EM 24 DE JUNHO, FESTEJAMOS A NATIVIDADE DE SÃO JOÃO BATISTA, O SANTO DE TODOS OS SANTOS NA CELEBRAÇÃO DO MUNDO CRISTÃO. SÃO JOÃO BATISTA, O PRECURSOR DE JESUS CRISTO.
Hoje, 24 de junho: dia de
São João Batista, o precursor de Jesus Cristo. a Igreja celebra a festa da
natividade de João, o batista. De todos os santos, João é o único do qual
celebramos o nascimento. Todos os outros têm a festa celebrada no dia da morte.
Conta a tradição que quando João nasceu sua mãe teria acendido uma grande
fogueira para anunciar o nascimento do bebê. Assim, sua prima Maria poderia
saber do acontecido mesmo de longe, ao ver o sinal de fumaça no céu.
João nasceu de Isabel, que
era prima de Maria, mãe de Jesus. De acordo com os evangelhos, João foi o
precursor do ministério de Jesus. Ainda no ventre da mãe, João alegrou-se com a
chegada de Maria. Foi ele quem batizou Jesus nas águas do rio Jordão e apontou
para seus discípulos o “Cordeiro de Deus”.
Os evangelistas apresentam
João como precursor do Messias. O dia de seu nascimento é chamado de
"Aurora da Salvação". João inicia sua missão alguns anos antes de
Jesus iniciar a sua própria missão.
Ele era um filho muito
desejado por seus pais, Isabel e Zacarias, ela estéril e ele de origem
sacerdotal e já com idade bem avançada. Conforme a indicação de Lucas, Zacarias
recebeu o anúncio do anjo de que seria pai. Duvidou e ficou mudo. Isabel,
confiante, gerou João, o último profeta. O menino foi crescendo e
fortificando-se em espírito e viveu nos desertos até o dia em que se apresentou
diante de Israel.
Com palavras firmes, pregava
a conversão e a necessidade do batismo de penitência. Anunciava a vinda do
Messias prometido e esperado. Sua originalidade era o convite a receber a
purificação com água no rio Jordão, prática chamada batismo. Daí o seu apelido
de Batista.
Ele morre degolado sob o
governo do rei Herodes Antipas, por defender a moralidade e os bons costumes. O
seu martírio é também celebrado na liturgia da igreja.
Colaboração: Padre Evaldo
César de Souza, CSsR
REFLEXÃO São João Batista é
um dos santos mais populares em todo o mundo cristão. A sua festa é muito
alegre e até folclórica. Com muita música e danças, o ponto central é a
fogueira, lembrando aquela primeira feita por seus pais para comunicar o seu
nascimento. João é elo entre a Antiga e a Nova Aliança. É também lembrado como
um grande profeta.
ORAÇÃO São João Batista
ajudai-me a fazer penitência das minhas faltas para que eu me torne digno do
perdão daquele que vós anunciastes com estas palavras: "Eis o Cordeiro de
Deus, eis aquele que tira os pecados do mundo".
Amém!
SERMÃO DE SÃO JOÃO BATISTA -
DO PADRE ANTÔNIO VIEIRA
Na profissão da Senhora
Madre Soror Maria da Cruz, filha do Excelentíssimo Duque de Medina Sidônia,
Religiosa de S. Francisco, no mosteiro de Nossa Senhora da Quietação, das
Flamengas, em Alcântara.
Esteve o Santíssimo
Sacramento exposto. Ano 1
Elisabeth impletum est
tempus pariendi, et peperit filium. Et audierunt vici¬ni et cognati ejus quia
magnificavit Dominus misericordiam suam cum illa, et congratulabantur ei. Et
venerunt circumcidere puerum, et vocabant eum nomine patris suis Zachariam. Et
respondens mater ejus, dixit: Nequaquam, sed vocabitur Joannes [1].
§I
Dia de falarem os corações e
de calarem as línguas. O desposório de Deus no deserto e o desposório de Deus
no paço. Qual é a razão por que Deus se desposa os desertos sempre? Por que não
busca esposa com menos desigualdade nas cortes e nos paços dos reis? O
panegírico de Cristo ao Batista. Qual a razão por que Deus, que só se desposava
nos desertos, hoje se desposa no paço? Jó, e os reis e príncipes que edificam
desertos. Edificar por edifícios e edificar por edificação.
Senhor. No dia em que, nasce
a voz de Deus, justamente emudecem as vozes dos homens. Admirações emudecidas
são a retórica deste dia: Mirat sunt unirversi [2] — pasmos e assombros são as eloqüências desta
ação: Factus est temor super omnes vicinos eorum [3]. — É dia hoje de falarem
os corações e de calarem as línguas: por isso a língua de Zacarias emudeceu,
por isso os corações dos montanheses falavam: Posuerunt in corde suo, dicentes
[4] . — E se em qualquer dia do grande Batista é perigoso o falar, e os
discursos mais discretos são os que se remetem ao silêncio, que será hoje no
concurso de tantas obrigações, em que as causas do temor e os motivos da
admiração se vêm tão crescidos? Se toda a razão dos assombros no nascimento do
Batista era verem que dava Deus a uma alma a mão de amigo: Etenim manus Domini
erat cum illo [5]. — quanto mais deve assombrar hoje nossa admiração ver que dá
Deus a outra alma a mão de esposo: Etenim manus Domini erat cum illa? Bem sei
que disse Orígenes que dar Deus a mão ao Batista foi desposar-se com sua alma:
mas muito vai de desposório a desposório porque vai muito de lugar a lugar.
Desposar-se Deus nos desertos é coisa ordinária; mas desposar-se Deus nos
palácios: Deus desposado no paço! Maravilha grande. É caso este em que acho
contra mim todas as Escrituras.
Se lermos o profeta Oséias
acharemos que, querendo Deus desposarse com uma alma, disse que a levaria
primeiro a um deserto: Ducam eam in solitudinem, et loquar ad cor ejus [6] : Se
lermos o profeta Jeremias, acharemos que, lembrando Deus a Jerusalém o tempo
que com ela se desposara, advertiu que fora neutro deserto: Charitatem
desponsationis tuae, quando secuta es me in deserto [7]. — Se lermos os
Cantares de Salomão, acharemos que os desposórios daquela alma, sobre todas
querida de Deus, num deserto se trataram, noutro deserto se conseguiram: Quae
est ista quae ascendit per desertum [8]
— diz no capítulo III. Quae est ista quae ascendit de deserto, innixa
super dilectum suum [9] — diz no
capítulo VIII. — Mas para que é multiplicar Escrituras, se o mesmo Esposo, que
está presente, nos pode escusar a prova? O mistério em que Deus mais propriamente
se desposa com as almas é o Sacramento soberano da Eucaristia, porque nele —
como gravemente notou Santo Agostinho — por meio da união do corpo de Cristo se
verifica entre Deus e o homem: Erunt duo in carne una [10] . — E se buscarmos
os lugares em que Deus figurativamente celebrou estes desposórios, acharemos
que os principais, assim no Velho como no Novo Testamento, foram desertos. A
principal figura do Sacramento no Testamento Velho foi o maná: durou quarenta
anos, e todos foram de deserto: Patres nostri manducaverunt manna in deserto
[11]— A principal figura do acramento no Testamento Novo foi o milagre dos
cinco pães e o milagre dos sete, e ambos sucederam no deserto: Desertus locus
est, et non habent quod manducent. Unde eos quis potest hic saturare panibus in
solitudine [12]? Pois, qual é a razão — para que mais fundamente nos admiremos
— qual é a razão por que se desposa Deus nos desertos sempre? Não é o Monarca
universal do mundo, não é o Príncipe eterno da glória? Pois, já que há de
desposar-se desigualmente na terra, por que não busca esposa com menos
desigualdade nas cortes e nos paços dos reis, senão nos desertos e nas
soledades?
A razão é porque esposa, com
as qualidades de que Deus se agrada, não se acha nos palácios, acha-se nos
desertos. O Sacramento nos fundou a dúvida, S. João nos fundará a resposta. Fez
Cristo um panegírico do Batista — que de tão grande sujeito só Deus pode ser
bastante orador — as palavras foram poucas, substância muita, e começou o
Senhor assim: Quid existis in desertum videre?Hominem mollibus vestitum? Ecce
qui mollibus vestiuntur, in domibus regum sunt [13] : Sabeis quem é João, esse
a quem todos saís a ver? — diz Cristo. — É um homem que vive no deserto: não é
dos homens que vivem no paço. — Notável dizer! — Pois, Senhor, este é o tema
que vós tomais para pregar do Batista? Quando quereis concluir que é o maior
dos nascidos, fundais o sermão em que vive no deserto, e não vive no paço? Sim.
Toda a perfeição resumida consiste, como dizem os teólogos, in prosecutione et
fuga: em seguir e em fugir — em seguir a virtude e em fugir ao vício. Por isso
os preceitos eclesiásticos e divinos, uns são positivos, outros negativos: os
positivos, que nos mandam seguir o bem, és negativos, que nos mandam fugir ao
mal. Pois, para Cristo resumir a poucos fundamentos toda a perfeição do
Batista, que fez? Disse que era um homem que seguia todo o bem, e que fugia de
todo o mal. E para dizer que seguia todo o bem, disse que vivia no deserto para
dizer que fugia de todo o mal, disse que não vivia no paço. Explicou-lhe Cristo
a vida pelo lugar, e, para dizer quem era, disse onde morava. Ainda não digo
bem. Para dizer quem era disse onde morava e onde não morava. Para dizer que
era homem do céu disse que morava no deserto; para dizer que não era homem da
terra, disse que não morava no paço. E que, estando os paços dos reis da terra
tão mal reputado com Deus, que aquele Senhor, que só se desposava nos desertos,
hoje o vejamos desposado em palácio! Maravilha grande!
