25 de novembro de 2017

O DISCURSO FINAL DE CHARLES CHAPLIN, NO FILME O GRANDE DITADOR.

 
 
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O DISCURSO FINAL DE CHARLES CHAPLIN,
NO FILME "THE GREAT DICTATOR"
(O GRANDE DITADOR) 1940.
 
Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador. Não é esse o meu ofício. Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja. Gostaria de ajudar a todos - se possível - Judeus, o Gentio, Negros, Brancos. Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim.
Desejamos viver para a felicidade do próximo - não para o seu infortúnio. Por que havemos de odiar ou desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover todas as nossas necessidades.
O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma dos homens, levantou no mundo as muralhas do ódio e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, insensíveis e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.
A aviação e o rádio aproximaram-nos muito mais. A próxima natureza dessas coisas é um pelo eloquente à bondade do homem... Um apelo à fraternidade universal à união de todos nós. Neste mesmo instante a minha voz chega a milhões de pessoas pelo mundo afora, milhões de desesperados, homens, mulheres, criancinhas, vítimas de um sistema que tortura seres humanos e encarcera inocentes.
Aos que me podem ouvir eu digo: - Não desespereis! A desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que o produto da cobiça em agonia, da amargura de homens que temem o avanço do progresso humano. Os homens que odeiam desaparecerão, os ditadores sucumbem e o poder que do povo arrebataram há de retornar ao povo. E assim, enquanto morrem homens, a liberdade nunca perecerá.
Soldados! Não vos entregueis a esses brutais, que vos desprezam, que vos escravizam que arregimentam as vossas vidas, que ditam os vossos atos, as vossas ideias e os vossos sentimentos! Que vos fazem marchar no mesmo passo, que vos submetem a uma alimentação regrada, que vos tratam como um gado humano e que vos utilizam como carne para canhão!
Não sois máquina! Homens é que sois! E com o amor da humanidade em vossas almas! Não odieis! Só odeiam os que não se fazem amar, os que não se fazem amar e os inumanos.
 
Soldados! Não batalheis pela escravidão! Lutai pela liberdade! No décimo sétimo capítulo de São Lucas é escrito que o Reino de Deus está dentro do homem - não de um só homem ou um grupo de homens, mas dos homens todos! Está em vós! Vós, o povo, tendes o poder - o poder de criar máquinas. O poder de criar felicidade! Vós, o povo, tendes o poder de tornar esta vida livre e bela de fazê-la uma aventura maravilhosa. Portanto - em nome da democracia - usemos desse poder, unamo-nos todos nós. Lutemos por um mundo novo, um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice.
É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder. Mas, só mistificam! Não cumprem o que prometem. Jamais o cumprirão! Os ditadores liberam-se, porém escravizam o povo. Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência. Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam à ventura de todos nós. Soldados, em nome da democracia, unamo-nos. - Hannah, estás me ouvindo? Onde te encontres, levanta os olhos! Vês, Hannah?! O sol vai rompendo as nuvens que se dispersam! Estamos saindo da treva para a luz! Vamos entrando num mundo novo - um mundo melhor, em que os homens estarão acima da cobiça, do ódio e da brutalidade. Ergue os olhos, Hannah! A alma do homem ganhou asas e afinal começa a voar. Voa para o arco-íris, para a luz da esperança. Ergue os olhos, Hannah! Ergue os olhos!  -  Charles Chaplin.
 


 

 
Charles Spencer Chaplin Jr. nasceu em Londres em 16 de abril de 1889. Seus pais eram artistas e separaram-se logo após o seu nascimento. Chaplin viveu seus primeiros anos na companhia da mãe e de seu meio-irmão Sydney. Mas a instabilidade mental de sua mãe a levou a perder o emprego e mais tarde a ser internada em um asilo. Nessa fase, Chaplin e o irmão acabaram passando algum tempo em escolas para crianças desamparadas, como que numa versão real dos contos de Charles Dickens. O período de convivência com a mãe ensinou Chaplin a gostar do ramo de entretenimento. Aos oito anos de idade ele já fazia sua estreia como profissional ao se juntar à Eight Lancashire Lads, uma companhia de sapateado. Usando os contatos da mãe no mundo artístico, aos dez anos ele deixou a escola e passou a trabalhar como mímico e ajudante em vários grupos britânicos.

