
mas a família o envolve e fala mais
alto, felizmente. Repito, felizmente, pois quem hoje tem a família organizada e
vive mais ou menos tranquilo deve dar graças a Deus. Eu faço parte desse
pequeno rol, tão difícil hoje de se encontrar, pois todos somos assediados pela
mídia em geral com as “maravilhas” do momento e a “venda” de “felicidades”, o
que leva a união da família a se romper pouco a pouco, se cuidados não forem
tomados a cada momento. Em maio próximo, ao lado da minha esposa, e tendo Deus
como centro de nossas vidas, completaremos 50 anos de casados.
Mas o objetivo deste artigo é falar do
ócio e não de família, muito embora ela continue presente em minha vida. Vou
apenas trocar a palavra ócio por lazer.
Neste último fim de semana saímos de
Niterói na sexta feira – eu a esposa e um grupo de amigos - rumo ao aprazível
recanto chamado Conservatória, 6º Distrito de Valença (RJ), a 142 km do Rio de
janeiro. A localidade, anteriormente Santo Antonio do Rio Bonito, está
encravada na Serra do Rio Bonito com área de 240 Km2 fazendo divisa com MG e
outras cidades do RJ. Famosa por suas serenatas, sempre conservada por seus
habitantes – em torno de 4500, fixos - e por observadores de OVNIS, na serra da
Beleza. Teve importância econômica no ciclo do café, no século passado. Tinha
aproximadamente 100 fazendas de café que utilizavam para o escoamento do seu
produto o caminho ferroviário que vinha de MG para o Rio de Janeiro. Em 1826,
possuía 1400 índios aldeados na reserva, vivendo felizes no lugar onde seriam
exterminados pelos desbravadores colonialistas [...] Os “Araris” eram, sem
duvidas resultantes dos “Cororós” com os “Goitacáz” de Campos que os venceram
em batalhas e os assimilaram [...] o povoado ao ser colonizado ganhou o nome de
Santo Antonio do Rio Bonito. Em 1998
conservatória comemorou 120 anos de Serenata.
Ops, por que estou falando tudo isto?
Convido-os a irem a Wikipédia para conhecerem esse pedacinho do Brasil e,
certamente ficarão apaixonados.
Mas, o nosso fim de semana foi
maravilhoso. Sol aberto, calor intenso pela estrada e temperatura agradável no
destino.
A vila nos apresenta construções
centenárias em estilo colonial e ruas pavimentadas com pé-de-moleque. Tudo
limpo, casinhas pintadas em branco e azul, Janelas envidraçadas, telhas canal
(feitas nas coxas dos escravos, naquela época) com cortinas, lojinhas vendendo produtos da
região e peças de artesanato. O que mais chama a atenção do visitante é o tratamento
amigável e acolhedor dos seus moradores, dos vendedores no comercio, do pessoal
do hotel e dos músicos “seresteiros”. Ah, não tem mendigos nas ruas, mas tem
também grande quantidade de cachorros soltos pela vila que são dóceis e
acompanham os visitantes como que mostrando orgulhosamente o local em que
vivem. São vira-latas legítimos, que entram e saem das lojas sem a menor
cerimônia onde encontram o carinho dos comerciantes que os alimentam e fazem
festa para os turistas. É comum ver nas calçadas pratos com ração e água para
esses animais.
Um fato curioso que presenciamos foi
na Igreja de Santo Antonio, durante a Missa no domingo. Um cachorro entrou e se
postou a frente do altar. Entrou, subiu para o presbitério, deitou e ficou
quietinho, de frente para o povo durante toda
a Missa. Quando a Missa terminou, ele se levantou e foi um dos últimos a
deixar a Igreja, acompanhando o povo que saia. Não deu o mínimo trabalho. Fomos
informados de que isto é comum.
Também a Missa nos chamou a atenção
nos momentos oportunos da liturgia, com cânticos bem escolhidos apropriados
mais para serestas ou serenatas, tocadas e cantadas por seresteiros, com o
respeito que a liturgia exige.