Mas qual será a razão desta
maravilha? Qual será a razão por que Deus, que só se desposava nos desertos,
hoje se desposa no paço? A razão é porque o paço das rainhas de Portugal é paço
com propriedades de deserto. Deus comumente desposas-se no deserto, porque não
acha no deserto as condições do paço: hoje desposa-se no paço, porque achou no
paço as condições do deserto. Quando a Jó, no meio de seus trabalhos, lhe
parecia melhor a morte que a vida, entre às queixas que fazia dela, disse desta
maneira: Et nunc requiescerem cum regibus et consulibus, qui aedificant sibi
solitudines (Jó 3, 13 s): Se eu fora morto, estivera agora descansado entre os
outros reis e príncipes que edificam desertos. — Notável modo de falar! Cum
regibus qui aedificant solitudines: reis que edificam desertos! Se dissera reis
que edificam palácios, bem estava; mas reis que edificam desertos! Os desertos
edificam-se? Antes, desfazendo edifícios é que se fazem desertos. Pois, que
reis são estes que trocam os termos à arquitetura? Que reis são estes que
edificam desertos? — São aqueles reis — diz S. Gregário Papa — em cujos paços
reais de tal maneira se contemporizam com a vaidade da terra, que se trata
principalmente da verdade do céu; e paços onde se serve a Deus como nos ermos
não são paços, são desertos: Qui aedificant sibi solitudines. — Bem dito, que
edificam, porque há duas maneiras de edificar, edificar por edifício e edificar
por edificação. O edifício faz dos desertos palácios, a edificação faz dos
palácios desertos. Um paço onde se serve a Deus é um deserto edificado. Paço
onde só Deus se serve, e o mundo só se contemporiza, onde a clausura compete
com a das religiões, onde as galas são dissimulação do cilício, onde a licença
do galanteio, a liberdade dos saraus, e outras mal entendidas grandezas, são exercícios
de espírito, onde sair do paço para o noviciado, mais é mudar de casa que de
vida, este ermo cortesão não lhe chamem paço, chamem-lhe deserto: Qui
aedificant sibi solitudines. — Lá disse Sócrates do imperador Teodósio II, que
fora tão religioso príncipe e tão reformador da casa real, que convertera o
paço em mosteiro: Palatium sic disposuit ut haud alienum esset a monasterio. —
Esta conto eu entre as grandes felicidades do nosso príncipe, que Deus guarde,
e a tenho ainda por maior que a do outro Teodósio. O outro Teodósio fê-la, o
nosso achou-a: o outro criou esta reformação, o nosso cria-se nela. Oh! que
grandes fundamentos para tão grandes esperanças! E como no paço de Portugal tem
o céu tantas prerrogativas de deserto, que muito que Deus, costumado a se
desposar nos desertos, o vejamos hoje desposado no paço! Cessem pois as
admirações com as dos montanheses, rompa-se o silêncio com o de Zacarias, e
comecemos a falar nesta ação, pois nos dá licença o pasmo: Et apertum est
illico os jus [14].
§ II
O pregador e as obrigações
do dia. Por que diz o evangelista que S. João havia de nascer depois de passado
o tempo que a natureza limitou para o nascimento. A razão e a natureza. Razões
por que Cristo amaldiçoou a figueira. As batalhas da razão com o tempo nos
exemplos das Escrituras. Resposta de Barcelai a Davi. S. Paulo e a resolução de
Moisés ao deixar o paço de el-rei Faraó.
Verdadeiramente que me vi
embaraçado no concurso das obrigações de hoje, porque são todas tão grandes que
cada uma pedia o sermão todo. Para não errar, aconselhei-me com o mesmo S. João
Batista, e seguirei sua doutrina: Qui habet sponsam, sponsus est:: amicus autem
sponsi gaudio gaudet [15]. — Eu sou amigo de Cristo — diz S. João — a esposa é
do esposo, a festa é do amigo. — Assim seja. A festa será de S. João, o dia
será da esposa, e o Evangelho se acomodará tanto a um e a outro, que pareça que
é de ambos. Vamos com ele, sem nos apartar um ponto.
Elisabeth impletum est
tempus pariendi, et peperit filium: Isabel, depois de cumprido o tempo dos nove
meses, foi mãe de um filho. — Aquela palavra impletum est tempus: depois de
cumprido o tempo — pareceu supérflua a alguns doutores antigos. Não estava
claro que S. João havia de nascer como os outros homens, passado o tempo que a
natureza limitou para o nascimento? Pois, por que diz uma coisa supérflua o
evangelista, que nasceu S. João depois de cumprido o tempo: Elisabeth impletum
est tempus? O Cardeal Toledo, e todos os literais, dizem que não foi supérflua
esta advertência, senão mui necessária, suposta que em S. João se anteciparam
tanto as leis da natureza que aos seis meses de concebido já tinha uso da
razão. E quem antecipou o uso da razão tantos anos, podia-se cuidar que também
anteciparia o nascimento alguns meses. Pois, para que se soubesse, que não foi
assim, diga o evangelista que nasceu S. João depois de cheio e cumprido o
tempo. Elisabeth impletum est tempus. — Esta é a verdadeira inteligência deste
texto; mas quanto mais verdadeira, tanto mais funda a minha dúvida. Que se diga
que S. João nasceu cumprido o tempo, porque não antecipou o nascimento, bem
dito está: mas por que o não antecipou? Por que não antecipou o tempo do
nascimento, assim como antecipou o tempo do uso da razão? O uso da razão,
segundo as leis da natureza, havia de ser aos sete anos do nascimento, o
nascimento aos nove meses da conceição. Pois, se antecipou o uso da razão
tantos anos, por que não antecipou o nascimento alguns meses? Por que o
nascimento pertence à vida da natureza, o uso da razão pertence à vida da
graça; e nas matérias temporais, o que costuma fazer o tempo bem é que o faça o
tempo: nas matérias espirituais, o que costuma fazer o tempo, melhor é que o
faça a razão. Para nascer ao mundo, faça o tempo o que há de fazer o tempo;
para nascer a Deus, o que há de fazer o tempo faça-o a razão. Caminhava Cristo
de Betânia para Jerusalém, viu no campo uma figueira muito copada, chegou, e
como não achasse mais que folhas, amaldiçoou-a. E nota o evangelista S. Marcos
— coisa muito digna de se notar — que não era tempo daquela árvore ter fruto:
Non erat tempus ficorum (Mc. 11, 13). — Pois, valha-me Deus — pasmam aqui todos
os doutores se não era tempo de fruto, para que o foi Cristo buscar? E se o não
achou quando o não havia, por que castigou Cristo a árvore? Se a castigou,
tinha ela obrigação de ter frutos; e se não era tempo, como tinha esta
obrigação? Tinha esta obrigação — diz S. Crisóstomo — porque, ainda que por ser
primavera não devia frutos ao tempo, por Deus se querer servir dela devia-os à
razão. E as dívidas da razão não hão de esperar pelos vagares de tempo. Para
dar frutos ao mundo faça o tempo o que há de fazer o tempo: Elisabeth impletum
est tempus — mas para dar frutos a Deus, o que há de fazer o tempo faça-o a
razão: Exultavit infans in utero [16] . — Esta é uma das excelências que eu
venero muito entre as grandes do Batista: ser um homem em quem fez a razão o
que faz nos outros o tempo. Esperarem os anos pela razão, isso acontece a
todos, mas adiantar-se a razão aos anos, fazer a razão o, que havia de fazer o
tempo, isso só se acha no Batista, se bem gloriosamente imitado hoje.
Oh! que gloriosamente
equivocado temos hoje o ano: o abril mudado em setembro, e os frutos que havia
de amadurecer o tempo, sazonados na razão! Quem podia fazer outono dos frutos a
primavera das flores, senão a esposa querida de Cristo: Flores apparuerunt in
terra nostra, tempus putationis advenit [17]? — Assim obedecem os tempos, onde
assim domina a razão. Que já o mundo e a vida não saibam enganar! Que vejamos
tantos desenganos da vida em tão poucos anos de vida! Que é isto? É que fez a
razão o que havia de fazer o tempo. Seguirem-se aos anos os desenganos, é fazer
o tempo o que faz o tempo; mas anteciparem-se os desenganos aos anos, é fazer a
razão o que o tempo havia de fazer. Queixava-se Marco Túlio que, sendo os
homens racionais, pudesse mais com eles o discurso do tempo que o discurso da
razão. Mas hoje vemos o discurso da razão mais poderoso que o discurso do
tempo. Que não bastassem noventa anos para dar siso a Heli, e que bastem
dezoito anos para fazer sisudo a Samuel (1 Rs. 3)? Ó que grande vitória da
razão contra a sem-razão do tempo! Uma velhice enganada é a maior sem-razão do
tempo; uma mocidade desenganada é a maior vitória da razão. Que não corte os
cabelos Sara, depois de pentear desenganos, e que os cabelos de Absalão, na
idade de ouro, sintam os rigores do fogo (2 Rs. 14)! Que enxugue a Madalena as
lágrimas dos pés de Cristo com os cabelos, mas que os não corte, e que haja
outra Maria que ponha aos pés de Cristo os cabelos cortados com os olhos
enxutos (Lc. 7)! Que Jacó, na primavera dos anos, enterre a sua Raquel, é
inconstância da vida (Gên. 35); mas que Raquel, na primavera da vida, se
sepulte a si mesma! Grande valor da razão. Dar a vida a Deus quando ele a tira
é dissimular a violência: entregar-lha quando ele a dá é sacrificar a vontade.