Foi provavelmente nesse período, de dificuldades e pobreza, que ele buscou elementos para desenvolver as características e o visual de Carlitos. Nessa fase, seu talento começou a se destacar. O trabalho na trupe de mímicos de Fred Karno, com a interpretação de um personagem simplesmente conhecido como “o bêbado”, na peça “A Night in an English Music Hall”, durante uma excursão nos Estados Unidos, chamou a atenção de um produtor cinematográfico. Com a ida de Chaplin para o cinema começou a nascer um dos mais importantes personagens da sétima arte.

Em 1913, Charlie Chaplin assinou seu primeiro contrato no cinema com o Estúdio Keystone. Contratado para atuar nas comédias dirigidas por Mack Sennet, fundador do estúdio, Chaplin fez sua primeira aparição nas telas no filme “Making a Living”, lançado em 1914, com um personagem que não lhe permitiu mostrar todo seu talento.
 
Na produção seguinte, “Kid Auto Races at Venice”, Sennet dá a liberdade a Chaplin para que ele improvise e desenvolva as características do personagem. Ele então constrói uma espécie de alter-ego, com um visual que se tornaria imortal, com seus sapatos gastos e frouxos, casaco demasiado apertado, calças folgadas e um chapéu fora de moda. Nascia um simpático andarilho pobretão que se tornaria um dos maiores sucessos da história do cinema. O personagem criado por Chaplin, no entanto, nem sempre atuou como um desocupado. Ele assumiu o papel de garçom, balconista, bombeiro. Mas em qualquer situação, ele sempre era essencialmente um perdedor e um sobrevivente. Sem sorte no amor, metido a ser especialista em tudo e rejeitado pela sociedade, Carlitos conquistava a audiência com seu descaramento, seu improvável heroísmo, seu desprezo pela ostentação e sua perseverança frente às adversidades.

Ao enfrentar um mundo que lhe é sempre hostil, Carlitos mostra-se mais divertido ainda quando está amedrontado, em seus esforços para tentar pacificar as situações ou ajudar pessoas que se sentem mais fracas ou amedrontadas do que ele próprio. Muitos biógrafos acreditam que essas características encontradas em Carlitos têm suas raízes na infância pobre e difícil de Chaplin. Apesar de atuar em 35 comédias produzidas pelo Estúdio Keystone, entre 1914 e 1915, o desenvolvimento completo de Carlitos só aconteceu quando Chaplin tornou-se também o diretor dos filmes. Após deixar o Keystone, em busca de ganhar mais dinheiro, Chaplin dirigiu e atuou em filmes que consagraram o personagem, como “O Vagabundo” (1915), “O Bombeiro” (1916) e “O Garoto” (1921), entre outros. Carlitos tornou Chaplin quase que imediatamente uma estrela internacional.
Em 1919, Chaplin juntou-se aos atores Mary Pickford e Douglas Fairbanks e ao diretor D. W. Griffith para fundar a United Artists, o primeiro estúdio e distribuidora de filmes constituída por artistas e que de forma independente propunha fazer frente aos grandes estúdios de Hollywood. Apesar de seu enorme sucesso como ator, diretor e produtor, Chaplin ficou bem preocupado e resistiu ao advento dos filmes sonoros. Somente uma década após a inovação, ele faria seus primeiros filmes no novo formato. Entre eles, clássicos como “Tempos Modernos” (1936) e “O Grande Ditador” (1940), ambos produzidos pela United Artists.
 
Fora das telas Chaplin teve uma vida conturbada nos relacionamentos amorosos e também em suas atividades políticas. Seus dois primeiros casamentos foram com adolescentes e terminaram em divórcio. Suas simpatias pelos movimentos de esquerda o fizeram ser alvo do macarthismo e quando viajou para Londres em 1952 para lançar o filme “Limelight” não pôde mais retornar aos Estados Unidos em função de não ter seu visto renovado.

Chaplin passou então a viver na Suíça e somente voltaria aos Estados Unidos em 1972 para receber um prêmio especial da Academia de Ciências e Artes Cinematográficas de Hollywood durante a cerimônia do
Oscar, quando foi aclamado e ovacionado durante 12 minutos. Em 1975 ele recebeu o título de cavaleiro da rainha Elizabeth 2.ª, da Inglaterra.

Charles Spencer Chaplin Jr. estava casado com Oona O’Neill, filha do dramaturgo norte-americano Eugene O’Neill, desde 1943, e com ela teve oito filhos. Junto da família, em seu exílio na Suiça, Chaplin morreu na noite de Natal de 1977, aos 88 anos de idade.
 

 
 
 
 
Pesquisado pelo Focus Portal Cultural do jornalista e escritor Alberto Araújo.
 

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