Um
dos poetas mais reconhecidos e admirados do Brasil, Vinícius de Moraes escreveu
alguns dos versos mais populares da literatura lírica brasileira. Envolveu-se
também com música, dramaturgia, jornalismo e, por 26 anos, trabalhou como
diplomata. Mas primordialmente, era um POETA. Sua obra é vasta, passando pela
literatura, teatro, cinema e música. Ainda assim, sempre considerou que a
poesia foi sua primeira e maior vocação, e que toda sua atividade artística
deriva do fato de ser poeta.
Em
meio a um temporal, na madrugada de 19 de outubro de 1913, no Bairro da Gávea, no
Rio de Janeiro, há exatos 107 anos, nascia o homem que marcaria a música
brasileira para sempre com suas composições. Virou ícone e passava bem longe do
padrão. Não era careta, falava de amor, era a favor do "eterno enquanto dure",
definiu o que poucos conseguiram. O "POETINHA", como era conhecido,
casou-se e fez isso com propriedade, amou nove mulheres oficialmente e diversas
outras por toda a sua vida.
Vinicius
de Moraes era um homem como poucos, teve parcerias felizes com Toquinho, Baden
Powell, João Gilberto, Chico Buarque, Carlos Lyra, Tom Jobim, entre outros.
Gostava de beber uísque, o qual garantia ser o melhor amigo do homem, o
"cachorro engarrafado". Admirava as mulheres belas, a beleza (como um
todo, é bom ressaltar) era fundamental. Sofreu um acidente grave de avião, um
de carro, fez uma operação para instalar um dreno cerebral, mas não padeceu em
nada disso. Vinicius morreria no seu lugar preferido: a banheira. Teve um edema
pulmonar.
Faleceu
em 09 de julho de 1980, com 66 anos de idade, mas ainda hoje os seus versos se
mantêm bastante atuais e continuam populares, mesmo entre os mais novos.
Selecionamos
os melhores poemas do autor que trazem um sopro de beleza e clareza aos nossos
corações:
SONETO DE FIDELIDADE
De
tudo ao meu amor serei atento
Antes,
e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que
mesmo em face do maior encanto
Dele
se encante mais meu pensamento.
Quero
vivê-lo em cada vão momento
E
em seu louvor hei de espalhar meu canto
E
rir meu riso e derramar meu pranto
Ao
seu pesar ou seu contentamento
E
assim, quando mais tarde me procure
Quem
sabe a morte, angústia de quem vive
Quem
sabe a solidão, fim de quem ama
Eu
possa me dizer do amor (que tive):
Que
não seja imortal, posto que é chama
Mas
que seja infinito enquanto dure.
POEMA
DOS OLHOS DA AMADA
Ó
minha amada
Que
olhos os teus
São
cais noturnos
Cheios
de adeus
São
docas mansas
Trilhando
luzes
Que
brilham longe
Longe
nos breus…
Ó
minha amada
Que
olhos os teus
Quanto
mistério
Nos
olhos teus
Quantos
saveiros
Quantos
navios
Quantos
naufrágios
Nos
olhos teus…
Ó
minha amada
Que
olhos os teus
Se
Deus houvera
Fizera-os
Deus
Pois
não os fizera
Quem
não soubera
Que
há muitas eras
Nos
olhos teus.
Ah,
minha amada
De
olhos ateus
Cria
a esperança
Nos
olhos meus
De
verem um dia
O
olhar mendigo
Da
poesia
Nos
olhos teus.
TOMARA
Tomara
Que
você volte depressa
Que
você não se despeça
Nunca
mais do meu carinho
E
chore, se arrependa
E
pense muito
Que
é melhor se sofrer junto
Que
viver feliz sozinho
Tomara
Que
a tristeza te convença
Que
a saudade não compensa
E
que a ausência não dá paz
E
o verdadeiro amor de quem se ama
Tece
a mesma antiga trama
Que
não se desfaz
E
a coisa mais divina
Que
há no mundo
É
viver cada segundo
Como
nunca mais...
SONETO DO AMIGO
Enfim,
depois de tanto erro passado
Tantas
retaliações, tanto perigo
Eis
que ressurge noutro o velho amigo
Nunca
perdido, sempre reencontrado.
É
bom sentá-lo novamente ao lado
Com
olhos que contêm o olhar antigo
Sempre
comigo um pouco atribulado
E
como sempre singular comigo.
Um
bicho igual a mim, simples e humano
Sabendo
se mover e comover
E
a disfarçar com o meu próprio engano.
O
amigo: um ser que a vida não explica
Que
só se vai ao ver outro nascer
E
o espelho de minha alma multiplica…
SONETO
DO AMOR TOTAL
Amo-te tanto, meu amor… não cante
O humano coração com mais verdade…
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade
O humano coração com mais verdade…
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade
Amo-te afim, de um calmo amor prestante,
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.
Amo-te como um bicho, simplesmente,
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.
E de te amar assim muito e amiúde,
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.
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