Quem dedica a Deus os últimos anos faz
cristão o temer da morte: quem lhe consagra os primeiros faz religioso o amor
da vida.
As batalhas da razão com os
anos é uma guerra em que resistem mais os poucos que os muitos. Deixarem-se
vencer da razão os muitos anos, não é muito; mas deixarem-se vencer e convencer
os poucos, grande poder da razão! E mais, se considerarmos a resistência
favorecida do sítio. Poucos anos, e nas montanhas — como eram os do Batista —
não é tanto que se não defendam à força da
razão; mas poucos anos, e em palácio, convencidos e desenganados! Grão
vitória! Ofereceu el-rei Davi a Bercelai um grande lugar no paço, e ele, que
era já de oitenta anos, que responderia? Octogenarius sum hodie: non indigeo
hac vicissitudine [18]: Respondeu que assaz tinha aprendido em tantos anos a
desenganar-se das cortes: que o deixasse o rei viver retirado consigo, e tratar
da sepultura; porém, que aceitava o lugar para um seu filho que tinha, de pouca
idade. Est.servosç tuus Chamaam, ipse vadat tecum [19]. –Parece que se implica
nesta ação o amor de pai, mas explica-se bem o engano do mundo. Desenganaram a
Bercelai os muitos anos próprios, para não querer o paço para si, e
enganaram-no os poucos anos alheios, para querer o paço para o filho. Não sei
que tem o paço e os poucos anos que, ainda quando o conhecem os muitos, não se
atrevem a o deixar os poucos.Teve conhecimento para o deixar um velho: não teve
ânimo para o aconselhar a um moço. Sendo mais fácil de dar o conselho que o
exemplo, deu o exemplo ¬Bercelai, mas não se atreveu a dar o conselho. Antes,
parece que se substituiu o pai nos anos do filho, para lograr na mocidade
alheia o que na própria velhice não
podia. E que não havendo valor na velhice, para deixarem totalmente o
mundo ainda aqueles a quem o mundo deixa, que haja resolução na mocidade para
meter o mundo debaixo dos pés quem o mundo trazia na cabeça! Ó que bem se
desafronta hoje a natureza humana! Lá dizia S. Paulo: Mihi mundos crucifixos
est,et ego mundo [20] : O mundo está crucificado em mim, e eu estou crucificado
no mundo. — Se o mundo estava crucificado em Paulo, tinha o mundo viradas as
costas para Paulo; se Paulo estava crucificado no mundo, tinha Paulo viradas as
costas para o mundo. E que dê eu as costas ao mundo quando o mundo me vira as
costas, não é muito; mas que, quando o mundo me mostra bom rosto dê eu de rosto
ao mundo, esta é a valentia maior. Que quando o mundo se ri de vós, vós choreis
por ele, ó fraqueza! Mas que quando o mundo se ri para vós, vós vos riais dele,
ó valentia!
É tão grande valentia esta
que, sendo própria das forças da razão, não fiou S. Paulo crédito dela, senão
dos poderes do tempo. Fala S. Paulo de Moisés, e diz assim: Moyses grandis
factos negavit se esse filium filiae Pharaonis, coagis eligens affligi cum
populo Dei, etc.[21] : Moisés, depois que foi de maior idade, deixou o paço de
el-rei Faraó, deixou a princesa, deixou quanto ali possuía e esperava,
escolhendo o viver pobre e sem liberdade com o povo de Deus no cativeiro do
Egito. O em que reparo aqui é no grandis factos: que fez isto Moisés depois de
ser de maior idade. E a que vem agora aqui a idade? S. Paulo tratava da
resolução, e não dos anos de Moisés. Pois, se a resolução estava no ânimo, e
não nos anos por que diz que era de maior idade Moisés quando deixou o paço, e
se cativou por Deus? Direi: Moisés criara-se no paço de el-rei Faraó desde
menino; era todo o mimo e favor da
princesa do Egito, que o adotara por filho, e como tal era servido, e venerado
com autoridade e magnificência real. E deixar Moisés a grandeza e regalo do
paço, deixar o amor de uma princesa, deixar a cercania de uma coroa,
pareceu-lhe a S. Paulo, que não era façanha crível em poucos anos: por isso
ajuntou a resolução com a idade, para que a idade desse crédito à resolução:
Moyses grandis factus. Como se dissera: Ninguém duvide esta galharda ação de
Moisés, porque, quando a fez, era já de maior idade, bem cabia nos seus anos. —
Ora seja embora a resolução de Moisés vitória do tempo, que a grande ação que
nós celebramos hoje, com ser tão parecida em tudo o mais, não se pode gloriar
dela o tempo, senão a razão. Obrou aqui a força da razão o que lá fez o poder
do tempo: Elisabeth impletum est tempus.
§ III
Se o que sucedeu foi nascer
o Batista, como diz o evangelista que o que soou foi que engrandecera Deus na
misericórdia? Que dependência tinham os crescimentos de Deus das diminuições do
Batista? Deus e o mundo nos sonhos de Nabucodonosor. A estátua de Nabuco e
gigante Golfas. Por que Cristo chamou os apóstolos quando lançaram as redes, e
não quando as recolhiam? Grandezas e pouquidades das coisas do mundo. Os vinte
e quatro anciãos do Apocalipse e a grandeza de Deus. A circuncisão do Batista e
o sacrifício da cruz. A penitência dos inocentes e os sinais do dia do Juízo.
As peles de que Deus vestiu a Adão e as peles de que vestiu a Abel. A inocência
do justo, a penitência do pecador e a penitência do inocente.
Et audierunt vicini et
cognati ejus guia magnificavit Deus misericordiam suam cum illa [22] . — Tanto
que nasceu S. João — diz o evangelista — soou logo pelo lugar, que engrandecera
Deus sua misericórdia com Santa Isabel: Quia magnificavit Deus misericordiam
suam. — Notável dizer! Parece ¬que não está boa a conseqüência do texto. O que
soou pelo lugar havia de ser o que sucedeu em casa de Zacarias. Suceder uma
coisa e soar outra, isso acontece nas cortes lisonjeiras e maliciosas, e não
nas montanhas simples. O nosso Evangelho o diz: Divulgabantur omnia verba haec:
que o que se divulgava era o mesmo que sucedia. — Pois, se o que sucedeu foi
nascer o Batista: Elisabeth peperit filium — como diz o evangelista que o que
soou foi que engrandecera Deus sua misericórdia: Et audierunt guia magnificavit
Deus misericordiam suam? — Grande louvor do Batista! Quando as vozes diziam, em
casa de Zacarias, que nascera João, repetiam os ecos nas montanhas que Deus
engrandecera sua misericórdia, porque quando João sai ao mundo, aumentam-se os
atributos a Deus; quando João nasce, Deus cresce. Não é arrojamento, senão
verdade muito chá. Disse-o o mesmo S. João, e mais falava em seus louvores com
grande modéstia: Illum oportet crescere, me autem minui (Jo. 3): Importa que
ele cresça e que eu diminua. — Aquele ele não se refere menos que ao Verbo
humanado. Pois, como assim? Deus, ainda enquanto humano, não pode crescer; como
logo diz S. João: Illum oportet crescere: Importa que ele cresça? — E, dado que
pudesse crescer, que dependência tinham os crescimentos de Deus das diminuições
do Batista? Deus é grande, sem depender
de ninguém. Como diz logo: Illum oportet crescere, me autem minui: Importa
crescer ele, e diminuir eu? É possível crescer Deus? E é possível que o seu
crescer dependa do Batista? Sim, porque ainda que Deus, por ser infinito, não
pode crescer em si mesmo, por ser limitado o conhecimento humano pode crescer
na nossa estimação. E na estimação dos
homens, nem Deus podia crescer sem diminuir o Batista, nem o Batista
podia diminuir sem Deus crescer. Ora, vede como. O conceito que os homens
faziam de Deus antigamente era tal que quando o Batista apareceu no mundo
assentaram que ele era Deus. Conforme esta resolução, lhe foram oferecer
adorações ao deserto, onde o mesmo S. João os desenganou (Mt. 11). E como o
Batista e Deus, na opinião dos homens, eram iguais, tanto que por seu
testemunho se desfez esta opinião, necessariamente cresceu Deus, e o Batista
diminuiu. Di-minuiu o Batista, porque ficou menor que Deus; cresceu Deus,
porque ficou maior que o Batista. De sorte que, depois que o Batista veio ao
mundo, ficou Deus para com os homens maior do que dantes era: porque dantes era
como o Batista, depois começou a ser maior que ele. Donde se infere, em grande
louvor deste grande santo, que a medida do Batista é ser menor que Deus, e a
medida de Deus é ser maior que o Batista. Não tenho menos abonado fiador que
Santo Agostinho: Quisquis Joanne plus est, non tantum homo, sed Deus est:
Sabeis quem é João? É menor que Deus. Sabeis quem é Deus? É maior que João. Com
esta diferença, porém, que enquanto S. João o não disse, eram iguais; depois
que o testemunhou, começou Deus a ser maior. — Que muito, logo, que cresça Deus
nos seus atributos, quando S. João nasce no mundo! Et audierunt guia
magnificavit Deus misericordiam suam.
