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ORIDES FONTELA
Orides
de Lourdes Teixeira Fontela nasceu em São João da Boa Vista em 1940, foi uma
poeta brasileira de tendência contemporânea.
Começa
a escrever em 1946, após ser educada por sua mãe. Em 1955, cursa a Escola
Normal de São João da Boa Vista. Seus primeiros versos são publicados em 1956
no jornal “O Município” daquela cidade. Em 1967, vai para São Paulo (SP), onde
ingressa no curso de Filosofia da Universidade de São Paulo – USP, formando-se
em 1972. Trabalha como professora primária e bibliotecária em várias escolas da
rede de ensino São Paulo.
Publicou
trabalhos no O Município, periódico de sua terra natal e no Suplemento
Literário do jornal O Estado de S. Paulo. Formada pelo curso de Filosofia da
Universidade de São Paulo. Foi premiada com o Jabuti de Poesia, em 1983, em
função ao livro Alba, recebeu também o prêmio da Associação Paulista de
Críticos de Arte, pelo livro Teia, em 1996. Em 2007 o Ministério da Cultura
homenageou-a com a Ordem do Mérito Cultural, categoria Grã-Cruz. Maria Helena
Teixeira de Oliveira, prima da poetisa foi quem recebeu a condecoração. A cerimônia
aconteceu no Palácio das Artes, na cidade de Belo Horizonte. Faleceu 2 de
novembro de 1998 em Campos do Jordão.
OBRAS
PUBLICADAS
Transposição,
1969,
Helianto,
1973,
Alba,
1983,
Rosácea,
1986,
Trevo,
1988.
POEMAS
DESAFIO
Contra as flores que vivo
contra os limites
contra a aparência a atenção pura
constrói um campo sem mais jardim
que a essência.
AURORA III
Instaura-se a forma
num só ato
a luz da forma é um único
ápice
o fruto é uma única forma
instaurada plenamente
(o amor é unicamente
quando in-forma)
... mas custa o Sol a atravessar o deserto
mas custa a
amadurecer a luz
mas custa o sangue
a pressentir o horizonte
VIGÍLIA
Momento pleno:
pássaro vivo
atento a.
Tenso no
instante—
imóvel voo —
plena presença
pássaro e
signo.
(atenção brancaaberta
e
vívida).
Pássaro imóvel.
Pássaro vivo
atento
a.
INICIAÇÃO
Se vens a uma terra estranhacurva-te
se este lugar é esquisito
curva-te
se o dia é todo estranheza
submete-te
— és infinitamente mais estranho.
Cansa-me. A chaga inumerável
de mim cintila, sem palavras, úmida
fonte rubra do ser, e tédio
de prosseguir, inabitada, viva.
Prosseguir. Ai, presença ignorada
do ser em mim, segredo e contingência,
espelho, cristal raso, submerso
na eternidade do existir, tranquilo.
Cansa-me ser. Ai chaga e antigo sonho
de áureas transmutações e vidas outras
além de mim, além de uma outra vida!
Mas amolda-me o ser. Prende-me a essência
(raiz profunda e vera) a imutável
condição de ser fonte e ser ferida...
FALA
Tudo
será difícil de dizer:
a palavra real
nunca é suave.
Tudo será duro:
luz impiedosa
excessiva vivência
consciência demais do ser.
Tudo será
capaz de ferir. Será
agressivamente real.
Tão real que nos despedaça.
Não há piedade nos signos
e nem o amor: o ser
é excessivamente lúcido
e a palavra é densa e nos fere.
(Toda palavra é crueldade.)
FONTELA, Orides. Teia: poemas. São Paulo: Geração Editorial, 1996. 82 p. 16x223 cm. Capa: Susana Kacowicz. Col. A.M.
KAIRÓS
Quando pousa
o pássaro
quando acorda
o espelho
quando amadurece
a hora.
ADIVINHA
O que é impalpável
mas
pesa
o que é sem rosto
mas
fere
o que é invisível
mas
dói.