Assim, amigos, foi um fim de semana
maravilhoso no qual o nosso grupo se divertiu e se encantou com tudo o que viu
e viveu. Como disse sol aberto, canto de pássaros, canário-da-terra (sicalis
flaveola brasiliensis), bem-te-vis (pitangus sulphuratus), beija- flores
diversos, caga-sebinho (phyllomyias fasciatus), sabiá-laranjeira (turdus
rufiventres vieil), galos cantando o tempo todo, mormente durante a
madrugada, galinhas ciscando com seus
pintinhos, lagos com gansos, patos e peixes pulando, goiabeiras (psidium
guayava) carregadas, jabuticabeiras (myrciaria cauliflora), também carregadas, carregadas e convidativas que muito nos
alegrou ao comê-las, hortas bem cuidadas, apartamentos maravilhosos, comida
farta e deliciosa, doces caseiros, licores, cachaça feita na cachaçaria do
próprio hotel fazenda, piscinas fria e quente muito bem tratadas e limpas. Cada apartamento tem uma plaquinha onde se lê
o nome ou uma frase de uma musica de seresta. Na vila tudo é bem cuidado e
respira e transpira música. Não tenho duvidas de que lá todos tocam um
instrumento qualquer: violão, cavaquinho pandeiro, bandolim, etc. para manter a
tradição do local. Formam grupos de
seresteiros com ótimos músicos e cantores animando os hóspedes nos salões do
hotel. Muitos músicos tem casa na vila e em outras cidades, mas se reúnem
frequentemente para manter a tradição das “serenatas”
Às 23 horas o hotel se transforma em
local silencioso, quebrado apenas pelos galos que insistem em se manterem
acordados, como que protestando e pedindo mais serenatas: quero musica, quero
ouvir musica, quero ouvir, branca, conversas de botequim, lua branca, as
pastorinhas, pedacinho do céu, flor do cerrado, brasileirinho, odeon, chorando
calado, tico-tico no fubá, André de sapato novo, cor do pecado, brejeiro, flor
amorosa, quero solos de violão de cavaquinho de bandolim...
Amanhece mais um dia e o sol saúda a
todos com a sua luz maravilhosa, e a passarinhada formando como que um grupo sinfônico ou em solo entoam musica
que enlevam a todos. A natureza explode em alegria e convida a todos para
passeios, diversões, comprinhas, musica, e momentos de silencio para contemplar
toda beleza da Criação.
A nota desanimadora da viagem foi que
na sexta e no sábado à noite chuviscou e não houve a serenata em forma de
procissão pelas ruas. Ficamos no Salão do Hotel curtindo músicas com grupos de
seresteiros e festa dos anos 60. Nada que nos entristecesse, pelo contrário a
alegria permaneceu.
Obrigado Senhor pelo belo passeio,
obrigado por esses dias de ótimo convívio,
obrigado por aquele pedaço de chão, parte da sua Criação, e pelo povo
vossos filhos e nossos irmãos, que lá vivem, que nos receberam de forma
acolhedora e simpática.
Paz e Bem!
Um pouco sobre Jornalista Lobo José.
José Augusto Lobo, conhecido
profissionalmente como Lobo José. O niteroiense jornalista possui uma coluna
no jornal Unidade há vários anos, tem uma ocupação humanitária brilhante é acólito
eclesiástico na Paróquia de São Judas Tadeu de Icaraí - Niterói. Contato com o jornalista, escreva: lobojoseaugusto@gmail.com
Um comentário:
Caro amigo Alberto, Paz e Bem!
Agradeço do fundo do coração a publicação do meu artigo Curtindo o Ócio no seu famoso blog. Deus o abençoe hoje e sempre! Parabéns pelo seu belo trabalho.
Lobo.
José Augusto Lobo,
jornalista.
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