Desta maneira cresceu Deus
naquele tempo, e também eu hoje, se a consideração me não engana, o vejo muito
crescido. Então cresceu nas minguantes de João, hoje cresce nas minguantes do
mundo. Apareceu-lhe a Nabucodonosor aquela tão repetida e tão prodigiosa
estátua, e viu o rei que, tocando-lhe uma pedra nos pés de barro, a estátua se
diminuiu a poucas cinzas, e a pedra cresceu a grandeza de uni monte: Factus est
mons magnus, et replevit torram [23] —
Para entender esta figura, que é enigmática, saibamos quem era a pedra, e quem
a estátua. Em sentido de Santo Ambrósio e Santo Agostinho, a estátua era o
mundo, a pedra era Deus. Pois, se a pedra é Deus, como cresce a pedra? Deus
pode crescer? E se a estátua é o mundo, como diminui a estátua? O mundo
diminui-se? Tudo são efeitos da estimação dos homens. Segundo a estimação que
fazemos de Deus e do mundo, ou cresce a estátua e diminui a pedra, ou cresce a
pedra e diminui a estátua. Se pomos a Deus aos pés do mundo, cresce o mundo e
diminui Deus; se pomos o mundo aos pés de Deus, cresce Deus e diminui o mundo.
Deixar a Deus por amor dos nadas do mundo é fazer a Deus menor que nada; mas
deixar o tudo do mundo por amor de Deus é fazer a Deus maior que tudo: Accedet
humo ad cor altum, et exaltabitur Deus [24] . — Bendito seja ele, que de
quantas vezes vemos a Deus tão pequeno e tão apoucado nas cortes dos reis, o
vemos hoje tão grande e tão crescido! Tão crescido e tão acrescentado está hoje
Deus em sua grandeza, quantas são as grandezas do mundo que vemos a seus pés
arrojadas. A estátua de Nabuco, na estatura representava grandezas, na matéria
riquezas, na significação estados; e tudo isto, abrasado em fogo do coração, se
rende hoje em cinzas aos pés de Cristo. Ninguém melhor sacrifica a Deus o mundo
que quem lho oferece em estátua, porque o mundo em estátua é muito maior que em
si mesmo. Para derrubar com uma pedra ao Golias bastou a funda de Davi; para
derrubar com outra pedra a estátua de Nabuco, foram necessários impulsos —
posto que invisíveis — do braço de Deus.
O Golias tinha de altura seis côvados, a estátua tinha sessenta, que nas
grandezas mais pomposas do mundo sempre são maiores os gigantes que estátuas.
Nunca as máquinas vivas igualam a medida das sonhadas. Sonha a fantasia,
promete a esperança, profetiza o desejo, representa a imaginação, e ainda que a
soltura destes sonhos, o cumprimento destas promessas, o prazo destas
profecias, a verdade destas representações nunca chegam, mais triunfa o amor
divino, quando pisa o fantástico que o verdadeiro, o esperado que o possuído.
Deixar antes de possuir é usura de merecer, porque quem mais dá mais merece, e
quem dá os bens na esperança, dá-os onde são maiores. A melhor parte dos bens
desta vida é o esperar por eles; logo, mais faz quem se inabilita para os
esperar que quem se priva de os possuir. Por isso Cristo chamou os príncipes
dos apóstolos quando lançavam as redes, e não quando as recolhiam: Mittentes
rete in mare [25] — porque mais faz quem
deixa as redes lançadas que quem deixa os lanços recolhidos. As redes quando se
lançam levam em cada malha uma esperança; os lanços quando se recolhem trazem
muita rede vazia.
Oh! quantas e quão bem
fundadas as esperanças, oh! quantas e quão bem entendidas grandezas honram hoje
em piedoso sacrifício os altares de Cristo! Dizia S. Paulo aos Romanos que
ninguém pode dar a Deus senão o que Deus lhe der primeiro (Rom. 1). Mas eu vejo
hoje um espírito tão engenhosamente liberal, que, havendo recebido de Deus
tanto, ainda lhe oferece mais do que Deus lhe deu. Não há dúvida que, dos bens
temporais, mais liberal é o mundo em suas promessas que Deus em suas
liberalidades. Não costuma Deus dar tanto, quanto o mundo costuma prometer. Bem
se segue, logo, que mais dá a Deus quem lhe dá as promessas do mundo, que quem
lhe torna as dádivas suas. Se dais a Deus o que Deus vos dá, dareis muito; mas
se dais a Deus o que o mundo vos promete, dais muito mais. Ó quão liberal está
com Deus quem, dando-lhe as maiores grandezas, ainda busca artifícios de lhas
dar acrescentadas! E que artifício pode haver para acrescentar os bens e
grandezas do mundo? Eu o direi, que nos exemplos desta ação não se pode deixar
de aprender muito. Os bens e grandezas do mundo falsamente se chamam bens,
porque são males, e sem razão se chamam grandezas, porque são pouquidade. Pois,
que remédio para fazer das pouquidades grandezas, e dos males bens? O remédio é
deixá-los, e deixá-los em esperanças, porque esses que o mundo chama grandes
bens só são bens quando se deixam, só são grandes quando se esperam. A
esperança lhes dá a grandeza, o desprezo lhes dá a bondade desprezados são
bens, esperados são grandes. E assim, mais dá quem despreza o que espera que
quem dá o que possui. De umas e outras, de possuídas e de esperadas grandezas,
são despojos as cinzas que hoje se rendem aos soberanos impulsos daquela pedra
divina. Oh! como desaparece a estátua! Oh! como cresce o monte! De nossas
diminuições aumenta Deus suas grandezas, de nossos desprezos suas majestades.
Lá viu S. João no Apocalipse
aqueles vinte e quatro anciãos, que, tirando as coroas das cabeças, as lançavam
aos pés do trono de Deus: Mittentes coronas suas ante thronum [26]. — Tornou a
olhar o evangelista, e viu que Deus tinha muitas coroas na cabeça: Et in capite
ejus diademata multa [27]. — Pois, se as coroas se lançavam aos pés de Deus,
como tinha Deus as coroas sobre a cabeça? Porque tanto cresce Deus em sua
grandeza quanto desprezam os homens por seu amor. As coroas na cabeça de Deus
eram aumentos de sua grandeza, as coroas aos pés de Deus eram desprezos do amor
dos homens; e com as mesmas coroas que arrojava o desprezo humano se autorizava
a majestade divina, porque tanto cresce Deus nos aumentos de sua grandeza
quantas são as grandezas que põe aos pés de Deus nosso amor. Diga-se, logo, que
cresceu e se engrandeceu Deus hoje duplicadamente: uma vez medido com S. João,
outra vez medido com o mundo. Ser anteposto ao mundo, e ser preferido a João, é
crescer muito Deus em sua estimação e engrandecer-se muito em seus atributos:
Quia magnificavit Deus misericordiam suam.
[28] Et
venerunt circumcidere puerum (Lc. 1, 59): Vieram circuncidar o menino. — Suposto
que o menino era S. João, parece que o não haviam de circuncidar. A circuncisão
daquele tempo era o remédio do pecado original, como hoje o batismo. Pois, se
S. João estava já livre do pecado original, se estava em graça de Deus, e
santificado nas entranhas de sua mãe, por que se sujeita ao rigor da
circuncisão? Porque, ainda que a circuncisão não lhe tirava o pecado original,
de que estava livre, acrescentava-lhe a graça da justificação, com que nascera
santificado. É esta é nos servos de Deus a maior fineza da virtude:
sujeitarem-se a tomar, para aumento da graça, os rigores que Deus deixou para
remédio da culpa. A circuncisão nos outros homens era remédio da culpa, em S.
João era só aumento da graça: e sujeitar-se S. João, para maior graça, nas
isenções de inocente aos remédios de culpado: grande ação! Grande sacrifício!
Fala Zacarias à letra do maior sacrifício da lei da graça, o Santíssimo
Sacramento da Eucaristia, e diz assim: Quod bonum ejus, et quod pulchrum ejus,
nisi frumentum eloctorum, et vinum germinans virgines [29] ? Que coisa fez Deus
boa, que coisa fez Deus formosa neste mundo, senão o pão dos escolhidos e o
vinho dos castos? Que seja bem e boníssimo o sacrifício do corpo e sangue de
Cristo sacramentado, não haverá quem o negue; mas que diga o profeta que não há
outro tão bom como ele: Quod bonum ejus, et quod pulchrum ejus? — Não sei como
o havemos nós de conceder. E para que não vamos mais longe, o sacrifício do
corpo e sangue de Cristo na cruz não é tão bom como o sacrifício do corpo e sangue
de Cristo no Sacramento? É o mesmo substancialmente. Pois, por que diz Zacarias
que o sacrifício do corpo e sangue de Cristo no Sacramento é melhor que todos?