O que é impalpável
mas
pesa
o que é sem rosto
mas
fere
o que é invisível
mas
dói.
NOITE
Esconder (esquecer)
a face
soterrar (ocultar)
a luz
escurecer o
amor
dormir.
Esconder (esquecer)
a face
soterrar (ocultar)
a luz
escurecer o
amor
dormir.
Aguardar o que nasce.
CÍRCULO
O círculo
é astuto:
enrola-se
envolve-se
autofagicamente.
Depois
explode
— galáxias! —
abre-se
vivo
pulsa
multiplica-se
divindadecírculo
perplexa
(perversa?)
o unicírculo
devorando
tudo.
O círculo
é astuto:
enrola-se
envolve-se
autofagicamente.
Depois
explode
— galáxias! —
abre-se
vivo
pulsa
multiplica-se
divindadecírculo
perplexa
(perversa?)
o unicírculo
devorando
tudo.
FONTELA, Orides. Poesia reunida ( 1969-1996 ). São Paulo: Cosac Naify; Rio de Janeiro: 7 Letras, 2006. 376 p. (Coleção Ás de colete, v. 12) 14,5x21,5 cm. capa dura.Capa e projeto gráfico: Elaine Ramos. ISBN 85-7503-138-4 – 85-7503-478-2 (Cosac Naif) e 85-7577-254-6 (Viveiros de Castro). Col. Bibl. Antonio Miranda
CASTRO, Gustavo. O enigma Orides. São Paulo: Hedra, 2015. 209 p. + seção sem paginação com Testamentos, Sobre poesia e filosofia – um depoimento, Poemas – originais. ISBN 978-85-7715-372-5. “Orides Fontela” Ex. bibl. Antonio Miranda
JOGO
Como a túnica é uma
só
os dados rolam
no verde.
Como a túnica
é única
são necessários
os dados.
Seis faces brancas e os
signos que decidirão
a posse:
um movimento, um
risco
e a decisão no
verde
impressa.
a posse:
um movimento, um
risco
e a decisão no
verde
impressa.
A túnica
permanecerá intacta.
permanecerá intacta.
FONTELA, Orides. Rosace. Texte tradui et établi par Márcio de Lima et Emmanuel Jaffelin. Paris: L ‘Harmattan, 1999. 250 p. 13,5x21,5 cm. capa e contracapa. ISBN 2-7384-8204-X “Orides Fontela “ Ex. bibl. Antonio Miranda
TRANSPOSIÇÃO
Na manhã que desperta
o jardim não mais geometria
é gradação de luz e aguda
descontinuidade de planos.
o jardim não mais geometria
é gradação de luz e aguda
descontinuidade de planos.
Tudo se recria e o instante
varia de ângulo e face
segundo a mesma vidaluz
que instaura jardins na amplitude
varia de ângulo e face
segundo a mesma vidaluz
que instaura jardins na amplitude
que desperta as flores em várias
coresinstantes e as revive
jogando-as lucidamente
em transposição contínua.
coresinstantes e as revive
jogando-as lucidamente
em transposição contínua.
ARABESCO
A geometria em mosaico
cria o texto labirinto
intrincadíssimos caminhos
complexidades nítidas.
cria o texto labirinto
intrincadíssimos caminhos
complexidades nítidas.
A geometria em florido
plano de minúcias vivas
a geometria toda em fuga
e o texto como em primavera.
plano de minúcias vivas
a geometria toda em fuga
e o texto como em primavera.
A ordem transpondo-se em beleza
além dos planos no infinito
e o texto pleno indecifrado em mosaico flor ardendo.
além dos planos no infinito
e o texto pleno indecifrado em mosaico flor ardendo.
O caos domado em plenitude
a primavera.
ROSÁCEA
Rosa primária quíntupla
abstrato vitral
das figuras do ser.Ritmo em círculo, cinco
tempos de um mesmo ponto
interno, que se acende
no infinito. Rosa
não rosa: arquitetura
corforma do possível.Abstrato vitral
das figuras do ser.
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