A razão da vantagem eu a darei. O sacrifício do corpo e sangue de Cristo na
cruz foi sacrifício para remédio de pecado; o sacrifício do corpo e sangue de
Cristo no Sacramento é sacrifício para aumento da graça. Ainda que em Cristo
não havia pecados próprios, nem merecia graça para si, tinha, contudo, tomado
por sua conta a satisfação de nossos pecados e os meios de nossa justificação.
E que sacrifique tanto Cristo na Eucaristia para aumento da graça, quanto
sacrificou na cruz para remédio da culpa! Que empenhe corpo e sangue para
aumentar merecimentos à inocência, como empenhou corpo e sangue para alcançar
perdão ao pecado! É circunstância de sacrifício tão relevante esta, que da
mesma identidade tira diferenças, e da mesma igualdade vantagens: Quod bonum
ejus, et quod pulchrum ejus? –Tal foi o ato da circuncisão do Batista,
comparada com a dos outros filhos de Adão. O corpo e sangue que os outros deram
ao golpe da circuncisão para remédio da culpa, deu-o S. João — que a não tinha
— só para aumento da graça: e que se sacrifique um inocente para crescer na
graça, ao que está sujeito o pecador para remediar a culpa! Grande ação do
Batista! Mas não foi sua só esta vez, nem sua somente.
[30]
Duas inocências temos hoje sujeitas aos remédios da culpa, ambas
condenadas ao rigor, ambas ao hábito da penitência, que tais injustiças como
estas sabe fazer o amor divino. Condena inocências como culpas, castiga
merecimentos como delitos. Que façam grande penitência os grandes pecadores, é
muito justo, que a penitência é remédio do pecado. Mas que o Batista se
desterre ao deserto, se condene ao cilício, se castigue com o jejum! Menino, em
que pecou vossa inocência? Um corpo delicado condenado a tanta aspereza! Uma
alma inocente castigada com tanto rigor! Se o Batista fora o maior pecador, que
havia de fazer senão isto? Mas isto fez, porque havia de ser o maior santo. Não
pode chegar a mais o mais fervoroso desejo da santidade, que sujeitar-se aos
remédios do pecado quem goza os privilégios da inocência. Encarece S. Paulo o
amor de Cristo para com os homens, e diz desta maneira aos coríntios: Qui
peccatum non noverat, pro nobis peccatum fecit [31] . — Amou o Filho de Deus
tanto aos homens que, não tendo conhecimento de pecado, se fez pecador por amor
deles. — Estranha sentença! Cristo não era inocentíssimo, antes a mesma
inocência? Por razão da união ao Verbo sua alma não era impecável? As mesmas
palavras o dizem: Qui peccatum non noverat. — Pois, como pode caber delito na
inocência? Como pode ser que o impecável se fizesse pecador: Pro nobis peccatum
fecit? — Respondo. O impecável não se pode fazer pecador de culpas, mas pode-se
fazer pecador de penas. Não pode cometer pecado quanto à culpa, mas pode-se
sujeitar à pena do pecado, como se o cometera. Isto é o que faz Cristo por amor
de nós, e isto é o que muito encarece S. Paulo em seu amor: Qui peccatum non
noverat, pro nobis peccatum fecit. — Não pode o amor chegar a maior extremo,
não se pode adelgaçara maior fineza, que a fazer-se pecador nas penas quem é
inocente nas culpas. Que o pecador de culpas se faça pecador de penas, busca na
penitência o remédio de seu pecado; mas fazer-se pecador de penas o inocente de
culpas, é buscar na penitência o desafogo de seu amor. A penitência no pecador
paga, no inocente obriga, naquele pelo que ofendeu, neste pelo que ama: vede
quais agradarão mais a Deus, se as satisfações de ofendido, se as obrigações de
amado?
Ó igualmente amado que
amante Senhor! Consenti os termos da igualdade, quanto entre divino e humano se
permite, pois vemos hoje as finezas de vosso amor competidas, como as dívidas
de nossa obrigação desempenhadas! Uma alma inocente de culpas, mas pecadora de
penas: uma inocência em hábito penitente vos oferece hoje a terra. Esposo do
céu, que estas são as cores de vosso pensamento, estas as galas de vosso amor,
estas as púrpuras do vosso reino. — Filiae Babylonis induuntur purpura et bysso
— dizia S. Bernardo em semelhante ação à virgem Sofia — et subinde, conscientia
pannosa jacet: fulgent monilibus,moribus sordent. E contra tu, foris pannosa,
intus speciosa resplendes, sed divi nis
aspectibus non humanis: intus est quod delectat, quia illtus est quem delectat.
– Nem a romancear me atrevo estas palavras, porque em tanta diferença de
eleições, ou se há de topar com o agravo ou com a lisonja. — E contra tu — só
isto quero repetir –foris pannosa, intus speciosa resplendes. — Pelo contrário
vós, ó Esposa de Cristo — diz S.
Bernardo — como dentro tendes a quem quereis agradar, por dentro trazeis as
galas: por fora vestida de saial, por dentro de resplendores: Foris pannosa,
intus speciosa resplendes. –Verdadeiramente que, quando reparo nestas palavras,
me parece que vejo já sinais do dia do Juízo. Um dos sinais do dia do Juízo
será — como diz S. João no Apocalipse — vestir-se o sol de cilício: Sol factus
est niger tanquam saccus cilicinus [32] . — E se já vemos vestido de cilício o
sol, se mortificadas suas luzes, se penitentes seus resplendores, debaixo da
aspereza de tão grosseiros eclipses, que havemos de dizer? Que se acaba o
mundo? Que é chegado o dia do Juízo? Com muita propriedade se pode dizer assim,
porque melhor merece o nome de dia do Juízo aquele em que o mundo se deixa que
aquele em que o mundo se acaba. Quanto mais que também se acaba o mundo para
quem acaba com ele. Como cada um de nós tem o seu mundo, o universal acaba com
todos, o particular acaba com cada um. E que muito que se vejam sinais do dia
do juízo em uma alma para quem hoje se acaba o mundo! Mas, perguntara eu ao sol
por que se veste de penitência? Por culpas? Não, que o fez inocente a natureza.
Pois, por quê? Para os olhos do mundo por luto, para os olhos de Deus por gala.
Veste-se de penitência o sol, sendo inocente, porque não há sacrifício mais
formoso aos olhos de Deus que uma inocência ilustre em hábito de
penitência.
Aquelas peles de que Deus
vestiu aos primeiros senhores do mundo estavam-lhe muito mal a Adão, mas
estavam lhe muito bem a Abel. A Adão estavam-lhe muito mal, porque eram hábito
de pecado com penitência, a Abel estavam-lhe muito bem, porque eram hábito de
penitência sem pecado: em Adão eram hábito de penitenciado, em Abel eram hábito
de penitente. Esta grande diferença há entre a penitência dos pecadores e a
penitência dos inocentes: que a penitência dos pecadores é remédio, a
penitência dos inocentes é virtude. Não quero dizer que os atos de penitência
no pecador e no inocente não sejam virtuosos sempre. Só digo que os pecadores
tomam a virtude da penitência pelo que tem de remédio, os inocentes tomam o
remédio da penitência pelo que tem de virtude. Donde se segue que a penitência
honra os pecadores, os inocentes honram a penitência. A penitência honra os
pecadores, por que lhes tira a afronta do pecado, os inocentes honram a
penitência porque lhe tiram a mistura de remédio. Ó ditoso Batista, ó ditosa
alma imitadora vossa: ambos em hábito de penitentes, e ambos honradores da
penitência! Ditosos vós, que fazeis troféus de vitória os instrumentos do
desagravo, e gozais a prerrogativa de penitentes, sem o desar de arrependidos!
Em vós é virtude o que nos outros é remédio, em vós eleição o que nos outros
necessidade. Só em vós não é remédio do pecado a penitência, sendo que só a
vossa penitência poderá ser remédio do pecado. Por que ofensas não merecidas,
quais são as de Deus, só se pagam com castigos não merecidos, quais são os dos
inocentes. O merecimento ofendido só o pode satisfazer a inocência castigada.
Oh! que grande sacrifício para Deus! Oh! que grande lisonja para o céu! Lá
disse Cristo que faz maior festa o céu ao pecador penitente que ao justo sem
penitência (Lc. 15). Pois, se a inocência do justo agrada muito e a penitência
do pecador agrada mais, quanto agradará aquele excelente estado, que abraça a
perfeição de ambos, e ajunta a penitência de pecador com a inocência de justo?
Isto é o que fez o Batista hoje na circuncisão, sujeitando isenções de
inocência a remédios de pecado: Et venerunt circumcidere puerum.
§ V
Por que não se há de chamar
Zacarias o filho de Zacarias? O gloriosíssimo nome de Gusmão, deixado por Soror
Maria da Cruz. O nome dos pais e o nome da Cruz na discrição mais que humana
dos anjos do sepulcro de Cristo. Por que Soror Maria não se havia de chamar da
Cruz, senão do Sacramento? A vantagem que leva em Cristo o amor que nos mostrou
no Sacramento ao amor que nos mostrou na cruz. O estado religioso e o
Sacramento do Altar.. A cela dos religiosos e a sepultura de Cristo.
Et vocabant eum nomine
patris sui Zachariam (Lc. 1, 59). — Feito o ato da circuncisão, tratou-se de
dar o nome ao menino, e queriam os circunstantes que se lhe pusesse o nome de
seu pai, e que se chamasse Zacarias. Ouviu isto Santa Isabel, e disse:
Nequaquam: Por nenhum caso; não se há de chamar assim. E por que razão? Por que
não se há de chamar Zacarias o filho de Zacarias? Não era nome santo? Não era
nome ilustre? Não era nome autorizado? Não era nome glorioso? Sim era, mas era
nome de pai: Vocabant eum nomine patris sui. — E o nome dos pais, quanto mais
ilustre, quanto mais glorioso, tanto menos o há de tomar quem professa servir a
Deus, como professava o Batista. No nome perpetua-se a memória dos pais, na
religião professa-se o esquecimento deles: Obliviscere populum tuum, et domum
patris tui [33]. — E como o Batista havia de ser como foi — primeiro fundador e
exemplar de religiosos, não quis
prudente Santa Isabel que tomasse o nome de Zacarias, porque não era
justo que conservasse a memória dos pais no nome quem professava o esquecimento
dos pais na vida. Quereis que se chame Zacarias, porque é nome de seu pai?
Alegais contra vós.Antes, porque é nome de seu pai se não há de chamar assim:
Vocabant eum nomine patris sui Zachariam. Et ait mater ejus: Nequaquam [34]. —
Que grandemente imitado, se bem em parte excedido, vemos hoje este exemplo do
grande Batista. S. Lucas, porque escrevia para a memória dos futuros, deteve-se
neste lugar em contar a genealogia dos pais de S. João; eu, que falo aos, olhos
dos presentes, não me é necessário deter-me em tão sabido, como também me não
fora possível, em tão grandioso assunto. Muito fez quem deixou o nome de
Zacarias autorizado assim com uma tiara, mas muito mais faz quem deixa o
gloriosíssimo nome de Gusmão — glorioso no céu e na terra — cujo real e
esclarecido sangue se teceu sempre nas púrpuras de fora a Europa, e hoje com
mais glória que em nenhum outro reino — posto que com igual majestade em tantos
— o vemos felizmente coroado, e veremos em imortal descendência no nosso de Portugal.
Este é o famosíssimo em todas as idades, o eminentíssimo em todas as pessoas, o
assinaladíssimo em todas as empresas, o celebradíssimo em todas as histórias,
nome de Gusmão, e este é o que hoje vemos deixado pelo humilde da Cruz. Não sei
se admire nesta eleição o virtuoso, se o discreto. Enfim, a virtude e o
entendimento, tudo me parece angélico.
Quando os anjos no sepulcro
de Cristo perguntaram às Marias o que buscavam, usaram de diferentes termos
–segundo diversos evangelistas. O anjo
de S. Mateus perguntou se buscavam a Jesus crucificado: Jesum, qui crucifixos
est, quaeritis [35] . — O anjo de S. Marcos perguntou se buscavam a Jesus
Nazareno crucificado: Jesum quaeritis Nazarenum, crucifixum [36] . — Pois, se o
anjo de S. Marcos chamou a Cristo Jesus Nazareno crucificado, por que razão o
anjo de S. Mateus lhe chamou Jesus crucificado somente, e não falou no
Nazareno? O melhor comentador dos evangelistas, o doutíssimo Maldonado, notou
advertidamente que o anjo de S. Mateus apareceu como anjo, e o anjo de S.
Marcos apareceu como homem: Mathaeus angelum, Marcos hominem appellat. — É do
texto. Porque S. Mateus diz assim: Angelus Domini descendi! de caelo, qui dixit
mulieribus (Mt. 28, 2, 5): — Um anjo do Senhor desceu do céu, que falou às
mulheres. — E S. Marcos diz assim: Intrantes monumentum, viderunt juvenem
sedentem (Mc. 16, 5): Entrando no sepulcro, viram um mancebo assentado. — E
como o que falou às Marias em S. Marcos, era homem, e em S. Mateus era anjo,
por isso o de S. Marcos chamou a Cristo Jesus Nazareno crucificado, e o de S. Mateus chamou-lhe
Jesus crucificado somente, e não falou no Nazareno. Ora, notai. Entre o
Nazareno e o crucificado havia esta diferença em Cristo: que o Nazareno era
nome dos pais, o crucificado era nome da Cruz; e antepor o nome de Nazareno ao
de crucificado, antepor o nome dos pais ao nome da Cruz, isso fazem os anjos
que são como homens; mas tomar o nome de crucificado, e calar o de Nazareno,
tomar o nome da Cruz, e deixar o nome dos pais, isso fazem os anjos que são como
anjos. O anjo de S. Marcos, que falou como homem da terra: Viderunt juvenem
sedentem — antepôs o nome dos pais ao nome da Cruz: Jesum quaeritis Nazarenum,
crucifixum. O anjo de S. Mateus, que falou como anjo do céu: Angelus Domini
descendide caelo — tomou o nome da Cruz, e deixou o nome dos pais: Jesum, qui
crucifixos est, quaeritis. — Oh! discrição mais que humana! Oh! eleição
verdadeiramente angélica! Sei eu que as Marias ouviram os anjos, mas nenhuma
delas aprendeu a mudar o nome. Maria Madalena não se chamou da Cruz, senão
Madalena; Maria Cleofé não se chamou da Cruz. senão Cleofé. Não souberam deixar
o nome dos pais e tomar o da Cruz aquelas Marias, porque estava este religioso
primor guardado para outra, que na devoção havia de vencer as Marias, e na
discrição igualar os anjos.
Mas, assim como em casa de
Zacarias se levantou questão sobre o nome do Batista, assim é bem que a
tenhamos hoje aqui sobre este nome da Cruz. Quem lá contradisse o nome de João
foram as pessoas mais autorizadas que assistiam à celebridade da festa: Qui
venerant celebritatis gratia: comenta o Cardeal Toledo. — Quem aqui impugnará o
nome da Cruz será também a pessoa mais autorizada que assiste à celebridade da
festa, que é, quem? Cristo Sacramentado. E assim como lá diziam que não se
havia de chamar João, senão Zacarias, assim cá diz Cristo que não se havia de
chamar da Cruz, senão do Sacramento. Não é imaginação sem fundamento minha, é
acomodação verdadeira, tirada, com toda a propriedade, do texto. O nome que lá
queriam dar ao Batista era Zacarias. E Zacarias, que quer dizer? Quer
dizermemoria Domini: a memória do Senhor. Isso mesmo é o Santíssimo Sacramento
da Eucaristia. É a memória do Senhor, que ele nos deixou por prendas em sua
ausência: Haec quotiescumque feceritis in mei memoriam facietis [37] . — Está
fundado. Agora pergunto eu: e que razão tem Cristo Sacramentado para dizer que
não quer que o nome seja da Cruz, senão do Sacramento? A razão é muito forçosa,
porque professar religião mais é sacramentar-se que crucificar-se. Todos os
santos comumente chamam Cruz ao estado religioso; mas, com licença sua, eu digo
que o estado religioso tem mais do Sacramento que da cruz. A razão em que me
fundo é esta. Porque na cruz morreu Cristo uma só vez, no Sacramento morre
todos os dias. O sacrifício da cruz foi cruento, mas foi único; o sacrifício do
altar é incruento, mas é quotidiano.
A maior fineza do amor é
morrer: Majorem cbaritatem nemo habet [38] . — Mas tem um grande desar esta
fineza, que quem a faz não pode fazer outra. É a maior fineza, mas é a última.
E como Cristo amava tão extremamente aos homens, e via que, morrendo na cruz,
se acabava a matéria a suas finezas, que fez? Inventou milagrosamente no Sacramento
um modo de morrer sem acabar, para, morrendo, poder dar a vida, e, não
acabando, poder repetir a morte. Esta é a vantagem que leva em Cristo o amor
que nos mostrou no Sacramento ao amor que nos mostrou na cruz. Na Cruz morreu
uma vez, no Sacramento morre cada dia; na cruz deu a vida, no Sacramento
perpetuou a morte. A Esposa, como quem melhor
as sabe avaliar, nos dirá a verdade desta fineza: Fortis est ut mors
dilectio, dura sicut infernus aemulatio [39] . — O amor, se é grande — que isso
quer dizer dilectio — é como a morte; e se é maior — que isso quer dizer
aemulatio — é como o inferno. Notável dizer! Por que razão compara Salomão o
amor grande à morte, e o amor maior ao inferno? Eu o direi. Entre a morte e o
inferno há esta diferença: que a morte tira a vida, o inferno perpetua a morte.
Por isso o amor grande se compara à morte, e o maior ao inferno, porque mais é
perpetuar a morte que tirar a vida: tirar a vida é morrer uma vez, perpetuar a
morte é estar morrendo sempre. Eis aqui a desigualdade do amor de Cristo na
Cruz e no Sacramento. Competiu o amor de Cristo no Sacramento e o amor de
Cristo na Cruz: o da cruz foi como o da morte, porque chegou a tirar a vida:
Fortis est ut mors dilectio –o do Sacramento foi como o inferno, porque passou
a perpetuar a morte: Dura sicut infernus aemulatio. — E muito mais foi
perpetuar a morte que tirar a vida, porque tirar a vida é morrer num instante,
perpetuar a morte é morrer toda a vida.
Eis aqui a razão porque o
estado religioso se parece mais com o Sacramento que com a Cruz. Na Cruz
morre-se uma só vez, no Sacramento morre-se cada dia. Sei que disse Santo
Agostinho que só os mártires pagam a Cristo a fineza que fez em se deixar no
Sacramento, porque morrem por quem morre por eles: Qui accedis ad mensam Principis
debes similia praeparare: hoc beati martyres fecerunt. –Mas esta razão de Santo
Agostinho — dê-nos licença o lume da Igreja impugna-se facilmente, porque
muitas mortes não se pagam com uma só morte: Cristo no Sacramento morre todos os dias, os mártires
morrem uma só vez: logo, não pagam os mártires a Cristo no Sacramento. Pois,
que diremos a isto? Digo que os mártires pagam a Cristo na Cruz, os religiosos
pagam a Cristo no Sacramento. Os mártires pagam a Cristo na Cruz, porque morrem
uma vez por quem uma vez morreu por eles; os religiosos pagam a Cristo no
Sacramento, porque morrem cada dia por quem morre por eles todos os dias. Há
quem o diga? Não é menos religioso que o exemplar de todos, S. Paulo: Quotidie
morior (1 Cor. 15, 31): Cada dia
morro. — De maneira que, assim como Cristo no Sacramento inventou um modo de
morrer sem acabar, para, morrendo, poder dar a vida, e, não acabando, poder
repetir a morte, assim os patriarcas das religiões — e melhor que todos o
Seráfico em seu divino instituto — parecendo-lhe pouco amor não morrer, e pouca
morte morrer uma só vez, acharam este modo milagrosamente natural de viver
morrendo, para na morte multiplicarem as entregas da vida, e na vida
perpetuarem os sacrifícios da morte.
Grande lugar do proto-patriarca
das religiões, S. Basílio. Fala o grande Basílio das celas das religiões mais
estreitas, e diz que a cela de uma alma religiosa êmula, é competidora da sepultura de Cristo:
O cella dominicae sepulturae aemula! — Pois, saibamos que qualidades tem uma
cela para tão nobre competência. Em que presunções se funda esta emulação? Que
se compare a cela a qualquer sepultura, justa semelhança, porque, onde o hábito
é uma mortalha, o leito um ataúde, as paredes tão estreitas e com tão pouca
luz, como estas que vemos, muito há de sepultura. Sepultura sim, mas sepultura não outra, senão
a de Cristo. Por que razão? Porque nas outras sepulturas mora só a morte; na
sepultura de Cristo morou a morte e mais a vida juntas. Na sepultura de Cristo
esteve a vida morta e a morte ressuscitada: e tais são as vossas celas, ó
religiosos espíritos:O cella dominicae sepulturae aemula, quae mortuos
suscipis, et reviviscere facis: Ó cela verdadeiramente imitadora da sepultura
de Cristo, pois está em ti a vida morta e a morte ressuscitada: a vida morta,
porque não tem usos a vida; a morte ressuscitada, porque tem alentos a morte. —
És uma suspensão gloriosa de morte e vida — se bem gloriosa com pena — onde,
posta a alma nas raias do viver e morrer, participa indecisamente o mais
rigoroso de ambas: insensível, como morta, para o gostoso da vida; sensitiva,
como viva, para o penoso da morte. Em ti se vê multiplicado o milagre natural
da fênix, sendo pátria e sepulcro quotidiano, onde se morre à vida e se nasce à
morte, faltando cinzas, mas não faltando incêndios. Em ti — e com maior
propriedade hoje — se vê verdadeira a metáfora dos horizontes, sendo oriente e
ocaso juntamente, onde o sol, no mesmo instante morto e nascido, ressuscita a
um hemisfério quando se sepulta a outro. Em ti, finalmente — com seres a melhor
parte do paraíso — se vê sem fingimento a fábula do inferno, sendo cada
religioso espírito um Tício em bem-aventurança de penas, que, não podendo
morrer para morrer mais vezes, tem morta a vida, e imortal a morte: Semperque
renascens non perit, ut possit saepe perire [40] . Não é muito que ache eu
comparações no inferno ao maior sacrifício, quando no inferno as buscou a alma
santa ao maior Sacramento. De um e outro se pode dizer com grande semelhança:
Dura sicut infernus aemulatio. — E como o sacrifício da Religião, por ser morte
perpetuada, se parece mais com o Sacramento que com a Cruz, sendo o ofício dos
nomes declarara essência das coisas; parece que quem professa religião não se
deve chamar da Cruz, senão do Sacramento:Et vocabant eum nomine patris sui
Zachariam, hoc est, memoriam Domini [41] .
§ VI
Por que se deve tomar o nome
da Cruz, e não o do Sacramento. Se no Sacramento não está corpo e sangue, senão
também alma e divindade, por que se não chama corpo e alma, sangue e divindade
de Cristo, senão corpo e sangue somente?
Contudo, responde Santa
Isabel: Nequaquam: por nenhum caso. - E com muita razão. Por quê? Pela mesma
que o persuade. Porque, se o nome do
Sacramento diz tudo o que há no estado religioso, e o nome da Cruz diz
menos, pelo mesmo caso se deve tomar o nome da Cruz e não o do Sacramento. Na
eleição dos nomes há uma grande diferença tomada dos fins por que se elegem: os
nomes que se tomam por verdade dizem tudo, os que se tomam por vaidade dizem mais,
os que se tomam por humildade dizem menos. E como a mesma humildade, que
desprezou a grandeza dos nomes paternos, foi a que fez a eleição do nome
religioso, por isso, com discreta
impropriedade, escolheu o nome diminutivo da Cruz, em que é mais o que se
cala que o que se diz. Como respondo a Cristo Sacramentado, com o mesmo nome do
Sacramento quero confirmar a resposta. O Sacramento do altar chama-se corpo e
sangue de Cristo. Esse nome lhe deu o mesmo Senhor: Hoc est corpus meum: hic
est calix sanguinis mei [42] . — Pergunto: E há no Sacramento mais alguma
coisa? Há alma e há divindade. Pois, se no Sacramento não só está corpo e
sangue, senão também alma e divindade, por que se não chama corpo e alma,
sangue e divindade de Cristo, senão corpo e sangue somente? Porque este nome
deu-o Cristo ao Sacramento na hora em que se quis mostrar mais humilde. A hora
em que Cristo se mostrou mais humilde foi a mesma em que instituiu o Sacramento
de seu corpo e sangue, dispondo aos apóstolos com a pureza do lavatório, e a si
com a humildade de lhes lavar os pés. E como Cristo pôs o nome a este mistério
com advertência de humildade, por isso declarou somente o menos que nele havia,
que os nomes que compõem a humildade sempre falam mais do que dizem. O que diz
é corpo e sangue, o que cala é alma e divindade. O mesmo passa no nosso caso,
que, ainda que se não tomou o nome ao Sacramento, seguiu-se-lhe o exemplo.
Deixa-se o nome do Sacramento porque diz mais, toma-se o nome da Cruz porque
diz menos, que se preza o verdadeiro amor do que é, e não do que significa.
Baste-lhe à religião ser Cruz ex vi verborum [43] , ainda que seja muito mais
per concomitantiam [44] . Tão justo, foi
logo deixar-se o nome de Zacarias quanto à significação como quanto à
realidade: Et ait mater ejus: Nequaquam.
§ VII
As queixas da vizinhança e
as queixas do parentesco. A queixa de Marta a Jesus. As queixas dos judeus ao
pé do Sinai. Se Moisés era homem, por que pediam um Deus em falta de Moisés? As
presenças que só por Deus se podem deixar, e as ausências que só com Deus se
podem suprir. Por que não deve estar queixosa a vizinhança? De que modo Deus se
agrada dos peregrinos? Conclusão. Por que chama o autor ao presente discurso
Sermão das Vitórias do Impossível.
Acabou-se-nos o tema, e se
me não engano tenho ponderado todas as cláusulas dele, com alguma semelhança às
obrigações deste dia. Mas também vejo que reparariam os mais curiosos, em que
passei em silêncio aquelas palavras Audierunt vicini et cognati, et
congratulabantur ei [45] . — Confesso que não falei nestas palavras, e também
confesso que as deixei, porque não achei nelas semelhança, senão muita
diferença do nosso intento: Cognati et vicini congratulabantur ei. — Lá, no
nascimento do Batista, diz o Evangelho que os parentes e os vizinhos estavam
muito contentes e agradecidos; porém cá não é assim. Tão fora estão de poderem
estar contentes os vizinhos e os parentes, que antes o parentesco e a
vizinhança têm razão de estar queixosos. Tem razão o parentesco de estar
queixoso, porque se vê a si deixado: tem razão a vizinhança de estar queixosa,
porque vê os estranhos preferidos. Quando o sangue se vê deixado, por que não
há de estar queixoso o parentesco? E quando as estrangeiras se vêem preferidas
às naturais, por que não há de estar queixosa a vizinhança? Não se diga logo
aqui: Cognati et vicini congratulabantur ei. — Acudo a estas duas queixas, e
acabo.
Primeiramente digo que não
tem razão o parentesco de estar queixoso, porque, quando as obrigações do
sangue se deixam por amor de Deus, não é fazer ofensa, é fazer lisonja ao
parentesco. Da parte de quem é deixado é sacrifício, mas da parte de quem deixa
é lisonja. Tudo provo. Hospedou Marta a Cristo em sua casa, e tinha esta
senhora uma irmã, a quem o texto chama sóror Maria: Et huic erat soror nomine
Maria [46] — a qual se retirou com
Cristo, e assentada humilde a seus pés, o estava ouvindo e contemplando. Chegou
Marta ao Senhor, e disse-lhe: Domine, non est tibi cume quod soror mea reliquit
me solam ministrare (Lc. 10, 40)? E bem, Senhor, tanto vos descuidais de mim,
que não vedes que minha irmã me deixou só? — Esta foi a história; duas são as
minhas ponderações. Digo que Marta, na queixa que fez de Maria, ofereceu um
grande sacrifício a Cristo, e Maria, na ocasião que deu à queixa, deu uma
grande satisfação a Marta.
Dificulto assim. Cristo não
foi o que chamou a Maria: Maria foi a que se assentou a seus pés sagrados.
Pois, se a ocasião, justa ou injusta, da queixa a deu Maria, e não Cristo, por que propõe Marta
a sua queixa a Cristo, e não a Maria? Porque Marta nesta ação não pretendeu
tanto dar queixas de Maria, quanto oferecer sacrifícios a Cristo. Como se
dissera Marta: — Não cuideis, Senhor, que só Maria é a que faz as finezas, que
eu também vos ofereço as minhas. Maria sacrifica sua devoção, eu sacrifico
minha soledade: Reliquit me solam ministrare. — Ela oferece-vos o estar
convosco, eu ofereço-vos o estar sem ela. De sorte que em uma ação havia ali
dois sacrifícios: um de Maria, porque se fora para Cristo, outro de Marta,
porque a deixara Maria. Mas destes dois sacrifícios, qual é maior: o de Maria
ou o de Marta? Eu não me atrevo a dar sentença nesta causa. Só digo que, se
neste lugar pregara S. Pedro Crisólogo, havia de dizer que o sacrifício de
Marta era maior que o de Maria. Pergunta S. Pedro Crisólogo quem fez mais, se
Abraão em sacrificar a Isac, se Isac em se oferecer ao sacrifício (Gên. 22)?
Resolve que Abraão, e verdadeiramente tem a Escritura por sua parte. Pois, se
Isac era a vítima, que havia de ficar morto, se Abraão era o sacerdote, que havia
de ficar vivo, como era ou como podia ser que o sacrifício fosse maior em
Abraão que em Isac? A razão é esta: porque Isac sacrificava a sua pessoa,
Abraão sacrificava a sua soledade, Isac oferecia-se a ficar sem vida, Abraão
oferecia-se a ficar sem Isac. E, segundo o muito que Abraão amava aquele filho,
maior sacrifício fazia em o dar a ele, que ele em se dar a si. Bem digo eu logo
que foi grande sacrifício o que Marta ofereceu a Cristo entre suas queixas,
pois lhe sacrificou não menos que a soledade de Maria: Reliquit me solam
ministrare.
E que Maria, na mesma
ocasião que deu à queixa, deu uma grande satisfação a Marta, não há dúvida. Por
quê? Porque deixar Maria a Marta, não por amor de outrem, senão por estar com
Cristo, foi dizer-lhe claramente que fazia tão grande estimação de sua companhia que só por Deus a pudera
deixar, e só com Deus a podia suprir, Vendo os filhos de Israel que havia
quarenta dias que faltava Moisés, por estar fechado com Deus, determinaram
abalar do pé do monte, e ir-se. Foram-se ter com Arão, e disseram assim: Fac
nobis deos, qui nos praecedant;Moysi enim huic viro nescimus quid acciderit
(Êx. 32, 1): Arão, fazei-nos um Deus que nos acompanhe, porque não sabemos que
feito é deste homem Moisés. — Linda conseqüência por certo! Dai cá um Deus,
porque falta Moisés. Moisés não era homem? Eles mesmos o diziam: Moysi enim
huic viro. — Pois, se Moisés era homem, por que pediam um Deus em falta de
Moisés? Porque há presenças que só por Deus se podem deixar, e há ausências que
só com Deus se podem suprir, Como os hebreus armavam tanto ao seu Moisés, e se
viam forçados a o deixar, faziam este discurso: já que se há de deixar Moisés,
só por um Deus se há de deixar; e já que se há de suprir com outrem o seu
lugar, só com um Deus se há de suprir. — Por isso pediam a Arão um Deus, e não
outro substituto daquela ausência: Fac nobis deos, qui nos praecedant. — Esta
satisfação deram os israelitas a Moisés quando o queriam deixar, e esta foi a
satisfação que deu Maria a sua irmã quando a deixou. Deixou de estar com ela;
mas por estar com Deus: Quae etiam sedens secus pedes Domini [47] . — Não tem
logo razão o parentesco hoje de se mostrar sentido ou queixoso, senão contente
e agradecido: Cognati congratulabantur ei.
Et audierunt vicini. Também
se não deve queixar a vizinhança de ver as estrangeiras preferidas às naturais.
E por quê? Porque uma alma que por mais servir a Deus quis ajuntar a clausura
com a peregrinação, necessariamente houve de deixar os naturais e buscar os
estrangeiros. Uma das coisas que muito agradou sempre a Deus em seus servos foi
a peregrinação. Por isso mandou a Abraão que saísse peregrino de sua pátria;
por isso quis que peregrinasse Jacó em Mesopotâmia, José no Egito, e ao mesmo
povo querido de Israel, porque o escolheu para si, o fez peregrinar inteiro
tantas vezes e por tantos anos (Gên. cap. 12, 29, 39). E como Deus se agrada
tanto dos peregrinos — que também o quis ser neste mundo — que faria uma alma
desejosa de agradar muito a Deus, vendo-se obrigada à clausura pelo seu estado,
e inclinada à peregrinação pelo gosto divino? Peregrinação e clausura não podem
estar juntas: pois, que remédio? O remédio foi, entrando em religião, escolher
um mosteiro de estrangeiras, para que viesse desta maneira a achar juntas a
clausura e a peregrinação: a clausura no lugar, a peregrinação na companhia.
Quem cuidaria que era possível estar juntamente em Portugal, e peregrinar em
Flandres? Pois, isto é o que vemos hoje com nossos olhos.
Fala Davi da peregrinação
dos filhos de Israel para Palestina, e diz assim: Cum exiret de terra Aegypti,
linguam quam non noverat audivit (SI. 80, 6):
Quando o povo saiu do Egito, ouviu a língua que não entendia. —
Particular modo de reparar! Se Davi ponderava a peregrinação dos israelitas,
parece que havia de dizer que passaram climas incógnitos, que caminharam
terras desconhecidas. Pois, por que não
repara nas terras, senão nas línguas? Por que não diz que andaram por terras
estranhas, senão que ouviram línguas estrangeiras? Porque julgou discretamente
o profeta que a formalidade da peregrinação não consistia tanto na mudança dos
lugares, quanto na diferença das línguas. Não está o ser peregrino na
estranheza das terras que se caminham, senão na estranheza da gente com que se
trata: Cum exiret de
terra Aegypti, linguam quam non noverat audivit. — Sair do Egito para onde se
ouve outra língua, isso é peregrinar. E se é verdadeiro peregrinar o viver
entre gente de língua estranha, bem digo eu que se viram aqui juntas
milagrosamente a clausura e a peregrinação: a clausura no lugar, a peregrinação
na companhia. Não deve logo de estar queixosa a vizinhança, posto que a queixa
parecia justificada; antes, têm obrigação as religiosas portuguesas de se
edificarem e alegrarem muito de verem — sobre um tão grande exemplo — um tão
novo e particular espírito na profissão de seu estado, trocando as aparências
do sentimento em motivos de parabéns: Vicini congratulabantur ei.
Temos acabado o sermão, e
com ele as vitórias do impossível, que assim se chama. Dou-lhe este nome, não
só por ser sermão do nascimento do Batista, com o qual provou o anjo que nada
era impossível a Deus: Quia non erit impossibile apud Deum omne verbum [48] —
senão por ser sermão desta profissão soleníssima que celebramos, na qual, sem haver
reparado, deixo provados seis impossíveis. No nascimento do Batista venceu-se
um impossível, que foi ajuntar se esterilidade com parto: Elisabeth peperit
filium. — No ato desta profissão venceram-se seis impossíveis, que foram os que
ordenadamente vimos em seis discursos. No primeiro, ajuntar-se a corte com o
deserto. No segundo, a mocidade com o
desengano. No terceiro, a grandeza com o desprezo. No quarto, a inocência com o
castigo. No quinto, a vida com a morte. No sexto, a clausura com a peregri¬nação.
E seis impossíveis vencidos na terra, que devem esperar senão seis coroas
ganhadas no céu? Dar-vos-á no céu, esposa sereníssima de Cristo, a corte com o
deserto uma coroa de solitária entre o coro dos eremitas. A mocidade com o
de se engano, uma coroa de prudente entre o coro dos doutores. A grandeza com o
desprezo, uma coroa de humildade entre o coro dos apóstolos. A inocência com o
castigo, uma coroa de penitência entre o coro dos confessores. A vida com a
mor¬te, uma coroa de mortificada entre o coro dos mártires. A clausura com a
peregrinação, uma coroa de peregrina entre o coro das virgens. Assim triunfa
quem assim vence, assim alcança quem assim merece, assim goza quem assim
trabalha, assim reina quem assim serve: nesta vida a Deus por graça, na outra
vida com Deus por glória: Quam mihi, et vobis, etc.
FINIS
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